Escândalo do caixa 2 do WhatsApp estourou quando o Facebook anunciava seu gabinete de crise nos EUA

    QG contra desinformação nos Estados Unidos veio à luz junto com a revelação de um esquema de empresários pró-Bolsonaro para pagar distribuição de mensagens anti-PT no WhatsApp no Brasil.

    A revelação do jornal Folha de S.Paulo da existência de um esquema de caixa dois de empresários pró-Bolsonaro para distribuir mensagens anti-PT pelo WhatsApp ocorreu no mesmo dia em que o Facebook, dono do aplicativo de mensagens mais popular do Brasil, levou jornalistas de meios como a CNN e Recode para conhecer o seu "gabinete de crise" para combater desinformação e fake news na plataforma.

    O timing do embargo – um acordo entre os veículos de comunicação para publicarem ao mesmo tempo uma informação originária de uma mesma fonte, no caso o Facebook – e as revelações do escândalo envolvendo o WhatsApp na campanha brasileira põem em questão exatamente como o Facebook é capaz de monitorar a desinformação partidária e as notícias falsas, especialmente no Brasil, país em que os grupos de troca de mensagens instantâneas são extremamente populares.

    "Nós sabemos que quando se trata de eleições, cada momento conta", disse Samidh Chakrabarti, executivo-chefe de eleições e engajamento civil do Facebook, ao The Verge, durante a visita às instalações do gabinete de crise da companhia. "Portanto, se houver problemas de última hora na plataforma, precisamos detectar e responder em tempo real, o mais rápido possível".

    Desinformação no WhatsApp tem sido uma grande dor de cabeça para autoridades brasileiras, jornalistas e agências de checagem de informação. Cerca de 40% dos 207 milhões de habitantes do país usam o app. As mensagens do WhatsApp são criptografadas, o que torna virtualmente impossível saber como os atores políticos estão usando o app.

    Facebook tem banido páginas que violam seus termos de uso na rede social, mas é incerto qual o efeito sobre o WhatsApp, sem que a criptografia (que garante o sigilo das comunicações) seja quebrada. Em um post para o seu blog em setembro, Mark Zuckerberg escreveu que os moderadores do WhatsApp e do Facebook coordenam o banimento a usuários mal-intencionados.

    “Nós não temos uma bola de cristal para prever cada tática [de desinformação]", afirmou Nathaniel Gleicher, o diretor de cibersegurança do Facebook, Nathaniel Gleicher, ao jornal britânico The Guardian, durante a visita às novas instalações da companhia.

    De acordo com o canal CNBC sobre o gabinete de crise, representantes do WhatsApp e do Instagram integram a iniciativa de integridade eleitoral ao lado do Facebook. O que torna o WhatsApp muito diferente do Instagram ou do Facebook é que cada mensagem e grupo privado é criptografado de ponta a ponta - o que significa que até a própria empresa não consegue ler as mensagens. Por isso, não está claro o que o WhatsApp poderia fazer para impedir o abuso em sua plataforma sem quebrar essa criptografia.

    É assim que a campanha de desinformação do WhatsApp, descoberta pela Folha, parece estar funcionando. As empresas de apoiadores de Bolsonaro, como a Havan do empresário Luciano Hang, citado pelo jornal, compram um serviço chamado "disparo em massa", usando a base de usuários do próprio candidato ou cadastros de números de usuários de WhatsApp vendidas por agências de estratégia digital. Quando usam bases de terceiros, essas agências oferecem segmentação por região geográfica e, às vezes, por renda, segundo a reportagem do jornal.

    A Folha alega que alguns desses empresários pró-Bolsonaro bancam ações de distribuição que chegam a custar R$ 12 milhões de reais. Não se trata apenas de abuso do WhatsApp, mas também de crime eleitoral no Brasil. As doações por parte de empresas a candidatos e partidos foram proibidas no país pela última reforma eleitoral. Também é ilegal comprar cadastros de usuários de telefone.

    Embora seja impossível saber - aparentemente até mesmo para os moderadores do WhatsApp - o que está acontecendo em uma conversa ou grupo particular - é possível monitorar grupos públicos. O Monitor de WhatsApp, construído pelo grupo de verificação de fatos Eleições Sem Fake, ligado à Universidade Federal de Minas Gerais, mostra que a plataforma é tão cheia de desinformação quanto o Facebook.

    Fabrício Benevenuto, professor da UFMG e criador do Monitor de WhatsApp, disse ao BuzzFeed News que a ferramenta reúne dados de 350 grupos do WhatsApp durante esta campanha eleitoral. O monitor reúne diariamente imagens, vídeos, arquivos de áudio, links e mensagens de texto.

    "Não sabemos até que ponto os grupos públicos representam grupos privados", disse Benevenuto.

    "Mas é razoável supor que uma campanha de desinformação maliciosa poderia tentar maximizar a audiência de uma história falsa, compartilhando-a em grupos públicos existentes. Então, acreditamos que esses grupos são a porta para a desinformação atingir os grupos privados".

    Benevenuto e mais dois pesquisadores publicaram um artigo no jornal americano The New York Times na quarta-feira em que relatam que a maioria das imagens que viralizaram via WhatsApp continha algum tipo de informação falsa.

    "De uma amostra de mais de 100 mil imagens políticas que circularam nesses 347 grupos, selecionamos os 50 mais amplamente compartilhados", escreveram eles no artigo. "Oito dessas 50 fotos e imagens foram consideradas completamente falsas; 16 eram imagens reais, mas usadas fora de seu contexto original ou relacionadas a dados distorcidos; quatro eram afirmações infundadas, não baseadas em uma fonte pública confiável. Isso significa que 56% das imagens as imagens mais compartilhadas eram enganosas, e apenas 8% das 50 imagens mais amplamente compartilhadas eram consideradas totalmente verdadeiras. "

    As mensagens virais e os grupos de WhatsApp são o principal pilar da campanha de Bolsonaro.

    De acordo com uma pesquisa do Datafolha, 60% dos eleitores lêem a maioria de suas notícias no WhatsApp. Bolsonaro anunciou em um vídeo no Facebook no sábado, que se ele se tornar presidente, ele pretende mudar uma regra criada pelo WhatsApp que limita a quantidade de mensagens simultâneas que um usuário pode enviar de uma só vez. Ele também quer tornar mais difícil para os juízes brasileiros suspenderem o serviço WhatsApp no ​​país, o que aconteceu três vezes entre 2015 e 2016.

    Um porta-voz do WhatsApp disse ao BuzzFeed News que a companhia está usando tecnologia de detecção de spam para moderar a plataforma.

    “WhatsApp tem proativamente banido centenas de milhares de contas durante a eleição brasileira. Nós temos a melhor tecnologia de detecção de spam do mercado que identifica contas que têm comportamentos anormais ou automatizados para que não sejam usadas para espalhar spam ou desinformação ", afirmou a empresa.

    O BuzzFeed News entrou em contato com o Facebook para comentar.

    Este post foi traduzido do inglês.

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