Ao pedir o abrandamento de suas penas à Justiça, três homens que foram condenados por planejar um atentado contra um prédio que abrigava uma mesquita e dezenas de refugiados somalis muçulmanos no Kansas (EUA) disseram que foram influenciados pelo discurso do presidente Donald Trump.
No documento protocolado no tribunal nesta semana, os advogados de Patrick Stein, Curtis Allen e Gavin Wright defenderam que seus clientes foram influenciados pelo discurso antimuçulmano de Trump e pela propaganda russa nas redes sociais. Além disso, eles alegam que a condenação à prisão perpétua para seus clientes não intimidará outras pessoas de cometerem crimes similares.
"Enquanto a Casa Branca impunemente rotular o Islã como 'uma ameaça nociva' e pintar o norte-americano comum como 'vítima de ataques cruéis de pessoas que seguem os ensinos da jihad', estará transmitindo uma mensagem confusa", escreveram os advogados de Wright no documento protocolado.
"Enquanto o Poder Executivo condenar o Islã e elogiar e incentivar a violência contra esses ditos 'inimigos', a sentença imposta pelo Poder Judiciário fará muito pouco para prevenir que outras pessoas se envolvam em ações desta natureza. Elas acreditam que estão protegendo seu país daqueles que foram classificados como inimigos pelo próprio presidente", continuaram.
Stein, Allen e Wright foram condenados duplamente por conspiração para usar uma arma de destruição em massa e por conspiração contra os direitos civis por um juiz federal em abril. O juri também condenou Wright por ocultar informações do FBI.
Segundo as autoridades, os homens, que eram membros de uma milícia no Kansas, planejavam detonar quatro carros cheios de explosivos estacionados do lado de fora do complexo de apartamentos em Garden City um dia depois das eleições presidenciais de 2016 para fazerem "as pessoas acordarem". Eles foram indiciados e presos em outubro de 2016 depois de uma investigação de oito meses conduzida pelo FBI.
De acordo com os registros online do tribunal, os homens devem ser julgados pelo juiz distrital dos Estados Unidos, Eric Melgren, em 19 e 20 de novembro.
Os promotores dizem no documento que foi protocolado que a sentença máxima é "apropriada" para todos os três homens.
Os advogados de Stein pediram que sua pena fosse de 15 anos ao todo. Os advogados de Allen pediram que a pena fosse de 10 anos por cada crime a serem cumpridos ao mesmo tempo. Já os advogados de Wright pediram que o tribunal o sentencie pelo tempo que ele já cumpriu.
Os advogados de Stein alegam que a eleição presidencial de 2016 e o discurso de Trump desempenharam um papel importante em seu cliente, a quem eles descreveram como "uma pessoa que desde o início apoiou avidamente" Donald Trump. Durante a campanha, Trump defendeu que muçulmanos fossem fichados e monitorados e que mesquitas fossem fechadas nos Estados Unidos.
"O tribunal não pode ignorar as circunstâncias de uma das eleições presidenciais mais controversas, violentas, odiosas e contenciosas da história moderna, conduzida em grande parte pelo discurso inconsequente do homem que hoje é o nosso presidente", disse o advogado. "A marca de Trump de agressões verbais descomedidas e sem limites acirrou os ânimos políticos de pessoas de todas as convicções", continuou.
Eles acrescentaram que uma pessoa normal que "em uma escala de convicções política estivesse normalmente em 3, foi a 7 durante as eleições", enquanto "uma pessoa como Patrick, que geralmente se encontrava no 7, pode ter chegado a 11".
Os advogados de Wright citaram uma análise do Pew Research Center que mostrou um aumento da violência contra a comunidade muçulmana desde a eleição de Trump e a forma contínua como o presidente atiça a islamofobia como razões para destacar que a prisão perpétua para seu cliente não servirá em nada para desincentivar outros.
Eles apontaram para vários tuítes de Trump, incluindo um que ele postou na semana passada, dizendo, sem provas, que "pessoas do Oriente Médio estão misturados" na caravana de migrantes na América Central que está atualmente seguindo rumo aos Estados Unidos.
"O orador com o melhor palanque do mundo nunca é punido por espalhar o medo e apoiar a violência", disseram os advogados de Wright. "É uma utopia imaginar que é possível inibir pessoas de seguirem este mesmo caminho nas circunstância atuais."
O BuzzFeed News entrou em contato com a Casa Branca, mas não houve uma reposta até o momento da publicação desta reportagem.
Os advogados de Allen não citaram Trump diretamente no seu memorando, mas colocaram que o "patriotismo mal direcionado do seu cliente foi inflamado pelo clima político de 2016 e pela influência da campanha de informações nocivas da Rússia contra o povo norte-americano".
Um médico que avaliou Allen, um militar veterano, concluiu que suas "crenças distorcidas sobre os muçulmanos tiveram origem no Iraque e foram potencializadas pela sua alta exposição a notícias", segundo os documentos do tribunal. "O senhor Allen sentia-se um patriota que precisava defender sua comunidade", disseram seus advogados.
A tradução deste post (original em inglês) foi editada por Luísa Pessoa.