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Alguns dos países mais antivacina do mundo ficam na Europa

Na França, 1 em cada 3 pessoas não acha que vacinas são seguras. Já em Bangladesh, quase 98% das pessoas acreditam na segurança e eficácia das vacinas.

No mundo todo, 79% das pessoas acreditam que vacinas são seguras, segundo uma nova pesquisa que apresenta o panorama mais detalhado já feito quanto ao posicionamento das pessoas sobre a vacinação.

Mas as opiniões sobre a vacinação variam consideravelmente de um país para o outro, segundo a pesquisa, realizada com mais de 140 mil pessoas em mais de 140 países e financiada pelo Wellcome Trust, uma instituição de caridade londrina voltada para pesquisas médicas.

Um dos destaques da pesquisa foi Bangladesh, onde quase 98% das pessoas acreditam que vacinas são seguras e eficazes. Mas também há focos problemáticos, incluindo aí a França, onde 1 em cada 3 pessoas não acha que vacinas são seguras, e a Ucrânia, onde apenas cerca de metade da população acredita na eficácia das vacinas.

Ambos os países enfrentaram surtos de sarampo graves nos últimos anos. A França registrou 2.913 casos em 2018 e 964 até o momento neste ano, segundo os números mais recentes divulgados pela OMS. A Ucrânia registrou 42.874 casos até o fim de abril deste ano, após ter registrado 53.218 no ano passado.

A equipe do Wellcome Trust também perguntou às pessoas sobre o conhecimento científico que possuíam e o grau de confiança que tinham em cientistas, profissionais da saúde e instituições, incluindo o governo e a mídia. A pesquisa ofereceu uma nova percepção sobre o motivo pelo qual as pessoas de determinados países não confiam em vacinas – apesar de amplas evidências científicas demonstrarem sua segurança e eficácia.

“É a primeira vez que obtemos esse panorama global”, afirmou Imran Khan, diretor de engajamento público do Wellcome Trust, ao BuzzFeed News.

“Esta pesquisa emblemática mostra que compreender as pessoas e a sociedade é tão importante quanto entender os vírus e a imunologia”, declarou Jeremy Farrar, diretor do Wellcome Trust.

No geral, alguns dos países com uma maior grau de desconfiança em relação a vacinas estão na Europa.

Em países como França, Suíça e Áustria, o posicionamento parece ser muito polarizado entre aqueles que acham que vacinas são seguras e eficazes e aqueles que discordam disso. Mas na Ucrânia, em Belarus e outros países da Europa oriental onde há muita desconfiança para com a vacina, o principal problema parece ser um grande número de pessoas que não sabem no que acreditar – elas não possuem opinião formada sobre a segurança e eficácia das vacinas.

“Creio que esse grupo ainda está aberto a discussões, e existe uma oportunidade aí”, disse Heidi Larson, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e diretora do Projeto sobre Confiança em Vacinas, ao BuzzFeed News.

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Nos EUA, para fins de comparação, cerca de 11% das pessoas não acreditam que vacinas são seguras, o que coloca o país na 45ª posição mundial na avaliação do ceticismo quanto a vacinas, e cerca de 16% não possuem opinião formada a respeito.

Os resultados da pesquisa sugerem que a desconfiança em relação a vacinas é causada por diferentes fatores – o que significa que não há uma “fórmula mágica” para aumentar a confiança em vacinas ao redor do mundo.

A desconfiança em relação à vacina ASPR (antissarampo, parotidite e rubéola) cresceu em muitos países após 1998, quando uma equipe liderada pelo médico britânico Andrew Wakefield publicou uma pesquisa (que foi posteriormente desacreditada) em que alegava haver uma relação entre a vacina e o autismo.

Na França, o ceticismo quanto às vacinas aumentou ainda mais graças a um controverso programa de vacinação lançado em 2009 contra uma cepa de influenza. Oficiais do governo temiam que isso poderia causar uma pandemia global. Os críticos do programa alegavam que a OMS, financiadora do programa, havia sido influenciada pela indústria farmacêutica.

Por sua vez, na Ucrânia as suspeitas sobre a vacinação foram exacerbadas pela interrupção do sistema de saúde do país em razão do conflito armado com rebeldes financiados pela Rússia no leste do país.

“O que está acontecendo na França não é a mesma coisa que está acontecendo na Ucrânia e não é a mesma coisa que está acontecendo no Japão”, afirmou Brendan Nyhan, cientista político da Universidade de Michigan que estudou o posicionamento sobre vacinas.

“O que está acontecendo na França não é a mesma coisa que está acontecendo na Ucrânia e não é a mesma coisa que está acontecendo no Japão.”

O que ficou claro é que simplesmente apresentar à população mais informações sobre a segurança e a eficácia das vacinas provavelmente não mudará esse posicionamento. Em algumas regiões, incluindo o leste da Europa e a África meridional, as pessoas com mais conhecimento científico e educação eram as que menos confiavam em vacinas. E, no geral, pessoas que afirmaram ter pesquisado recentemente sobre ciência e saúde eram menos propensas a achar que vacinas são seguras.

“Isso sugere que divulgar mais informações científicas ou tentar educar mais as pessoas não é suficiente para modificar a mentalidade sobre o assunto”, concluiu o relatório.

Segundo Nyhan, há poucas pesquisas de qualidade a respeito do que realmente pode mudar a opinião das pessoas sobre a vacinação. Mas evidências de outras áreas da psicologia política sugerem que destacar que a maioria das pessoas acredita na segurança e eficácia das vacinas e quer vacinar seus filhos possui uma maior probabilidade de sucesso. Além disso, a difusão dessas mensagens por fontes confiáveis, como profissionais médicos ou líderes comunitários, também é benéfica.

“O consenso social é uma força poderosa”, afirmou Nyhan.

Na maioria das regiões, as pessoas que disseram confiar muito em médicos e enfermeiras eram mais propensas a achar que vacinas são seguras.

“As pessoas confiam nesses indivíduos mais do que confiam no governo ou na mídia”, disse Khan, que chefiou a pesquisa.

Ainda assim, até mesmo em lugares onde as pessoas não confiam em vacinas, evidências sugerem que as políticas de vacinação podem fazer uma grande diferença. “Geralmente possuímos um problema de política e não de comunicação”, disse Nyhan. “Acho que, às vezes, as pessoas preocupam-se exageradamente com a transmissão da mensagem.”

O governo francês parece ter acatado essa ideia. Em janeiro de 2018, ele ampliou o número de vacinas obrigatórias (de 3 para 11) para crianças menores de 2 anos.

E, na semana passada, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, aprovou uma lei abolindo a dispensa religiosa das vacinas obrigatórias pelo Estado, em virtude de um surto de sarampo concentrado nas comunidades judaicas ortodoxas na cidade de Nova York e no condado de Rockland. Desde setembro de 2018, já houve mais de 850 casos registrados.

A vacinação ainda não se tornou uma questão partidária nos EUA. Mas Nyhan advertiu sobre o perigo de um retrocesso, que dificilmente seria contido, caso o debate sobre a vacinação misture-se ao partidarismo político – como o que aconteceu com o posicionamento sobre mudanças climáticas.

“Temos de tomar muito cuidado com isso”, afirmou Nyhan.


Este post foi traduzido do inglês.

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