O Facebook vem lucrando com anúncios que promovem violência e supremacistas brancos

    O Facebook disse na terça-feira que estava banindo o conteúdo associado com o grupo extremista "Boogaloo".

    No domingo, a conta do Instagram @docscustomknives colocou um anúncio na popular rede social de compartilhamento de fotos defendendo que as pessoas "se juntem à milícia, lutem contra o estado". Enquanto trechos de filmes de ação passam, mostrando policiais sendo baleados e mortos, a música se eleva com letras proclamando "Não temos medo algum da polícia/Também temos armas".

    Até terça-feira (30) à tarde, o anúncio ainda estava on-line.

    Várias hashtags no anúncio, incluindo #Boogaloo, #BoogalooBois e #BoogalooMemes, conectam o anúncio aos "Boogaloos", um slogan para os extremistas antigoverno que têm apelado para a violência contra a polícia e funcionários do estado e defendido outra Guerra Civil nos EUA.

    Esse anúncio é apenas um dos vários trechos de conteúdo pago relacionado ao movimento Boogaloo no Facebook e Instagram que foram descobertos pelo BuzzFeed News; isso apesar das alegações do Facebook de que estava se empenhando para tomar medidas contra o grupo.

    O @docscustomknives pode ser o mais recente, mas está longe de ser o único anúncio do Boogaloo veiculado no Facebook ou em seu site de compartilhamento de fotos, o Instagram. Enquanto os extremistas de direita têm usado as ferramentas da empresa para se organizar, a maior rede social do mundo também tem lucrado com os anúncios promovendo a supremacia branca.

    Na terça-feira, o Facebook disse que designaria o movimento Boogaloo como "uma organização perigosa", banindo-o da plataforma e do Instagram. A empresa removeu 220 contas do Facebook, 28 páginas e 106 grupos, bem como 95 contas do Instagram, que constituia a chamada "rede de violência antigovernamental com base nos EUA". O Facebook também removeu 400 grupos adicionais e mais de 100 páginas que compartilhavam conteúdo parecido.

    A conta que veiculou o anúncio no Instagram não estava entre aquelas que a companhia removeu. A pessoa associada com @docscustomknives não retornou um pedido de comentário.

    "Isso não soa bem", disse um porta-voz do Facebook ao BuzzFeed News quando um repórter descreveu o conteúdo dos anúncios do Boogaloo. Eles perceberam que os anúncios seriam enviados para uma equipe para avaliação adicional e que a execução de terça-feira foi "apenas o começo do impacto" nos grupos do Boogaloo.

    "Continuaremos a monitorar símbolos e conteúdos que a rede de violência usa e a atualizar a policia e as autoridades", disse o porta-voz. "Se for conteúdo orgânico, certamente cairá, bem como nos anúncios."

    "Isso não soa bem."

    Isso pode não ser suficiente para apaziguar alguns dos críticos do Facebook. A Diretora do "Tech Transparency Project", Katie Paul, disse ao BuzzFeed News que quando o Facebook aceitou dinheiro dos apoiadores e simpatizantes do Boogaloo, ele amplificou o movimento.

    "A empresa não somente falhou em abordar o fato de que sua plataforma está realmente alimentando essa câmara de eco dos apoiadores, mas também o fato de que está lucrando com esse movimento que se baseia na violência", ela disse.

    Derivado do nome de um filme de 1984, o termo "Boogaloo" abrange uma gama de extremistas, incluindo alguns que se acredita serem violentos. No início deste mês, Steven Carrillo, um sargento da Força Aérea de 32 anos e suspeito membro do Boogaloo, foi acusado de matar um agente de segurança federal e um delegado de polícia na Califórnia (EUA).

    A Liga Antidifamação chamou o Boogaloo de "uma piada antiga [que evoluiu] para um slogan de violência em massa". O "Southern Poverty Law Center" escreveu que ele "emergiu ao mesmo tempo em espaços on-line antigovernamentais e de supremacia branca no início dos anos 2000. Em ambas as comunidades, o 'boogaloo' era frequentemente associado com violência racista e, em muitos casos, foi um chamado explícito para guerra racial".

    A fiscalização do Facebook veio depois que grupos de vigilância avisaram sobre organizações extremistas de direita se organizando on-line sob o nome de Boogaloo. Em abril, o "Tech Transparency Project" encontrou 125 grupos no Facebook com um total de "dezenas de milhares de membros" ligados à palavra "Bogaloo", mais de 60% dos quais foram criados nos últimos três meses.

    E anúncios apresentando as palavras-chave Boogaloo vêm sendo veiculados no Facebook e Instagram há meses.

    A empresa de proteção corporal Hoplite Armor veiculou um anúncio de uma "Camisa de combate havaiana e Colete à prova de balas de BRINDE", de 29 de setembro a 31 de outubro do ano passado, com as hashtags "#Boogaloo" e "#CivilWar". (Alguns membros do Boogaloo tentaram se apropriar das camisas havaianas porque "Boogaloo" é um homófono para "grande luau", outra frase popular no movimento.)

    De acordo com a análise do Facebook, esse anúncio acumulou entre 1.000 e 2.000 impressões e foi exibido principalmente para homens entre 25 e 34 anos, na Califórnia, Texas e Nova York. A página da Hoplite Armor gastou US$ 517,00 entre maio de 2018 e hoje em anúncios políticos ou sociais, de acordo com a Biblioteca de Anúncios da rede social, e continua a vender o protetor corporal no Facebook. A combinação da camisa havaiana e o colete é vendida por US$ 249,00 através da ferramenta de e-commerce do Facebook.

    A Hoplite Armor não retornou o pedido de comentário do BuzzFeed News.

    Em fevereiro, outra página do Facebook, "Boogaloo II", anunciou uma blusa "2A Strong". O anúncio apareceu para chamar para violência política armada: "Let's Keep Virginia 2A Strong", disse. "Vamos manter a liberdade, não pervertida, pela bala ou eleição, ela não deve ser violada."

    Esse anúncio não está ativo no momento, mas atingiu mais de 2.000 pessoas, visando moradores da Virgínia, onde houve um comício pró-armas na capital do estado, no mês anterior.

    Durante a primavera, o movimento Boogaloo continuou a ganhar força. Paul disse ao BuzzFeed News que membros usaram os recentes assassinatos de americanos negros pela polícia para recrutar pessoas que talvez simpatizem com suas opiniões antigovernamentais. O anúncio @docscustomknives, por exemplo, usou as hashtags #BreonnaTaylor e #GeorgeFloyd.

    "Isso deixa claro que essas pessoas estão realmente tentando cooptar esses movimentos para recrutar apoiadores que talvez tenham problemas com o governo e a autoridade", ela disse. "Está realmente sinalizando para esse aspecto do recrutamento que temos visto ser discutido nesses grupos privados entre os apoiadores e organizadores do Boogaloo.

    O Facebook disse no começo deste mês que tomaria ações para limitar a disseminação do Boogaloo na plataforma limitando as recomendações para os grupos do Facebook relacionados.

    Pessoas que se identificam com o grupo alegam que a empresa está discriminando-os. Uma publicação no Instagram na segunda-feira, do @docscustomknives, que veiculou o anúncio mostrando os assassinatos dramatizados da polícia, incluiu imagens parecendo mostrar que o Facebook tinha removido três de suas publicações por violar as diretrizes da comunidade e retirou uma versão do anúncio do vídeo violento.

    Uma pessoa comentando na publicação chamou as ações do Facebook de "repressão".

    A conta @docscustomknives continua ativa, mas seu proprietário parece ter um plano b caso o Facebook o retirasse: alguém configurou a @docscustomknives2 no Instagram, listando-a como uma conta de "compra e varejo".

    "Se estou publicando aqui, isso significa que fui pego ou o Instagram me ferrou novamente", escrito na bio da conta.

    Este post foi traduzido do inglês.

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