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17 fotos que mudaram o curso da história LGBTQ

"Nossa sociedade não mudou naturalmente, ela mudou porque as pessoas se tornaram politicamente ativas."

Nos anos 1960 e 70, no meio de um clima de agitação política e ativismo dos direitos civis, as comunidades LGBTQ por todos os EUA foram se unindo em busca de visibilidade e mudança. Eventos como a Revolta de Stonewall de 1969, que viu os ativistas LGBTQ se erguerem contra a discriminação na cidade de Nova York, ajudaram a galvanizar esse movimento, reunindo uma geração de jovens homossexuais sob uma bandeira de orgulho. E o trabalho dos fotojornalistas como Kay Tobin Lahusen e Diana Davies mostrou o movimento para as massas por meio de suas fotografias revolucionárias.

Uma nova exposição na Biblioteca Pública de Nova York, Amor e Resistência: Stonewall 50, reúne o trabalho destes dois fotógrafos influenciadores, bem como jornais, folhetos e narrativas em primeira pessoa deste momento crucial na história LGBTQ.

A mostra tem a curadoria de Jason Baumann, diretor-assistente de Desenvolvimento de Coleções da BPNY. O BuzzFeed News falou com Baumann, que coordena as iniciativas LGBTQ da biblioteca, sobre como a fotografia ajudou a moldar o movimento LGBTQ moderno, bem como o legado permanente de Stonewall, 50 anos depois da revolta.

Quem eram Kay Tobin Lahusen e Diana Davies?

Jason Baumann: Kay foi uma das primeiras fotojornalistas LGBTQ nos Estados Unidos a documentar as comunidades políticas LGBTQ. Ela começou sua carreira fotografando para uma revista chamada "The Ladder", no começo dos anos 1960, que foi a principal revista para lésbicas, nos EUA, naquela época. Antes de Kay, a revista retratava as pessoas principalmente por desenhos; se elas eram fotografadas, era de uma forma que ainda escondia a identidade das pessoas nas imagens.

Ela acabou com isto, colocando lésbicas na capa. Muitas destas fotos são algumas das primeiras imagens positivas de lésbicas na cultura americana. Simplesmente não havia imagens de lésbicas sendo retratadas como pessoas sorridentes, felizes e equilibradas, antes de Kay tê-las feito. Na década de 1970, ela estava documentando essencialmente todas as principais atividades e manifestações que estavam acontecendo.

Diana foi outra fotógrafa que aperfeiçoou sua arte na década de 1960, documentando os movimentos antiguerra, os movimentos dos direitos civis e também o meio musical do jazz e do blues. Então, em 69, ela passou a fazer parte desta organização chamada "Gay Liberation Front" e começou a documentar as atividades dos gays, lésbicas e transexuais na cidade de Nova York e em todo o país.

Como a fotografia se tornou uma ferramenta para o ativismo LGBTQ?

JB: A exposição e o livro têm esta seção sobre "amor", que eu acho que é muito reveladoras a esse respeito. Você tem essas imagens que são sempre tiradas por trás ou mostrando apenas as silhuetas — então, você está protegendo a pessoa e também protegendo a identidade dela ao mesmo tempo. Isto se deu pelo fato de que a homossexualidade era ilegal nos Estados Unidos naquela época. Em Nova York, você poderia passar três meses na prisão, e em alguns estados você poderia ser condenado à prisão perpétua. Você poderia ser internado, passar por tratamento com choque elétrico, perder seu emprego — por isso pouquíssimas pessoas estavam dispostas a ser retratadas publicamente desta maneira.

Após Stonewall, você sente uma verdadeira urgência, como parte da libertação gay, em tentar documentar a vida dessas pessoas. Estas fotógrafas fizeram parte de um movimento de visibilidade gay, com o objetivo de recuperar o espaço público. Parte da opressão enfrentada pelos gays e transgêneros nos anos 60 estava em lhes ser negado o acesso ao espaço público. Um bar poderia ser fechado se tivesse clientes gays, você poderia ser preso por se travestir naquela época. Então, parte da criação destas imagens foi para retratar esses indivíduos como seres humanos plenos.

As pessoas têm muitas ideias equivocadas sobre os protestos em Stonewall?

JB: O Stonewall Inn era um bar controlado pela máfia na época em que funcionava no Village, e era frequentemente invadido pela polícia. A rebelião aconteceu no final de junho de 1969, quando o bar foi invadido uma noite como parte da repressão contra estabelecimentos sem licenças para terem bebidas — além do fato de que o bar estava servindo gays e transgêneros, que eram considerados clientes criminosos, na época.

Durante o ataque, muitos dos clientes começaram a revidar, mas o que mais se ignora é que muitos dos que estavam revidando eram as pessoas que estavam nas ruas na época: jovens homossexuais privados de direitos, que viviam nas ruas da cidade de Nova York e do Village, muitos dos quais tinham sido expulsos pelas suas famílias, e que tinham dificuldade em encontrar emprego porque eram de um gênero não aceito, e este tornou-se realmente o núcleo das pessoas que revidaram aos ataques da polícia naquela noite.

Muitas das pessoas que estavam participando na Rebelião de Stonewall eram pessoas mais jovens — jovens que foram influenciados pela contracultura americana e movimentos antiguerra, e que tinham expectativas muito diferentes sobre o que era o ativismo, comparado com gerações mais velhas. Este era um quadro ideológico muito mais conflituoso e influenciado pelo anarquismo, marxismo e protestos de direitos civis.

O problema com Stonewall é que as pessoas querem acreditar que este foi o início deste movimento, mas realmente não foi. Stonewall não foi o primeiro destes protestos — houve inúmeros protestos similares por todos os EUA na década de 1960, assim como manifestações e ativismo. Stonewall foi mais um momento decisivo nesse movimento. É quando se tornou um movimento de massa — de grupos de 10 a 20 pessoas em cada estado para milhares de pessoas saindo do armário para mudar a sociedade americana.

O que você espera que as pessoas levem desta exposição?

JB: Eu gostaria que as pessoas entendessem que este era um movimento de direitos civis. Que a nossa sociedade não mudou naturalmente, ela mudou porque as pessoas se tornaram politicamente ativas.

Acho que esse é o problema em como a história de Stonewall é contada — esta ideia de que houve uma rebelião em um bar, e depois, de forma mágica, houve os direitos dos gays. O que não é contado é que houve este intensivo ativismo dos direitos civis que ocorreu ao longo de 50 anos nos Estados Unidos e que é por isso que a sociedade mudou. Eu também quero que as pessoas saiam sentindo-se empoderadas, sabendo que pessoas antes delas fizeram a diferença em sua sociedade e que elas também podem fazer a diferença.

Este post foi traduzido do inglês.

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