Após a crescente pressão doméstica para boicotar produtos fabricados na China, na segunda-feira o governo indiano ordenou o bloqueio de 59 aplicativos chineses, incluindo TikTok, WeChat, Shareit e Clash of Kings.
O governo indiano disse que a medida visa proteger informações pessoais contra o que ele chamou de "aplicativos maliciosos", que "prejudicam a soberania da Índia e a privacidade de nossos cidadãos".
Mas as tensões entre as duas potências nucleares vêm aumentando há semanas, após um confronto fronteiriço no Himalaia, em que forças chinesas mataram pelo menos 20 soldados indianos e em que um número desconhecido de soldados chineses morreu. O primeiro-ministro indiano Narendra Modi enfrentou críticas em seu país, que prejudicam sua imagem de homem forte e postura conciliadora em relação à China, contra a qual a Índia luta esporadicamente desde uma guerra que ocorreu em 1962.
"Embora o primeiro-ministro tenha pedido autonomia recentemente, a ideia teria sido desenvolver a capacidade do país, não boicotar produtos do segundo maior parceiro comercial da Índia", disse Abhishek Baxi, jornalista de tecnologia e consultor digital, ao BuzzFeed News. "Agir contra as marcas de smartphones seria muito mais complicado de executar, mas proibir aplicativos é um posicionamento político bem mais fácil."
Entre os 59 aplicativos, estão alguns dos mais populares — e controversos — do país. Em junho de 2019, a data mais recente com informações disponíveis, o aplicativo de compartilhamento de vídeos TikTok era usado por cerca de 200 milhões de pessoas no país. (O Tiktok não anunciou números de usuários mais recentes para o país.) Em abril de 2019, a Índia proibiu o aplicativo durante pouco mais de uma semana devido a preocupações com pornografia infantil.
Como a proibição mostrou, restringir aplicativos não é tão simples quanto um decreto do governo. Exige a cooperação da Google e da Apple, que administram as lojas onde os aplicativos são vendidos. Na segunda-feira, essas empresas ainda não haviam indicado se cumpririam ou não a ordem. Apple e Google ainda não responderam às solicitações de comentários.
Na noite de terça-feira, a TikTok divulgou uma declaração dizendo que os executivos da empresa haviam sido "convidados a se reunir com as partes interessadas do governo em questão para uma oportunidade de responder e dar esclarecimentos".
No início deste mês, a Google removeu um aplicativo chamado "Remove China Apps" da Play Store na Índia, que havia sido baixado 4,7 milhões de vezes e alegava verificar os telefones das pessoas em busca de aplicativos chineses e excluí-los.
A proprietária da TikTok, ByteDance, é uma das empresas mais valiosas do mundo, com valor superior a US$ 100 bilhões em maio, de acordo com a Business Insider. Com sede em Pequim, também é um dos principais vetores do "soft power" chinês, e sua popularidade gera preocupações no mundo inteiro, incluindo de senadores americanos, tribunais egípcios e reguladores australianos.
"Isso não é específico só da Índia", disse Abhijeet Mukherjee, fundador da Guiding Tech. "Tem havido um crescente descontentamento com o modo como alguns desses aplicativos 'podem' estar passando dos limites."
Entre as proibições, também estavam a plataforma de bate-papo em grupo WeChat, do conglomerado chinês Tencent, o jogo móvel Clash of Kings e o aplicativo de compartilhamento de arquivos ShareIt, que o BuzzFeed News noticiou em fevereiro que era usado por caxemires para evitar um desligamento da internet imposto pelo governo indiano. Vários aplicativos importantes de propriedade chinesa não foram incluídos, entre eles alguns aplicativos pertencentes à gigante chinesa de comércio eletrônico Alibaba.
Apesar de liberalizar suas políticas de investimento direto estrangeiro sob a gestão de Modi, recentemente o governo indiano mudou de rumo. Em abril, o Banco Central da China adquiriu uma participação de 1,01% do maior financiador de imóveis da Índia, e depois disso o governo indiano anunciou uma nova política destinada a reduzir o investimento chinês em empresas indianas. Embora o investimento chinês na Índia seja pequeno, seu capital está desproporcionalmente concentrado na indústria de tecnologia, com participações importantes em 18 das 30 maiores startups, de acordo com o site Hindu.
Este post foi traduzido do inglês.