Dois anos e meio atrás Lauren Miranda, uma professora do ensino médio em Nova York (EUA), estava se arrumando para sair de casa quando decidiu tirar uma selfie sem camisa e enviá-la ao seu namorado na época, também professor.
Em janeiro deste ano, Lauren, de 25 anos, foi chamada à sala do diretor da Bellport Middle School, em Long Island, onde dava aula de matemática desde 2015.
Antes de ir para a reunião, uma colega disse a Lauren que havia um boato de que uma foto dela nua fora obtida por um estudante adolescente. Lauren tinha certeza de que não era dela, porque ela nunca enviara nada parecido para um aluno.
Mas durante a reunião na sala do diretor — onde os homens eram a maioria dos presentes — um dos administradores da escola abriu a foto topless de Lauren no computador e mostrou para ela.
"Essa é você?", ele perguntou, segundo o advogado de Lauren, John Ray.
As autoridades da escola confrontaram Lauren sobre a selfie e acusaram-na de vazar a foto para os alunos.
Eles "tentaram realmente humilhá-la, repreendê-la e levá-la a se demitir", disse Ray ao BuzzFeed News na quinta-feira (4). Ela não se demitiu.
Poucos dias depois da reunião de 11 de janeiro, Lauren foi suspensa, mas com a manutenção do pagamento do salário. Na semana passada, foi demitida.
O superintendente do distrito escolar disse que ela não era mais um "exemplo" para os alunos porque seus seios apareceram na selfie, de acordo com Ray.
Lauren agora pretende processar o distrito escolar em US$ 3 milhões, alegando que foi vítima de discriminação ilegal de gênero.
"Se um homem tivesse tirado uma foto topless, ninguém diria nada", disse Ray.
Nenhum dos professores ou funcionários homens da escola que andaram sem camisa na área do ginásio ou da piscina foram repreendidos ou demitidos por ficarem de topless, acrescentou o advogado.
"A mentalidade ultrapassada de alguns homens vê sexualidade no que é só uma bela imagem", disse Ray. "Parece que o superintendente nunca recebeu o comunicado avisando que homens e mulheres são iguais."
Ray apresentou uma queixa ao distrito escolar na semana passada, o que geralmente é feito antes de entrar com uma ação contra um órgão do governo, dando ao distrito a chance de responder. Ray pretende apresentar a queixa formal em um tribunal federal em Nova York logo após receber essa resposta.
O superintendente, Joseph Giani, recusou-se a comentar o caso, dizendo na quinta-feira: "O distrito não comenta litígios em andamento".
Em uma carta que Giani enviou a Lauren em fevereiro explicando por que ele havia recomendado demiti-la, ele escreveu: "Você permitiu ou de alguma forma possibilitou que uma fotografia nua e/ou inadequada de si mesma fosse distribuída" aos estudantes e falhou em não tomar as "medidas de precaução adequadas" para impedir que sua foto se tornasse acessível a alunos.
A carta de Giani — fornecida ao BuzzFeed News pelo advogado de Lauren — também listou como uma das razões para a demissão: "Você enviou a um colega uma foto nua e/ou inapropriada de si mesma".
Lauren era uma professora bem avaliada pelo distrito antes do incidente, disse Ray.
Na queixa registrada na semana passada, Lauren acusou os funcionários do distrito escolar de objetificar as mulheres e de enxergar a parte superior dos corpos delas como "inerentemente lascivos e/ou perversos e/ou inerentemente ofensivos e vergonhosos pelo simples fato de que elas são mulheres".
Lauren Miranda disse ao BuzzFeed News na quinta-feira que não se arrepende de ter tirado a selfie de topless.
"Não sei por que tirei essa foto, mas, quando eu a olho agora, parece uma coisa tão pura. Sou eu no meu elemento natural", disse Lauren. "Essa sou eu."
O advogado dela, Ray, autorizou o BuzzFeed News a reproduzir a selfie, dizendo que Lauren "não tinha do que se envergonhar".
"Esconder a selfie seria sugerir que ela [Lauren] tem vergonha da foto, que é exatamente a situação em que o distrito escolar quer colocá-la."
Lauren disse que, em vez de investigar minuciosamente como sua selfie foi obtida por um estudante, o distrito escolar a discriminou porque ela é uma mulher e tem seios.
"O meu torso não é mais ofensivo que o torso de um homem", disse ela.
Lauren disse que se preocupa em saber como uma selfie enviada apenas de forma privada a um professor chegou nas mãos de um estudante, mas afirmou que não quer acusar ninguém.
Segundo ela, os funcionários da escola sabem que ela não havia enviado a selfie para um aluno.
"Eu não enviei isso para uma criança", ela disse. "Isso é absolutamente ridículo."
A maior preocupação de Lauren, disse ela, é o que sua ação significa para a igualdade de gênero.
"Os homens sexualizam nossos corpos o tempo todo. Eles culpam as mulheres por serem mulheres. Eles fazem a gente se sentir como depravadas, em vez de perceberem que estamos apreciando a beleza de nós mesmas", disse Lauren.
Lauren Miranda disse que o superintendente jamais poderia dizer que ela não é um exemplo para os alunos. "Eu sou um exemplo", disse ela. "Estou lutando por aquilo em que acredito."
Este post foi traduzido do inglês.