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Um TikTok viral abriu um debate sobre preconceito racial contra negros nos serviços de saúde

Um TikTok de uma médica branca fez as pessoas se conscientizarem de um problema que há muito afeta pacientes negros.

Um TikTok viral de uma médica em Portland, Oregon (EUA), sobre o racismo sistêmico nos serviços de saúde e as disparidades no tratamento de pacientes negros iniciou um grande debate online.

Jennifer Lincoln, uma gineco-obstetrícia branca, disse ao BuzzFeed News que não quer levar o crédito pelas informações sobre as quais falou em seu vídeo viral, já que não há nenhuma novidade ali. Ela e outros médicos disseram que apenas esperam que as pessoas finalmente prestem atenção.

Jennifer, de 38 anos, já havia postado vídeos educacionais anteriormente na plataforma, sendo que alguns deles também viralizaram. Mas o vídeo que ela postou na segunda-feira teve um alcance muito maior do que apenas dentro do TikTok. Um tuíte que compartilhou seu vídeo já foi retuitado mais de 160.000 vezes.

"Uma pesquisa realizada em 2016 entre estudantes e residentes de Medicina mostrou que 50% deles achavam que pessoas negras não sentiam dor da mesma maneira que as outras pessoas por possuírem uma pele mais grossa ou seus nervos funcionarem de uma maneira diferente", afirmou Jennifer no TikTok, citando essa pesquisa.

Essa estatística perturbadora é um "resquício do período da escravidão", continuou a médica. "Pessoas negras costumavam ser operadas sem anestesia e eram utilizadas em pesquisas sem seu consentimento."

O resultado, afirmou ela, é que americanos negros aguardam mais tempo em salas de emergência e são menos propensos a procurar tratamento médico, além de ser dada menor importância às dores relatadas por eles.

Jennifer disse ao BuzzFeed News que, no geral, tinha ciência desses preconceitos raciais implícitos existentes em sua profissão, mas que nunca havia pesquisado sobre isso.

"Eu tinha ciência disso, mas não tanta assim. Uma coisa que eu adoraria destacar é que essas informações não são novas. Outras pessoas negras já falavam sobre isso há anos. Isso só viralizou agora porque há uma pessoa branca divulgando essas informações? Isso por si só é o problema do racismo."

Jessica Shepherd, uma gineco-obstetrícia de Dallas, Texas que vem falando abertamente sobre injustiças raciais e suas experiências trabalhando como uma médica negra, disse ao BuzzFeed News que a comunidade negra há muito conhece e vivencia esses problemas levantados no TikTok de Jennifer Lincoln.

"Creio que a mensagem dela é mais importante para pessoas brancas. Nós já sabemos disso. Essas coisas acontecem conosco", afirmou Jessica.

"O sistema foi implementado [por pessoas brancas] para que, infelizmente, as pessoas negras não possam eliminar o racismo", prosseguiu. "Isso se torna um problema na Medicina porque há uma infraestrutura sistemicamente racista. É importante que todos saibam sobre o que está acontecendo, mas a mensagem dela é mais importante para que pessoas brancas compreendam e vejam isso."

Jessica apontou outros perigosos preconceitos implícitos contra americanos negros, por exemplo "como diabetes e hipertensão são tratadas" e como "isso pode ser diferente em pacientes negros e brancos".

"Não é apenas dizer 'ah, sabemos que na comunidade afro-americana a hipertensão pode se apresentar assim', mas 'por quê?'", afirmou Jessica. "É quando você realmente vai a fundo e percebe não apenas que isso é um problema, mas a razão pela qual isso é um problema."

Ela também acredita que as operadoras de planos de saúde e hospitais deveriam reexaminar suas políticas e preconceitos. Segundo Jessica – que afirmou saber que isso é um problema porque é ela quem preenche as solicitações de autorização de procedimentos –, as operadoras não oferecem a mesma cobertura em todos os estados.

Em áreas com uma grande população de negros, isso pode ser uma espécie de discriminação contra os cidadãos que mais precisam de cuidados.

"Eu já liguei para operadoras de planos de saúde e disse: 'Vocês aprovaram isso no Texas, por que não aprovam no Mississippi?'", disse a médica. "Afetando a comunidade afro-americana, isso afeta todo mundo. Nós, enquanto sociedade, temos a responsabilidade de enfrentar esses problemas"

Cedric "Jamie" Rutland, um médico intensivista de 39 anos que possui uma clínica no sul da Califórnia, disse ao BuzzFeed News que as desigualdades sociais existentes no setor não afetam apenas pacientes.

Ele lembrou um incidente ocorrido há dois meses: após tratar uma paciente branca diagnosticada com uma doença autoimune, a mulher ficou chocada ao saber que aquela era a clínica dele.

"Estávamos saindo do consultório e ela disse: 'Esta é sua clínica? Você é negro. Como você construiu isto?'", relatou Rutland. "Quando esse tipo de coisa acontece, rola meio que um estalo sabe, tipo: 'O que você estava pensando durante a consulta?' Isso acontece comigo o tempo todo."

Rutland disse que, quando começaram as manifestações após George Floyd ser assassinado sob custódia da polícia, ele começou a "pensar sobre todas aquelas situações" como essa que vivenciou.

"Como um cara negro, eu não posso simplesmente dizer: 'Você está sendo racista.' Porque a resposta é sempre: 'Você está transformando isso em algo sobre raça'", afirmou.

O TikTok de Jennifer Lincoln se tornou o ponto de partida para todo tipo de debate online sobre o motivo pelo qual certos grupos raciais possuem necessidades médicas diferentes das da população branca.

@AbebeEllie ALSO, proof it's not a genetic issue but social one: black 2nd-gen immigrants (born in US, parents are immigrants) have a HIGHER maternal mortality than black 1st-gen immigrants! Black girls raised in the US are exposed to stress from systemic racism from childhood and onward.

Jennifer disse que sempre se policia quanto está tratando um paciente não branco para determinar se um preconceito inconsciente está afetando o seu atendimento.

"Fico pensando: 'Eu faria isso se ela fosse a esposa do diretor executivo do hospital?' Isso é parte do meu policiamento interno. Cabe a nós realizar constantemente essa introspecção", ela afirmou.

Ela invocou outros profissionais da saúde brancos a examinarem seus próprios preconceitos.

"Tenham em mente que vocês podem andar por aí dizendo 'eu não sou assim, eu não sou explicitamente racista', mas muito desse racismo é sistêmico e implícito em nós. Ele começa bem cedo", ela acrescentou.

Jessica Shepherd está pedindo às pessoas brancas que ajudem a "mudar a trajetória" da história que estamos escrevendo – mesmo as que não são profissionais da saúde.

Ela quer as pessoas brancas se perguntem: "O que eu, enquanto indivíduo, posso fazer e quem eu posso alertar para chamar atenção para esse problema?"

Este post foi traduzido do inglês.

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