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Funcionários do Google pedem demissão após vir à tona projeto secreto na China

Os pedidos de desligamento teriam ocorrido após a revelação de que o Google participa do Projeto Dragonfly [libélula, em português], aplicativo de busca feito para o mercado chinês que censura os resultados de pesquisa de acordo com diretrizes do governo.

Circula dentro do Google uma lista com o nome de sete funcionários que teriam supostamente pedido demissão em protesto pela falta de transparência da empresa.

Os pedidos de desligamento teriam ocorrido após a revelação de que o Google participa do Projeto Dragonfly [libélula, em português], aplicativo de busca feito para o mercado chinês que censura os resultados de pesquisa de acordo com diretrizes do governo.

Os nomes teriam sido compartilhados em uma lista de e-mails dedicada a discussões éticas e problemas de transparência no Google.

Três fontes do BuzzFeed News dentro da empresa confirmaram a existência da lista, composta em grande parte por engenheiros de software cuja experiência no Google varia entre 1 e 11 anos.

O Google se negou a comentar sobre a lista.

Um dos nomes na lista é o de Jack Poulson, ex-cientista sênior do Google, que trabalhou para a companhia em Toronto (Canadá) antes de se demitir por conta do Dragonfly no mês passado. Como a maioria dos empregados do Google, Poulson tomou conhecimento do Dragonfly por meio de uma matéria no Intercept sobre o projeto, que dizia que o Google já tinha demonstrado o Dragonfly para o governo chinês e que ele poderia ser lançado dentro de seis a nove meses. Poulson disse que estava “chocado” com notícia.

Poulson se demitiu em agosto, mas havia decido compartilhar suas preocupações sobre o Dragonfly somente com pessoas de dentro da empresa. No entanto, quando o Google não respondeu a uma carta escrita por diversas organizações de direitos humanos que argumentava que o Dragonfly é antiético e pedia para a empresa encerrar o projeto, Poulson se sentiu compelido a compartilhar sua opinião com o público.

“Estou ofendido por não terem dado nenhuma importância à comunidade de direitos humanos”, disse. "Se você tem uma carta de coalizão de 14 organizações de direitos humanos e isso não leva a nenhum debate sobre a ética por trás de uma decisão, prefiro ficar do lado das organizações de direitos humanos."

Apesar da saída de Poulson, um porta-voz do Google disse: “É nossa política não comentar sobre funcionários individualmente”.

A revelação do Dragonfly provocou uma reação imediata dentro das fileiras do Google. Um funcionário que havia sido chamado para trabalhar no projeto se demitiu, outro trocou de equipe, e os fóruns internos foram inundados com milhares de posts, comentários e e-mails debatendo a ética do projeto.

Nos dias que se seguiram, mais de 1.000 funcionários assinaram uma lista de exigências, batizada de “Código Amarelo para a Ética”, que incluiu pedidos como avaliações éticas de certos projetos da empresa por terceiros.

Na sua carta de demissão, Poulson disse que pediu aos executivos do Google para atenderem às demandas do Código Amarelo. Até agora, a carta tem mais de 1.700 assinaturas, e aqueles interessados em discutir questões de ética e transparência estão planejando se encontrar pessoalmente, segundo fontes.

A controvérsia sobre o Dragonfly não foi o único conflito ético do Google nos últimos tempos. Em março, funcionários souberam que o Google estava trabalhando com o Pentágono para construir uma tecnologia de inteligência artificial para drones de guerra. Assim como com o Dragonfly, alguns funcionários ficaram chocados e irritados pelas notícias da iniciativa, chamada Projeto Maven. Milhares assinaram uma petição pedindo ao Google para cancelar o contrato. Depois de uma dezena de engenheiros se demitirem e citarem o Maven como a razão, o Google concordou em não renovar o contrato com o Pentágono quando ele expirar, neste ano.

Depois de longas duas semanas de silêncio sobre o Dragonfly, os executivos do Google abordaram pela primeira vez os planos da empresa para a China numa reunião com todos os funcionários realizada um mês atrás. No entanto, a reunião foi interrompida quando os executivos perceberam que os presentes estavam vazando detalhes do encontro para a imprensa. Na reunião, o Presidente do Google, Sundar Pichai, disse que a empresa não está planejando lançar um produto de busca na China em um futuro próximo.

“Há anos fazemos investimentos para ajudar os usuários chineses, como no desenvolvimento do Android e de aplicativos para celular como o Google Tradutor e o Files Go, além de nossas ferramentas para desenvolvedores. Apesar disso, nosso trabalho para motores de busca tem sido exploratório e não estamos nem perto de lançar um produto na China", disse um porta-voz do Google sobre o assunto.

No entanto, Poulson disse que mesmo um "trabalho exploratório" feito sem o pleno conhecimento dos funcionários é causa para preocupação. Depois do Projeto Maven, o Google lançou um conjunto de princípios éticos de IA que prometeu, entre outras coisas, não "projetar ou implantar inteligência artificial" que " viole princípios amplamente aceitos de leis internacionais e direitos humanos".

"Podemos debater se [Dragonfly] estava ou não sendo implantado, mas isso é quase irrelevante porque, no código de ética sobre IA, eles prometeram nem mesmo projetá-lo", disse Poulson. "Em qual estágio os engenheiros têm voz? Uma vez que algo é construído e está pronto para lançamento, o poder foi transferido das mãos dos engenheiros para as mãos de um pequeno grupo de pessoas."

A tradução deste post (original em inglês) foi editada por Luísa Pessoa.

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