Um menino de 8 anos se matou após sua escola encobrir que ele sofria bullying

    “Todo mundo sabe que crianças de 8 anos numa escola vão brigar e vão se comportar mal de vez em quando”, disse o advogado, para quem a diretora e o vice-diretor da escola não podem ser responsabilizados. ALERTA DE GATILHO: SUICÍDIO.

    Quando Cornelia Reynolds descobriu que Gabriel Taye, seu filho de 8 anos, havia tentado se suicidar após chegar em casa da escola no dia 26 de janeiro de 2017, ela realizou uma RCP (reanimação cardiopulmonar) e ligou para a emergência. Os paramédicos tentaram reviver o menino, mas ele estava sem pulso.

    Enquanto levavam seu filho, Cornelia gritava aos prantos: “Por quê, Gabe? Por quê, bebê? Por que você fez isso?”

    Esta questão está no cerne de um processo movido pelos pais de Gabriel contra os funcionários do distrito escolar público das Escolas Públicas de Cincinnati (EUA) e da Escola de Ensino Fundamental Carson, afirmou Jennifer Branch, advogada da família, durante uma audiência. A família acusa os funcionários da escola de encobrirem a violência e o bullying sofridos diversas vezes por Gabriel – o que, segundo a família, torna a escola responsável pela morte do menino.

    “Estes pais não faziam ideia do que acontecia na Escola de Ensino Fundamental Carson”, disse Jennifer Branch a um grupo de juízes na Corte de Apelação do 6º Circuito. "Eles não tinham ideia do quão perigoso era o terceiro ano do ensino fundamental dessa escola”, prosseguiu a advogada.

    Gabriel adorava ir bem vestido à escola e usar gravatas. O menino de 8 anos adorava cantar e dançar, pescar com sua mãe e jogar com seu pai. Ele era um garoto inteligente que tirava notas altas, de acordo com seus pais.

    Eles não sabiam que, dois dias antes de sua morte, Gabriel tinha sido atacado por um estudante no banheiro masculino e ficado desacordado no chão durante sete minutos. Nesse período, vários outros estudantes passaram pelo menino, parando apenas para ridicularizar e chutá-lo, de acordo com a advogada – e com o vídeo do incidente captado pela câmera de segurança.

    A escola não ligou para a emergência e esperou mais de uma hora antes de ligar para Cornelia, e apenas para avisá-la que Gabriel tinha “desmaiado” e que seus “sinais vitais estavam bons”, segundo consta no processo. Os funcionários da escola disseram que responderam de maneira adequada ao incidente e que não havia como saberem que Gabriel tentaria se machucar.

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    Vídeo de Gabriel sendo atacado e caindo inconsciente no banheiro masculino na Escola de Ensino Fundamental Carson

    Após o incidente no banheiro, Gabriel disse à mãe que só lembrava de ter caído e machucado a barriga. Ela levou o menino a um hospital após uma crise de vômito e não deixou que ele fosse à escola no dia seguinte.

    Mas, no dia 26 de janeiro de 2017, o menino retornou à escola, uma “decisão que a mãe nunca teria tomado se soubesse da agressão”, afirmam os autos.

    Quando Gabriel voltou ao banheiro naquele dia, dois estudantes roubaram sua garrafa de água, jogaram-na no vaso e tentaram dar descarga. O menino relatou o ocorrido a um professor, que não tinha ciência da agressão anterior e “não reconheceu a seriedade do incidente”, afirma o processo.

    Naquela noite, após chegar em casa da escola, Gabriel se suicidou.

    Os funcionários da escola sabiam que Carson era uma “escola violenta” e que Gabriel era vítima de bullying e de outros “comportamentos agressivos” desde que tinha 5 anos e cursava o 1º ano do ensino fundamental, disse Jennifer Branch aos juízes. Eles sabiam que o menino fora vítima de “comportamentos agressivos” em pelo menos seis incidentes durante o 3º ano, mas só notificaram sua mãe sobre três, alegam os autos.

    “Eles também sabiam que o bullying pode levar ao suicídio”, disse a advogada, citando a política da escola que constata que o suicídio é um dos riscos conhecidos do bullying.

    Funcionários da escola “encobriram” o bullying e o comportamento agressivo vividos pelos estudantes, incluindo Gabriel, na Escola de Ensino Fundamental Carson, afirma o processo. Eles ocultaram informações dos pais de Gabriel sobre a extensão do bullying sofrido pelo menino, bem como sobre a agressão no banheiro registrada pelas câmeras, segundo os autos.

    “Se os pais de Gabe soubessem do perigo que o menino corria em Carson, teriam tirado ele de lá”, atesta o processo.

    A escola argumenta que Gabriel não sofria bullying de “padrão generalizado” porque nenhum dos seis supostos incidentes em que estava envolvido “compartilhava um mesmo padrão” ou era caso de “desentendimento recorrente com um mesmo estudante”. A escola também argumenta que seus funcionários foram “cuidadosos e solícitos” com Gabriel, punindo os estudantes acusados de praticar bullying.

    Aaron Herzig, advogado dos administradores da escola, argumentou na semana passada que os funcionários da escola não agiram com negligência e que não deveriam ser responsabilizados pela morte de Gabriel.

    Ruthenia Jackson, diretora da Carson, e Jeffrey McKenzie, vice-diretor, “agiram como se espera que administradores escolares ajam”, afirmou Herzig.

    Responsabilizá-los pelo suicídio de um estudante abriria “novas perspectivas para a responsabilização de escolas”, disse.

    “Todos nós sabemos que crianças de 8 anos em uma escola vão brigar e vão comportar-se mal de vez em quando”, prosseguiu. As leis de Ohio declaram que “a violência entre estudantes não é algo que pode ser controlado e erradicado pelos funcionários das escolas”, afirmou.

    Herzig arguiu que as alegações no processo não comprovaram que Jackson e McKenzie deveriam ter ciência de que Gabriel “estaria sob risco considerável de suicídio”.

    “Não houve nenhum ato de ignorância consciente de um risco conhecido [de suicídio] porque nem todo ato de violência entre dois estudantes leva ao suicídio”, afirmou Herzig.

    O advogado disse ainda que Jackson e McKenzie não tinham como prever que Gabriel se suicidaria porque a criança nunca apresentou ideações suicidas ou expressou depressão.

    Mas Jennifer Branch, advogada da família do menino, disse que os funcionários da escola devem ser processados “se estiverem mentindo para os pais”.

    “Porque os pais confiam neles para cuidar de seus filhos”, afirmou a advogada.

    O vídeo da câmera de segurança do incidente no banheiro, ocorrido dois dias antes da morte de Gabriel, mostra um estudante atacando os outros alunos.

    Quando Gabe entrou no lavabo, estendeu sua mão para o agressor. O estudante pegou a mão de Gabriel e o puxou em direção à parede, afirmam os autos. Gabriel bateu a cabeça em algo e caiu desmaiado no chão. O vídeo mostra que o outro estudante aparentemente comemorou o “nocaute” de Gabriel, segundo o processo.

    Mais de uma dezena de estudantes passaram pelo banheiro enquanto Gabriel estava caído inconsciente, aparentemente parando apenas para ridicularizar e chutar o menino, o que demonstra “o ambiente de tolerância com o bullying e a agressão em Carson”, declara o processo.

    O vice-diretor, McKenzie, aparece posteriormente no vídeo dando uma olhada em Gabriel. Em vez de verificar se o menino está respirando ou tentar ajudá-lo, McKenzie ficou “apenas parado lá, esperando a chegada de outras pessoas”, Jennifer Branch afirmou na audiência.

    Após a chegada da enfermeira da escola, Gabriel recobrou a consciência. A advogada disse que McKenzie e a enfermeira não observaram a política da escola de ligar para a emergência caso um estudante passe mais de um minuto inconsciente.

    Mais de uma hora depois, a enfermeira ligou para Cornelia e disse que Gabriel tinha “desmaiado”, “estava alerta” e seus “sinais vitais estavam bons”, segundo consta no processo. Quando Cornelia perguntou se seu filho precisava ir a um hospital, ouviu que não era necessário nenhum tratamento médico adicional, de acordo com o processo.

    O distrito escolar já havia declarado anteriormente que o tempo em que Gabriel ficou imóvel e a falta de supervisão por um adulto foram motivo de “apreensão”, mas acrescentou que os administradores escolares “agiram imediatamente segundo o protocolo” ao chamar a enfermeira da escola.

    A polícia e o Ministério Público de Cincinnati não apresentaram nenhuma denúncia relacionada à morte de Gabriel. O legista do Condado de Hamilton, que reabriu as investigações sobre a morte de Gabriel após a escola liberar o vídeo do incidente, encerrou a investigação sem acrescentar nada à causa original do suicídio, segundo reportagem da rede WCPO.

    “Até dar à luz a Gabe, Cornelia Reynolds não tinha noção de quanto amor tinha para dar”, diz a ação. “Sua vida está vazia sem seu único filho, sem seu melhor amigo.”

    Como pedir ajuda

    De acordo com o CVV (Centro de Valorização da Vida), o suicídio mata um brasileiro a cada 45 minutos — e poderia ser evitado em 9 de cada 10 casos.

    A entidade presta serviço voluntário e gratuito de amparo emocional com discrição. Os telefones são 188 ou 141, de acordo com a região do país. Mais informações: www.cvv.org.br.


    Este post foi traduzido do inglês.

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