O Facebook diz que “atua firme contra o ódio”. Mas está exibindo um anúncio de nacionalistas brancos.

    Desde 4 de julho, o Facebook está exibindo um anúncio de uma página chamada “White Wellbeing Australia (Bem-estar Branco Austrália)”.

    Mark Zuckerberg

    Na terça-feira, antes de uma reunião com organizações de justiça social e da divulgação de uma auditoria de direitos civis que levou dois anos para ser concluída, Sheryl Sandberg, diretora de operações do Facebook, escreveu em sua página pessoal que a empresa “atua firme contra o ódio”.

    Mas, no momento em que Sandberg apertou “publicar”, a rede social estava exibindo um anúncio de uma página no Facebook de nacionalistas brancos.

    Desde 4 de julho, a empresa está exibindo um anúncio da “White Wellbeing Australia”, uma página do Facebook com 386 seguidores criada há dois meses que já postou sobre um suposto “#genocídiobranco” e propagou o medo do apagamento de crianças brancas.

    “Pessoas brancas representam apenas 8% da população mundial, então se enchermos todos os países de maioria branca com não brancos, eliminaremos as crianças brancas para sempre”, era o que estava escrito no anúncio da White Wellbeing Australia no Facebook, acompanhado de um desenho de uma mulher branca. “Ainda haverá um bilhão de africanos na África, um bilhão de indianos na Índia e dois bilhões de asiáticos na Ásia.”

    A photo of a White Nationalist ad that was running on Facebook.

    Nenhum porta-voz do Facebook respondeu aos nossos pedidos de comentário sobre o anúncio a tempo da publicação desta matéria.

    O anúncio coincide com um momento particularmente tenso para o Facebook, no qual enfrenta um boicote de grandes anunciantes, além da pressão interna de funcionários pelo modo como lida com conteúdo de ódio e racista. Seus executivos já prometeram que a empresa está esforçando-se para esclarecer e aplicar suas políticas – particularmente após a decisão de não tomar nenhuma atitude contra uma publicação do presidente Donald Trump que sugeria o uso de violência contra manifestantes.

    Mas os críticos estão ficando cansados de promessas.

    Anteontem, após uma reunião com Mark Zuckerberg, diretor-executivo do Facebook, Sandberg e outros líderes da empresa, os organizadores do boicote de anunciantes disseram que escutaram apenas “a mesma ladainha de sempre”.

    “Estou profundamente decepcionada pelo fato de o Facebook ainda se recusar a ser responsabilizado perante seus usuários, seus anunciantes e a sociedade em geral”, disse Jessica J. González, codiretora-executiva do Free Press, um dos grupos responsáveis pela campanha de boicote #StopProfitForHate. “Eu esperava ver mais humildade e uma profunda reflexão sobre o enorme papel que o Facebook desempenha na formação de crenças, opiniões e comportamentos, além dos muitos danos que a empresa causou e facilitou na vida real. Em vez disso, vimos mais diálogo e nenhuma ação.”

    Zuckerberg, que controla a empresa por ser o seu acionista majoritário, resistiu aos apelos para responsabilizar-se pelo conteúdo da plataforma, uma posição que ficou ainda mais evidente na quarta-feira, com a divulgação da tão esperada auditoria de direitos civis feita sobre o Facebook.

    Publicado na quarta-feira, a investigação que durou dois anos concluiu que as decisões da empresa “representam graves retrocessos para os direitos civis”, incluindo a não remoção de uma publicação do presidente Trump alegando o envio “ilegal” de cédulas de ausência da votação e de outra falando que “quando os saques começarem, o tiroteio começará.”

    “Mesmo que nem sempre aplicada, as alterações da política da empresa demonstraram ao público, seus próprios funcionários e entidades reguladoras que a única coisa que falta nos esforços de liderança do Facebook é sua própria vontade e coragem política”, declarou Rashad Robinson, presidente do grupo de direitos civis Color of Change. “Eliminar o ódio e a desinformação contra pessoas negras da plataforma só se tornou uma prioridade quando tiveram de enfrentar uma crise de RP.”

    Robinson criticou a empresa por não ter criado uma diretoria para cuidar de direitos civis, apesar de o Facebook ter criado o cargo de vice-presidente sênior de direitos civis, que reportará através do departamento legal da empresa a Sandberg. A empresa também deixou claro que não está legalmente obrigada a seguir nenhuma das sugestões da auditoria.

    Em junho, o BuzzFeed News descobriu que a empresa estava exibindo conteúdo pago pelo movimento Boogaloo, um grupo de extremistas antigoverno que prega a violência contra policiais e funcionários públicos. O anúncio nacionalista branco encontrado pelo BuzzFeed News na quarta-feira deixa claro que o Facebook ainda não eliminou o conteúdo de ódio de sua plataforma e ainda continua lucrando com isso.

    Segundo sua página no Facebook, a criadora do anúncio, White Wellbeing Australia, afirma ser uma “comunidade para o bem-estar” que busca “compartilhar informações e permitir que pessoas com as mesmas ideias criem contatos on-line e na comunidade”. Como o anúncio não foi classificado como causa política, a biblioteca de anúncios do Facebook não divulga quanto foi gasto no conteúdo pago ou para quem é direcionado. O anúncio começou a ser exibido em 4 de julho.

    Criada em 25 de abril e administrada na Austrália, a página já publicou memes e conteúdos racistas sugerindo que os brancos deveriam “proteger seu povo”. Em uma publicação de 23 de maio, a página escreveu que ”antibrancos usam o mito da 'complexidade' para justificar a substituição e os danos a crianças brancas em todos os países de maioria branca.”

    “Não é necessário ser um gênio para compreender que Demografia é Destino”, lia-se na publicação, acompanhada de uma imagem na qual estava escrito “#GenocídioBranco”.

    O BuzzFeed News entrou em contato com o administrador da página, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.

    Este post foi traduzido do inglês.

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