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A verdadeira catástrofe econômica ainda não aconteceu. Espere agosto chegar.

Depois de passar abril e maio em quarentena e dos protestos nas ruas nas últimas semanas, as coisas vão piorar muito no segundo semestre.

Mais de 40 milhões de pessoas perderam seus empregos nos últimos meses nos Estados Unidos, na desaceleração econômica mais rápida e profunda já registrada. Mais da metade de todas as famílias de baixa renda nos EUA sofreram uma perda de receita, assim como um quarto de todos os adultos. Os números são tristes — mas, por pior que pareçam hoje, eles estão a caminho de ficar muito, muito piores.

Neste momento, a economia dos EUA é como um jato jumbo que está em um planeio constante depois de seus dois motores explodirem. Em cerca de seis semanas, ele provavelmente cairá na encosta de uma montanha. As consequências serão sentidas na economia do mundo todo.

O que manteve a economia americana no ar até agora é um esforço extraordinário de assistência governamental.

Na maioria dos estados dos EUA, os despejos foram banidos temporariamente, impedindo uma crise de desabrigados em massa. A maioria dos pagamentos federais de empréstimos estudantis foi suspensa, eliminando uma das maiores despesas mensais recorrentes que milhões de pessoas enfrentam. Os bancos foram ordenados a conceder a seus clientes uma pausa de seis meses em pagamentos de hipotecas, se solicitado.

Mais importante e contraintuitivamente, a renda das famílias aumentou acentuadamente em abril, quando centenas de bilhões de dólares em salários perdidos foram substituídos por trilhões em gastos do governo. O governo enviou mais de 159 milhões de pagamentos de incentivo de até US$ 1.200 por adulto (mais a quem tem filhos), e mais de 20 milhões de desempregados se tornaram elegíveis a um adicional de US$ 600 por semana em benefícios federais de desemprego. O resultado, segundo a Bloomberg, foi o maior aumento mensal na renda familiar já registrado.

Isso aconteceu em abril, quando havia muito menos coisas nas quais gastar seu dinheiro; lojas e restaurantes estavam fechados, ninguém ia aos jogos ou levava as crianças a um parque temático, e uma nação descabelada ansiava por um corte de cabelo. Enquanto isso, a perspectiva de um enorme colapso econômico significava que os americanos que ainda estavam empregados tinham mais probabilidade de guardar o dinheiro do que gastá-lo de outra forma. Portanto, a taxa de poupança nacional — a parcela da renda das pessoas que é economizada em vez de gasta — atingiu 33%, de acordo com o Bureau of Economic Analysis dos EUA, também o nível mais alto já registrado. No mesmo mês em que alcançamos o pior nível de desemprego em massa que se tem memória, os americanos economizaram um total de US$ 6,15 trilhões — um aumento de US$ 4 trilhões em relação ao mês anterior.

Consumer spending plunges, incomes soar on federal payments https://t.co/bslE5mfA7i

As enormes intervenções que tornaram tudo isso possível em breve terminarão — mas o desemprego, não.

Em 31 de julho, os pagamentos federais de US$ 600 semanais para pessoas desempregadas terminarão, e não há sinal de que eles serão substituídos por algo quase tão generoso assim. Na verdade, muitos republicanos querem extingui-los — e também há poucos sinais de que outra rodada de cheques de incentivo será enviada por correio. Portanto, a renda de dezenas de milhões de famílias provavelmente terá uma queda abrupta em agosto.

Isso coincidirá com a volta dos despejos depois de ficarem suspensos por meses. Este mês, cerca de um terço dos locatários não conseguiu pagar seu aluguel total ou nada dele, apesar de todo o dinheiro do incentivo. Uma lei federal que proíbe despejos em quaisquer propriedades financiadas por hipotecas contempladas pelo governo — mais de um quarto de todas as famílias, de acordo com uma estimativa — expira em 25 de julho, apenas uma semana antes da principal salvação econômica de milhões de pessoas ser retirada. A menos que sejam prorrogadas, as ordens estaduais que proíbem todos os despejos nos lugares que foram mais afetados pela crise de desemprego também expirarão nessa época: as da Flórida em 1º de julho, as da Califórnia em 28 de julho e as de Nova York em 20 de agosto.

Enquanto milhões de pessoas sofrem um súbito colapso de sua renda, no mesmo momento, seus locadores podem começar a expulsá-las, e outras contas também vencerão. Os pagamentos de milhões de empréstimos estudantis pausados começarão novamente no início de outubro; os mais de 4 milhões de proprietários de imóveis que receberam uma pausa de seis meses em suas hipotecas após as demissões em massa de abril precisarão começar a efetuar pagamentos novamente no final de outubro.

Poucos esperam seriamente que a economia dos EUA se recupere tão rapidamente quanto essas contas vencem; as próprias projeções do governo federal esperam que o nível de desemprego permaneça assustadoramente alto até o próximo ano, mesmo quando as pessoas retornarem ao trabalho à medida que os lockdowns forem suspensos. Muitas empresas apenas recontratarão trabalhadores à medida que a demanda dos consumidores retornar e, em indústrias dependentes de muita mão de obra, como restaurantes, entretenimento e viagens, ninguém espera que as coisas voltem ao normal tão cedo.

E, em toda a economia, os grandes empregadores usarão esse momento como uma espécie de botão de redefinição da força de trabalho — uma chance de repensar quantos trabalhadores eles realmente querem, terceirizar alguns empregos, gerenciar outros do exterior e eliminar alguns completamente. Segundo algumas estimativas, mais de 40% de todas as perdas de emprego dos últimos meses podem ser permanentes, não temporárias.

Você deve ter notado algumas coisas importantes — como, bem, a pandemia de coronavírus — ausentes nessa equação. Se tivermos muita sorte, não sofreremos uma terrível segunda onda de infecções no segundo semestre, provocando novas rodadas de tentativas de lockdown logo após o avião da economia colidir com a montanha — lockdowns que, mais uma vez, afetarão desproporcionalmente os negros e pessoas de baixa renda que não podem trabalhar com segurança em casa. Vamos torcer por isso.

E não mencionei os movimentos de protesto em todo o país que não mostram sinais de diminuição, ou as eleições nos EUA que estarão superaquecidas no outono.

Esses são todos os ingredientes que Adam Elkus descreveu de forma memorável recentemente como a “onicrise” pela qual estamos atualmente passando em meio aos obstáculos. "A onicrise ampliou significativamente o espaço de possíveis consequências além das normalmente consideradas cotidianas pela maioria dos americanos", escreveu ele. "E não está claro quantas pessoas em posições de influência e autoridade reconhecem isso."

Isso ficará mais claro nas próximas semanas, à medida que o Congresso dos EUA considerar o que virá a seguir. Até agora, a Câmara controlada pelos democratas aprovou uma nova e abrangente lei de assistência com trilhões em novos gastos, a qual já nasceu morta, segundo o Senado controlado pelos republicanos — e os republicanos não parecem ter muita pressa até mesmo em iniciar as negociações. Há indícios de que os líderes políticos americanos entendem a gravidade da crise, mas eles podem ser simplesmente incapazes de lidar com a situação. ●

Este post foi traduzido do inglês.

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