Um grupo de executivos do eBay perseguiu e supostamente aterrorizou um casal de meia-idade por meses, após ficarem irritados com críticas escritas pelo casal em uma newsletter, disseram promotores federais dos EUA na segunda-feira.
Como parte da intimidação, os seis funcionários do eBay supostamente enviaram pacotes perturbadores ao casal, os promoveram assédio on-line e invadiram sua garagem para instalar um dispositivo GPS no carro.
Quando a polícia começou a investigar as acusações de intimidação do casal de Natick, Massachusetts (EUA), o advogado americano Andrew Lelling disse que os agora ex-funcionários do eBay tentaram atrapalhar a investigação criminal e, em determinado momento, começaram a compilar uma lista de pessoas que poderiam incriminar.
"Os executivos do eBay não estavam apenas descontentes com o relato do casal — eles estavam furiosos", disse Lelling em uma entrevista coletiva na segunda-feira. "O resultado, como alegado na denúncia, foi uma campanha sistemática alimentada pelos recursos de uma empresa da Fortune 500 para aterrorizar emocional e psicologicamente esse casal de meia-idade em Natick, com o objetivo de impedi-los de falar mal do eBay on-line."
Como parte da campanha de intimidação, os funcionários do eBay supostamente enviaram para o casal — que não foi identificado pelos promotores — uma máscara de porco ensanguentada, baratas vivas, um livro sobre como lidar com a morte de um cônjuge e pornografia que foi entregue na casa de um vizinho, mas em nome do casal.
"Foi um esforço sistemático e decidido de funcionários de alto cargo de uma grande empresa para destruir a vida de um casal", disse Lelling.
Na segunda-feira, a promotoria dos EUA em Massachusetts divulgou uma denúncia de 68 páginas contra James Baugh, ex-diretor sênior de segurança; David Harville, ex-diretor de resiliência global; Stephanie Popp, ex-gerente sênior de inteligência global; Stephanie Stockwell, ex-gerente do centro de inteligência global do eBay; Veronica Zea, ex-analista de inteligência que trabalhou como prestadora de serviços; e Brian Gilbert, ex-gerente sênior de operações especiais da equipe de segurança global do eBay e ex-capitão do departamento de polícia de Santa Clara.
Todos foram acusados de conspiração para cometer cyberstalking e conspiração para manipular testemunhas.
Em um comunicado, o eBay disse que foi notificado pela polícia sobre a investigação em agosto de 2019, mas não fez nenhum comentário público sobre o assunto devido à investigação estar em andamento.
"O eBay levou essas acusações muito a sério desde o início", afirmou a empresa em um comunicado. "Ao tomar conhecimento delas, o eBay agiu rapidamente para investigar minuciosamente e tomar as medidas apropriadas. A empresa cooperou completa e extensivamente com as autoridades policiais durante todo o processo."
Como resultado, a empresa disse que demitiu todos os funcionários envolvidos, incluindo um ex-diretor de comunicações não identificado, em setembro de 2019.
"O eBay não tolera esse tipo de comportamento", dizia o comunicado. "O eBay pede desculpas às pessoas afetadas e lamenta por elas terem sido submetidas a isso."
Uma investigação interna da empresa também descobriu que o então CEO do eBay, Devin Wenig, realizou comunicações "inapropriadas" sobre o casal que teria sido intimidado pelos funcionários, mas que "não havia provas de que ele soubesse antecipadamente ou autorizasse as ações que posteriormente foram dirigidas à blogueira e seu marido".
O eBay anunciou que Wenig deixaria a empresa em setembro; ao mesmo tempo a empresa também disse que seguiria em frente com a venda de ativos. Em um comunicado, a empresa afirmou que "havia várias considerações que levaram à saída de [Wenig] da empresa".
Promotores federais alegam que a intimidação do casal começou de fato em agosto de 2019, quando o casal publicou um artigo sobre um processo envolvendo a empresa.
Mas os executivos da empresa já estavam chateados há muito tempo com os artigos publicados na newsletter. De acordo com a denúncia, em abril de 2019, um executivo não identificado mandou uma mensagem após receber uma cópia da newsletter e de um artigo no Wall Street Journal: "Eles que se fodam", dizia a mensagem. "O jornal é o próximo na lista depois [da Vítima 1]."
O mesmo executivo, após ler outra newsletter, mandou uma mensagem para um colega da equipe de liderança: "Acabe com ela".
A intimidação que se seguiu incluiu o envio de pacotes estranhos e perturbadores para a casa do casal, às vezes entregues no meio da noite.
Depois, os funcionários supostamente criaram contas falsas no Twitter e um e-mail para intimidar o casal on-line, criticar sua newsletter e, às vezes, ameaçar visitá-los em casa.
Segundo os promotores, Baugh, Gilbert e Popp planejavam tornar as mensagens mais ameaçadoras ao longo do tempo e, por fim, divulgar dados pessoais do casal.
Depois que uma máscara de porco ensanguentada foi entregue na casa do casal, por exemplo, eles receberam uma mensagem direta no Twitter que dizia: "TENHO SUA ATENÇÃO AGORA?".
Os ex-funcionários também publicaram anúncios na Craigslist convidando "solteiros, casais e swingers" para festas na casa do casal após as 22h todas as noites, incentivando as pessoas a "bater em casa, dia ou noite".
Em agosto de 2019, Harville e Zea supostamente viajaram para a área de Boston com planos de vigiar o casal em sua casa.
Os dois se inscreveram em uma conferência de negócios para explicar a viagem à empresa, segundo as autoridades. Em vez disso, eles invadiram a garagem das vítimas e instalaram um dispositivo GPS — algo que os dois supostamente haviam treinado no estacionamento da sede corporativa do eBay.
Segundo as autoridades, os dois executivos estavam preocupados que pudessem ser parados pela polícia local enquanto seguiam o casal e carregavam documentos falsos para alegar que estavam investigando o casal por ameaçar os executivos do eBay, caso fossem questionados pelas autoridades.
As vítimas acabaram descobrindo que estavam sendo seguidas e contataram a polícia local, que procurou o eBay após descobrir que um dos veículos havia sido alugado por Zea.
Quando a polícia entrou em contato com o eBay, segundo as autoridades, os acusados mentiram para os policiais e para os advogados internos do eBay sobre seu real envolvimento na campanha de intimidação.
Baugh, Gilbert, Popp e Stockwell também teriam tentado dar à polícia uma lista de "pessoas de interesse" inventadas para incriminar outras pessoas na Califórnia.
Depois que o esquema foi descoberto, o procurador americano Lelling disse que o eBay foi "extremamente cooperativo com a investigação para ajudar as autoridades estaduais e federais a descobrir o que aconteceu".
Caso sejam condenados, os ex-funcionários do eBay podem pegar até cinco anos de prisão e receber uma multa de até US$ 250.000.
Este post foi traduzido do inglês.