Para onde vai o movimento pró-Trump se ele for derrotado

    Entrevistas com apoiadores do magnata mostraram padrões: além da desilusão com Partido Republicano, muitos acreditam que a eleição está sendo fraudada e que o candidato deve contestar o resultado.

    WASHINGTON — Donald Trump sempre se refere a seus apoiadores como um movimento. E é verdade. Os apoiadores de Trump surgiram como uma nova e poderosa força na política americana, um movimento populista e nacionalista que não se encaixa nem na divisão "conservadores X establishment", que tem caracterizado a política republicana, nem "esquerdistas X liberais moderados", do Partido Democrata.

    Mas é incerto o destino desse movimento caso Trump seja derrotado — o que parece quase certo, mesmo após novas revelações no caso dos e-mails de Hillary Clinton. O movimento pró-Trump existe sem Trump? Para onde seus apoiadores irão após 8 de novembro? O futuro está em jogo.

    Entrevistas com apoiadores de Trump de vários Estados em comícios recentes mostraram alguns padrões. Quase todos acreditam que a eleição está sendo fraudada e que Trump tem o direito de contestar os resultados. A maioria está desapontada ou irritada com os republicanos por eles não apoiarem totalmente o candidato, e alguns, embora não todos, disseram que já se encheram do Partido Republicano. Além disso, grande parte promete que não vai desaparecer.

    “Eu não acredito que o Partido Republicano voltará a ser o que era”, disse Linda Hudson, 65, moradora da Carolina do Sul, que participou de um comício de Trump em Fletcher, na Carolina do Norte. “Eu provavelmente continuaria a votar [neles] porque tenho um sentimento forte sobre isso, mas não vou participar de mais nada."

    “Trump está lutando por seus eleitores”, disse Stacy Whitted, 46, de Chesapeake, Virginia, em um comício em Virginia Beach. “Então não quero que ele desista. Eu acredito que [o resultado da eleição] será fraudado. Mas acho que ele deve lutar porque está lutando por seus eleitores que queriam sua vitória."

    No entanto, se Trump for derrotado, disse Whitted, "Acho que ele vai nos incendiar ainda mais e tentar expulsar Hillary. Pedir a prisão dela. Brincadeirinha."

    "Eu acho que esse sentimento vai continuar dentro do Partido Republicano. Creio que haverá mudanças dentro dele, que o establishment [do partido], que acredita ser capaz de tomar o poder novamente, ficará bem surpreso", disse Rachel McKinney, 81, de Shippensburg, Pensilvânia, no discurso de Trump em Gettysburg, na semana passada.

    Os comícios de Trump a essa altura lembram o show de uma banda de rock idolatrada ou uma convenção de ficção científica. Há roupas temáticas: camisetas pedindo a prisão de Hillary, camisetas do Exército Trump, camisetas ofendendo a rival e, como não podia faltar, bonés com o slogan "Make America Great Again" ["Torne a América Grande Outra Vez"].

    Há slogans como: "construa o muro", "prendam-na", e, a nova inclusão, "seque o pântano". Mas o que mais faz lembrar as multidões que apoiam Trump é um tipo de subcultura, uma bolha que existe dentro de sua própria realidade. Em vez de se expandir fora dessa bolha durante as eleições como candidato, Trump fez o oposto, intensificando os apelos a seus apoiadores mais fervorosos enquanto continuou a ofender quase todos os demais.

    E Trump foi ficando cada vez mais conspiratório com o passar do tempo, principalmente após a revelação da fita do Access Hollywood e as denúncias de abuso sexual. Agora, em todos os comícios, ele discursa sobre um sistema fraudulento e uma eleição fraudada, com elites globais e uma mídia corrupta trabalhando em conjunto contra ele — e contra seus apoiadores. A ligação de Trump com seu público é inegável. E, quando ele diz ao público que não apenas ele, mas que eles também são vítimas de uma conspiração da elite, todos acreditam.

    "A mídia não está apenas contra mim, ela está contra todos vocês", disse Trump a uma multidão em St. Augustine, Flórida.

    Em Sanford, na Flórida, ele falou com um tom apocalíptico sobre o que pode acontecer com o movimento sem sua presença. Ele pareceu desconsiderar a ideia de que outro republicano possa herdar o que ele iniciou.

    "Essa é a última vez que teremos uma chance", disse ele. "Quatro anos e acabou. Acabou. Em quatro anos vocês não terão uma chance. Todo esse pessoal que quer concorrer daqui 4 anos, eles podem esquecer. Eles estão perdendo tempo."

    Os comícios de Trump são seu próprio ecossistema. E eles têm as suas próprias verdades, desconfiando da mídia mesmo quando essas verdades vêm de meios tradicionais. Em diversos comícios durante a última semana, Trump mencionou a notícia da doação de 675 mil dólares feita por um aliado do governador da Virgínia – Terry McAuliffe, uma pessoa próxima do casal Clinton – para a campanha ao Senado de uma esposa de um agente do FBI. Esta notícia foi divulgada em primeira mão pelo jornal "The Wall Street Journal". Em Tallahassee, um eleitor que estava posicionado próximo à imprensa encarou os repórteres e disse: "Por que a mídia não noticia isso?".

    Como a reportagem dessa semana na Bloomberg Businessweek deixa claro, a equipe de Trump tenta aproveitar o movimento para fins futuros incertos. Falatórios sobre uma possível empreitada na mídia continuam, estimulados pelas novas transmissões ao vivo da campanha de Trump via Facebook que vêm acontecendo com regularidade. Movimentos populistas nacionalistas em outros países surgiram como um espinho persistente do lado de partidos políticos do sistema. No entanto, o Trumpismo, até agora, é mais disforme. Apesar disso, seus seguidores prometem sua permanência.

    Steve Bannon, presidente da Breitbart que atua no momento como CEO da campanha de Trump, tem há anos como alvo o establishment do Partido Republicano. Trump ter se tornado o candidato do partido não alterou isso. Breitbart ficou ainda mais agressivo com os caciques do partido, como Paul Ryan, que recentemente foi acusado sem provas de apoiar Hillary Clinton. Os projetos políticos de Bannon e Breitbart parecem ter menos a ver com a permanência no partido do que com a criação de algo muito diferente. Se o Trumpismo é reconhecido como um movimento populista nacionalista, isso parcialmente se deve ao fato que a expressão é a nomenclatura preferida de Bannon e Breitbart.

    “Vencendo ou perdendo, isso não vai desaparecer”, disse Barry Casper, 56, no comício de Trump em Newtown, Pensilvânia , na última semana. "Um monte de coisas não vão desaparecer. Todas as revelações do Wikileaks permanecerão vivas. Você foi a algum dos comícios? Bem, então você sabe. Eu sou bem mais velho do que você e nunca vi nada como isso, e olha que eu estou envolvido na política desde 1980."

    Na semana passada, duas mulheres no comício de Trump em Fletcher, Carolina do Norte, disseram que agora elas estão além dos dois principais partidos políticos dos EUA – o Partido Republicado e o Partido Democrata.

    “Eu já estou cheia dos republicanos”, disse Diane, 67, da Carolina do Sul.

    “Eu já estou cheia de todos eles”, disse Alice, 61, de Asheville, Carolina do Norte.

    Elio Hernandez, 66, apoiador de Trump de Naples, Florida, que emigrou da Venezuela 45 anos atrás, disse ter dúvidas sobre seu futuro como um republicano "ao menos que eles [o Partido] mudem".

    "Eu nunca me tornaria um democrata", disse ele. "Mas ser um republicano hoje, da maneira como o partido está... Eu acho que eles fazem parte de um sistema que, enquanto o dinheiro estiver indo para as mãos deles, eles não se importarão com o que acontece com você.”

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