Refugiados sofrem em abrigos improvisados que chegam a marcar -15ºC

    Crianças e adolescentes desacompanhados vivem em depósito abandonado atrás da principal rodoviária da Sérvia; governo diz que abrigos oficiais têm capacidade para todos, mas refugiados contestam informação.

    Milhares de refugiados da Síria, do Iraque e do Afeganistão estão suportando condições "aterradoras" em Belgrado, capital da Sérvia, acampados em locais onde a temperatura chega a marcar -15ºC.

    Cerca de 7.200 refugiados hoje estão no país, de acordo com a Acnur (agência das Nações Unidas para os refugiados). Embora a maioria esteja abrigada em acampamentos administrados pelo governo, trabalhadores humanitários estimam que cerca de 2.000 vivem nas ruas ou em abrigos montados em um depósito abandonado atrás da principal rodoviária da capital.

    O International Rescue Committee [Comitê Internacional de Resgate] estima que "várias centenas" dessas pessoas sejam crianças. Uma delas é Ajmal, de 17 anos. Ele vive em Belgrado há um mês, após fazer a difícil jornada até o país vindo do Afeganistão.

    "No momento está muito difícil, minha vida está muito difícil", contou Ajmal (nome fictício) ao BuzzFeed News pelo telefone, da Sérvia. "Está muito frio, eu tenho muitos problemas: com a comida, com a roupa, com tudo."

    "Eu durmo onde posso. Eu sou sem-teto aqui. Eu não tenho uma casa ou uma barraca para dormir, é muito difícil. Nós estamos fazendo fogueiras todas as noites, mas eu não consigo me manter aquecido."

    O adolescente tentou passar pela fronteira da Turquia três vezes. Ele está desesperado para seguir em frente e para continuar os estudos para ser médico ou engenheiro e "ajudar meu país". Ajmal foi forçado a fugir do Afeganistão após sua escola, perto de Cabul (capital), ser atacada por rebeldes. "Eu não queria ir embora, mas eu não podia mais estudar", disse ele. "Se eu voltar, eles me matarão".

    Além do frio, Ajmal diz que conseguir comida é difícil. Quando ele falou com o BuzzFeed News, ele disse que não comia uma refeição decente há dias. "Eu tenho uma vida muito difícil", disse ele. "E eu estou sozinho."

    Gemma Gillie, porta-voz da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), descreveu as condições do depósito como "inimagináveis". Falando de Belgrado com o BuzzFeed News pelo telefone, Gillie disse que o local — atualmente o único abrigo disponível para a maioria dos recém-chegados — está lotado, sujo e com partes do teto faltando.

    Recentemente, ela conheceu um garoto de 15 anos do Afeganistão. Ele tinha acabado de chegar em Belgrado com seu irmão de 8 anos. Apesar das condições aterradoras, os dois ficaram no depósito, já que "não havia nenhum outro lugar para eles irem".

    "Essas pessoas estão em um local onde chega a acumular mais de 30 cm de neve e onde a temperatura chega a -15ºC", disse ela. "Isso não é aceitável."

    Embora o governo sérvio tenha alegado que nenhuma mulher ou criança esteja dormindo em condições precárias, trabalhadores humanitários relatam o contrário. "Há muitos adolescentes", disse Gillie. "Metade das pessoas que estamos tratando em nossa clínica móvel tem menos de 18 anos."

    Todos Gardos, pesquisador da Anistia Internacional, contou ao BuzzFeed News que havia conversado com "várias" crianças "completamente sozinhas" com menos de 15 anos em Belgrado. Uma delas, segundo ele, tinha apenas 11 anos de idade.

    "É uma situação muito precária, especialmente para as crianças." Além de serem mais vulneráveis ao clima, disse ele, as crianças também sofrem o perigo de serem vítimas de traficantes e de serem estupradas. "É absolutamente horrendo."

    Na quinta (12), médicos e enfermeiros trabalhando em uma clínica temporária do MSF atenderam sete casos de queimadura pelo frio – incluindo um senhor de 60 anos que não conseguia mais andar após ficar com a perna infeccionada pela queimadura. "Nossos médicos acreditam que até o fim da semana este número será muito maior", disse Gillie. "É assustador".

    A Sérvia, que não faz parte da União Europeia, é uma das principais rotas usadas por muitos refugiados e migrantes que tentam entrar na União Europeia. O governo sérvio já tentou reprimir esse fluxo, impedindo que ONGs, voluntários e grupos da sociedade civil forneçam comida ou roupa aos refugiados — a não ser que eles estejam em um acampamento oficial.

    Aleksandar Vulin, o ministro do Trabalho, Emprego, Veteranos de Guerra e Questões Sociais da Sérvia, diz que os acampamentos oficiais têm espaço para todos os refugiados e os que escolhem não ir para um deles estão por sua própria conta e risco.

    No entanto, Gardos, da Anistia, disse que muitos daqueles com quem sua organização conversou haviam tentado entrar em abrigos do governo, mas foram recusados pelas autoridades. "Eles ouviram: 'não há lugar para vocês, os centros estão cheios, voltem mais tarde'."

    Este post foi traduzido do inglês.

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