Bombardeios encurralam civis de Aleppo e ONU descreve "ataque contra humanidade"

    Aliados do regime de Bashar Al-Assad discordam sobre plano de evacuação de pessoas em área controlada pela oposição. Há relatos de que civis estão sendo retirados de suas casas e sendo fuzilados por soldados do governo.

    A vida de milhares de civis e de rebeldes que estão presos dentro da área leste de Aleppo, na Síria, ficou por um fio na última quarta-feira (14).

    Um frágil cessar-fogo, declarado na terça (13), parece ter sido quebrado com a retomada dos ataques aéreos do governo da Síria e por disparos da artilharia feitos por rebeldes na última parte de Aleppo sob o controle da oposição.

    "Centenas de bombardeios, mortos e feridos nas ruas. Ninguém sai. SOS", contou um ativista sírio em Aleppo a um grupo de jornalistas em um grupo do WhatsApp. "Queremos sair. Não queremos mais massacres. O que está acontecendo?"

    A Rússia, que é o principal apoiador do regime sírio, e a Turquia, que defende os rebeldes, concordaram com um plano de evacuação na terça, em que civis e rebeldes deveriam deixar Aleppo e serem realocados para áreas controladas pela oposição no norte da Síria.

    No entanto, o acordou começou a mostrar suas fragilidades assim que foi declarado, quando o regime Sírio e o Irã, outro país que apoia o ditador Bashar Al-Assad, passaram a fazer novas exigências. Os ônibus do governo que fariam o transporte chegaram à cidade para deslocar a população, mas nenhuma pessoa embarcou.

    Nem a Síria nem o Irã — nem o conjunto de milícias sob o comando do governo de Teerã — aparentemente assinaram o acordo. Um representante de um dos grupos rebeldes de Aleppo descreveu uma cena extraordinária na terça, em que oficiais russos e iranianos quase se agrediram por causa do plano de evacuação. "Depois que levamos os feridos para o local de evacuação, os iranianos vieram e quiseram interferir", disse o representante dos rebeldes, em uma mensagem de áudio gravada enviada para os jornalistas. "Os russos se opuseram e começaram a discutir uns com os outros".

    A retomada dos confrontos pareceu pegar o governo de Moscou desprevenido. Um dia antes, o embaixador russo nas Nações Unidas declarou que a ação militar no leste de Aleppo tinha acabado e que o governo sírio tinha controle das áreas dos rebeldes, terminando uma batalha de quatro anos para controlar a cidade, conforme relatou a Associated Press.

    O embaixador russo, Vitaly Churkin, fez o pronunciamento em uma Reunião de Emergência do Conselho das Nações Unidas. "Agora tudo está sob controle do governo sírio, então não há necessidade de os civis que restaram irem embora. Há acordos humanitários em ação", disse Churkin na terça, de acordo com a NBC.

    O governo da Síria, com o apoio da Rússia e do Irã, lentamente estendeu seu controle sobre a antiga capital econômica do país, Aleppo. Desde o começo da última ofensiva das forças de Assad, no início de novembro, os rebeldes e os civis que vivem na cidade tiveram seu abastecimento de medicamentos, comida e água limpa cortados.

    A crise na cidade chamou a atenção do mundo. O porta-voz humanitário das Nações Unidas, Jens Laerke, descreveu um "ataque completo contra a humanidade em Aleppo". Houve relatos de que civis, incluindo mulheres e crianças, estavam sendo retirados de suas casas e sendo fuzilados por soldados do governo da Síria.

    Na terça, o porta-voz do comitê de direitos humanos das Nações Unidas, Rupert Colville, citou relatos de que 82 civis, incluindo 11 mulheres e 13 crianças, foram fuzilados por forças pró-governo. As agências das Nações Unidas mencionaram "evidências" que, em quatro distritos (Bustan al-Qasr, al-Ferdous, al-Kallaseh e al-Saleheen) no leste de Aleppo, as forças pró-governo sírio entraram em casas e atiraram em civis. "Os relatos que recebemos são de pessoas sendo mortas na rua tentando fugir e sendo fuziladas em suas casas", disse Colville.

    Falando com a imprensa rapidamente em Genebra, na Suíça, ele disse que as Nações Unidas temem que existam "muito mais" vítimas. "Na noite de ontem, recebemos relatos perturbadores de que muitos corpos estavam pelas ruas", disse Colville. "Os moradores não conseguiam coletá-los devido ao intenso bombardeio e o medo de serem fuzilados".

    Além disso, segundo a ONU, trabalhadores de resgate da Defesa Civil Síria, normalmente chamados de Capacetes Brancos, "estão sob risco de violações graves, incluindo detenção, tortura e assassinato". A ONU pediu para ter acesso, ao lado de outras organizações humanitárias, a partes de Aleppo que agora estão sob ataque.

    Muitos moradores fizeram relatos desesperados nas redes sociais, conforme o governo sírio atacava a área de não mais do que 1,6 quilômetro quadrado que ainda estava sob o controle dos rebeldes da oposição.

    Abdelkafi al-Hamdo, professor e ativista, foi um dos que se pronunciaram pelo Twitter.

    A conta do Twitter de Bana Alabed, de 7 anos, que atraiu atenção internacional, enviou uma mensagem no início da manhã de terça.

    O Observatório Sírio de Direitos Humanos, baseado no Reino Unido, disse na terça que 415 civis e 364 rebeldes morreram em Aleppo oriental desde 15 de novembro. Além disso, 130 civis da Aleppo ocidental foram mortos por morteiros dos rebeldes.

    Grupos de ajuda humanitária estão cada vez mais desesperados para ter acesso à parte sitiada da cidade. Tendo negociado com o regime e as forças russas por uma janela de 3 dias para deslocar os feridos e as crianças, as organizações humanitárias recentemente imploraram por uma pausa de três horas dos bombardeios das forças de Assad. O pedido foi negado.

    Estima-se agora que o governo controle aproximadamente 99% da cidade. O número de civis ainda na parte oriental da cidade é desconhecido. Antes do último ataque do governo, as Nações Unidas estimavam a população em cerca de 250 mil, mas os oficiais próximos do governo sírio disseram que os números eram menos da metade disso. Nas últimas semanas, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, cerca de 120 mil fugiram da área sitiada, enquanto que observadores russos estimavam esse número em cerca de 78 mil.

    Este post foi traduzido do inglês.

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