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"Aconteceu de novo": como sobreviventes do Holocausto reagiram ao massacre em Pittsburgh

"Nunca imaginei que isso pudesse acontecer aqui. Isso não deveria estar acontecendo no século 21."

PITTSBURGH — Quando Shulamit Bastacky ligou a TV para ver o noticiário, o déjà vu a atingiu "como se alguém tivesse me acertado com um tijolo".

A sobrevivente do Holocausto de 77 anos, que mora no bairro de Squirrel Hill, em Pittsburgh (EUA), disse que tinha ouvido sirenes, mas achou que era por causa de um dos muitos moradores idosos de seu complexo de apartamentos.

"Depois eu estava assistindo à TV e apareceram notícias urgentes. E aí ouvi que isso aconteceu aqui", disse ela ao BuzzFeed News.

Quando Bastacky descobriu que 11 judeus haviam sido baleados e mortos na sinagoga Árvore da Vida, a pouco mais de um quilômetro de seu apartamento, ela se sentiu tão mal que não conseguiu comer nem beber nada até o dia seguinte.

Acredita-se que o atentado seja o ataque mais mortal contra judeus na história dos EUA.

O ataque levou o Museu Memorial do Holocausto dos EUA, em Washington, D.C., a lembrar ao público "os perigos do ódio e antissemitismo descontrolados, que devem ser enfrentados onde quer que apareçam".

Quando os nazistas invadiram sua casa, em 1941, no que hoje é a Lituânia, Bastacky tinha apenas alguns meses de idade. Seus pais esconderam a filha em uma igreja antes de serem enviados para um campo de concentração.

"Minha vida foi salva por uma freira católica polonesa", disse Bastacky. "Fui levada para um porão onde passei os primeiros anos da minha vida trancada... com muito pouca comida, sem muito ar, na escuridão."

Bastacky faz parte de uma comunidade de sobreviventes do Holocausto conhecida como "Crianças Escondidas", que foram abrigadas em sótãos, celeiros e porões como forma de ocultá-las de nazistas. Muitas dessas crianças foram escondidas em igrejas, seja fisicamente ou disfarçadas de crianças católicas, aprendendo orações e os costumes da igreja para passarem despercebidas.

Quando os soviéticos libertaram a área do controle nazista, a freira — que não sabia se os pais de Bastacky tinham sobrevivido — a encaminhou a um orfanato.

Felizmente, eles tinham sobrevivido, sim, e o pai de Bastacky conseguiu encontrá-la no orfanato ao reconhecê-la por uma marca de nascença.

Sua família perdeu parentes no Holocausto, mas os pais nunca falaram muito sobre a época nos campos de concentração.

Aos 22 anos, Bastacky "descobriu a América", como diz. Ela se mudou para Squirrel Hill, onde vive desde então. Ela aprendeu inglês, estudou e se tornou assistente social. Hoje é aposentada e sempre faz palestras para grupos de estudantes sobre a sobrevivência ao Holocausto.

Mas agora, pela primeira vez, Bastacky sente medo de ser judia nos EUA.

Ela não sabe se suas palestras têm segurança o suficiente. Ela se preocupa que possa ser atacada pela correntinha prateada com a Estrela de David que usa no pescoço.

Melvin Wax, que morreu no ataque, morava no prédio de Bastacky. Ela se lembra dele como "tímido, muito simpático e cavalheiro". Antes das últimas eleições, eles se reuniram no saguão e ajudaram a registrar seus vizinhos para votar. "Nunca imaginei que isso pudesse acontecer aqui — não até aquele dia", disse Bastacky. "Isso não deveria estar acontecendo no século 21".

Lauren Bairnsfather, diretora do Centro do Holocausto de Pittsburgh e nascida e criada em Squirrel Hill, disse que o ataque é um exemplo de como o antissemitismo continua presente.

"Está por aí há milhares de anos", disse Bairnsfather. "Há um equívoco de que o antissemitismo começou e terminou com o Holocausto. Mas estamos vendo mais dele agora."

Desde o ataque, o centro do Holocausto, que trabalha com 53 sobreviventes na área, conta com a proteção de um policial.

Bairnsfather disse que sua sensação de segurança foi destruída. "Eu me pergunto, sou ingênua? Porque me sentia segura aqui, e aquelas pessoas também se sentiam seguras aqui, na sinagoga Árvore da Vida", disse.

Agora, o centro está tentando seguir em frente e educar a próxima geração sobre o ódio e o antissemitismo. "Este é um momento em que podemos falar com as pessoas, porque não estamos dizendo: 'Veja o que aconteceu há 75 anos'", disse Bairnsfather. "Estamos dizendo: 'Veja o que aconteceu há alguns dias em sua cidade.'"

Bairnsfather associa o ataque, que ela chamou de "explosão mortal de antissemitismo", a um aumento do ódio contra judeus.

"Era alguém que pretendia matar o maior número de judeus possível, e matou todas as pessoas com mais de 50 anos, algumas com deficiências", disse ela. "Exatamente igual aos nazistas."

A tradução deste post (original em inglês) foi editada por Luísa Pessoa.

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