A fonte de toda essa destruição, e a motivação para as viagens de Morton de volta ao Brasil ano após ano, era o desmatamento desenfreado. Morton, agora cientista da NASA, a agência espacial dos EUA, foi um dos pesquisadores que descobriram como usar melhor os satélites para monitorar o desmatamento.
Agora o número de focos de incêndio na região voltou a subir, e as notícias sobre o desmatamento na Amazônia se tornaram virais no mundo. Consequentemente, Morton e outros cientistas que estudam a Amazônia há anos ganharam os holofotes: estão atendendo pedidos da imprensa de todos os cantos do planeta, rebatendo a desinformação sobre as queimadas e lidando com suas próprias emoções a respeito do destino incerto da Amazônia.
"Eu apenas expliquei para eles: é um ano ruim", disse Coe, e "é isso que acontece quando o desmatamento fica fora de controle".
E isso ocorre no primeiro ano de mandato do presidente Jair Bolsonaro, defensor de uma maior abertura da Amazônia brasileira para o desenvolvimento. Em julho, quando os cientistas do INPE divulgaram dados preliminares mostrando um aumento no desmatamento, Bolsonaro chamou os dados de "mentira" e depois demitiu o diretor do INPE, o físico Ricardo Galvão. Mais recentemente, Bolsonaro tentou responsabilizar os membros de ONGs pelas queimadas. Por fim, em meio à crescente pressão internacional, Bolsonaro determinou o envio de tropas para ajudar no combate aos incêndios.
Se as pessoas perderam a confiança nos principais centros de pesquisa e em seus alertas sobre desmatamento, "o futuro da Amazônia vai ser prejudicado", disse Paulo Brando, professor assistente da Universidade da Califórnia em Irvine e colaborador do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Brando passou cerca de 15 anos estudando a Floresta Amazônica e as mudanças climáticas.
Brando notou "muita confusão" sobre a magnitude dos incêndios — os incêndios deste ano são "muito graves", disse Brando, mas 2019 "não é o pior ano da história na extensão dos incêndios".Embora o número de focos de fogo detectados na Amazônia brasileira seja superior ao de qualquer ano desde 2010, a situação era ainda pior no início dos anos 2000. O que mudou agora é que os pesquisadores estão mais bem equipados para rastrear os incêndios e medir o impacto da perda de florestas.
Os cientistas passaram a poder rastrear melhor o desmatamento, identificar onde ele estava localizado e com que rapidez estava ocorrendo e examinar inúmeros impactos ao clima e à biodiversidade. Alguns dos resultados foram alarmantes.
Esses incêndios também têm um impacto climático significativo. A Floresta Amazônica é um dos maiores sumidouros de gases de efeito estufa, com suas árvores absorvendo emissões do ar. Mas quando essas árvores são derrubadas ou incendiadas, elas podem liberar algumas emissões de volta ao ar e reduzir a capacidade da floresta restante de diminuir essas emissões naturais.
"É um esforço constante tentar lidar com os vários fatores para que o desmatamento seja o menor possível", disse Coe. Portanto, ver um aumento no desmatamento nos últimos anos, e especialmente em 2019, "é um pouco frustrante", disse ele.
Coe acredita que melhor maneira de combater os desmatamentos é continuar a coletar dados sobre quem está incendiando a floresta e onde. "Vamos arregaçar as mangas e seguir em frente", disse. "Esse problema não vai desaparecer sozinho."
Este post foi traduzido do inglês.