• newsbr badge

2017 não foi só desgraça: os desastres estão causando menos mortes do que antes

Apesar dos furacões, incêndios e de uma iminente ameaça de guerra nuclear, o número de mortes decorrentes de desastres foi relativamente baixo neste ano.

Isso pode soar surpreendente em um ano que mais pareceu um barril de pólvora, mas, salvo ocorra alguma catástrofe nos próximos dias, os desastres em 2017 terão causado menos mortes pelo mundo do que na maioria dos demais anos da história recente.

Os gráficos abaixo mostram o total de mortes e o número de desastres anuais registrados desde 1960 pela International Disaster Database (Base de Dados Internacional Sobre Desastres), que mantém registros de eventos naturais — tais como furacões, terremotos e tempestades — e desastres tecnológicos, como naufrágios e acidentes aéreos.

Todos os desastres

"2017 foi um ano bondoso", disse Debarati Guha-Sapir, chefe do Centro de Pesquisa e Epidemiologia de Desastres em Bruxelas, que comanda a base de dados. "Deveríamos celebrar."

Parte do baixo número de mortes em 2017 é resultado da sorte. A quantidade de pessoas mortas em determinado ano depende crucialmente do local onde ocorre um terremoto, onde grandes tempestades acontecem e assim por diante.

A humanidade está melhorando em minimizar o número de mortos em desastres.

No entanto, os gráficos acima também mostram como a humanidade está conseguindo minimizar o número de mortos em desastres, já que o desenvolvimento econômico e o planejamento urbano aumentaram a resiliência das comunidades espalhadas pelo mundo.

De acordo com Guha-Sapir, o aumento e a subsequente queda da quantidade de eventos que atendem ao critério da base de dados — 10 mortos ou 100 pessoas afetadas — refletem o desenvolvimento econômico. Conforme países pobres enriquecem, sua vulnerabilidade a desastres a princípio aumenta, já que a população se dirige a cidades improvisadas. No entanto, conforme o desenvolvimento continua, o planejamento de construções e desastres tende a melhorar, e eventos que poderiam antes ser catastróficos ocorrem sem grande perda de vidas.

Além disso, alguns dos maiores desastres do passado estiveram relacionados a longos períodos de fome, o que dificilmente ocorrerá nos dias de hoje.

Entre 1965 e 1967, cerca de 1,5 milhão de pessoas sofreram com a fome após a ausência das chuvas de monções na Índia. Hoje, o país possui uma economia movimentada e de alta tecnologia. Com campos irrigados e uma malha rodoviária em expansão, a comida pode ser distribuída rapidamente por todo o país em um cenário de escassez. Na Índia, assim como em outros países em desenvolvimento, a seca não é mais sinônimo de fome.

Os picos em 1983 e 1984, por sua vez, ocorreram principalmente devido à seca e à fome que atingiram a Etiópia e os países vizinhos. Além de dar início à série de shows beneficentes Live Aid, o desastre levou ao desenvolvimento do Famine Early Warning System Alert (Sistema de Alerta Contra a Fome), que monitora dados como condições climáticas, imagens de satélites e preço dos alimentos. Enquanto as nações ricas responderem com ajuda em momentos de crise na África Oriental, não deveremos ver uma repetição da tragédia ocorrida na década de 80.

No entanto, políticos despreparados e guerras ainda podem provocar a fome. Neste ano, o Sudão do Sul declarou situação de fome – consequência direta da guerra civil em andamento na jovem nação.

A Base de Dados Internacional Sobre Desastres possui também uma categoria denominada "complexa", para desastres sem causas simples. No topo da lista está o período de fome que atingiu a Coreia do Norte durante muitos anos entre 1995 e 2002. Demógrafos do Departamento do Censo dos Estados Unidos estimaram que ao menos 600 mil pessoas morreram devido ao isolamento e à economia fragmentada do país.

Terremotos

A maioria dos picos de mortes desde 2000 pode ser atribuída a terremotos, incluindo o tremor de magnitude 7 que ocorreu perto de Porto Príncipe, no Haiti, em janeiro de 2010, matando mais de 220 mil pessoas. Terremotos podem ocorrer a qualquer hora, e o megaterremoto que originou o tsunami no Oceano Índico que matou cerca de 250 mil pessoas em 14 países em 26 de dezembro de 2004 serve como um terrível lembrete de que 2017 ainda não acabou.

"Nós ainda não fechamos nossos arquivos", disse Guha-Sapir ao BuzzFeed News.

Terremotos não matam pessoas — tsunamis e prédios desmoronando, sim. Apenas algumas semanas após o desastre de 2010 no Haiti, um terremoto de magnitude 8,8 – um tremor de terra 60 vezes maior do que o ocorrido no Haiti – atingiu a costa do Chile. E, mesmo assim, graças a rigorosas normas de edificações, não chegou a ser uma tragédia humanitária: pouco mais de 550 pessoas morreram.

No entanto, não podemos dizer que outros países propensos a tremores estão se saindo tão bem quanto o Chile. No Irã, por exemplo, muitos edifícios ainda não foram atualizados com os padrões de seguranças modernos contra abalos sísmicos.

"Teerã é uma grande bomba prestes a explodir", disse Brian Tucker, presidente da GeoHazards International, organização americana sem fins lucrativos que ajuda países em desenvolvimento a aperfeiçoarem suas resistências sísmicas.

Tempestades

Assim como foi mostrado pelos furacões Harvey, Irma e Maria em 2017, tempestades que se formam em águas quentes continuam sendo um perigo para as comunidades costeiras. Os custos econômicos e humanos desses desastres ainda estão sendo contabilizados — o numero de mortos em Porto Rico em decorrência do furacão Maria, oficialmente contabilizado em 64, pode aumentar para mais de 1.000.

No entanto, por pior que esses eventos tenham sido, eles não chegam perto do ciclone de Bhola, em 1970, onde uma maré de tempestade com até 10 metros de altura matou mais de 300 mil pessoas por afogamento no local onde hoje se encontra Bangladesh.

Os ciclones continuam sendo uma grande ameaça à região. Em 2008, mais de 130 mil pessoas morreram quando o Ciclone Nargis alagou o delta do rio Irauádi, em Myanmar. Porém, Bangladesh fez grandes avanços para melhorar sua resistência. Abrigos contra ciclones, previsões de tempo modernas e alertas mais eficientes para pessoas que se encontram na rota da ameaça fazem com que um novo desastre com a dimensão do Bhola seja difícil de ocorrer novamente.

Evoluções como essa têm levado alguns especialistas a sugerir o abandono do termo desastre "natural", para melhorar o foco sobre quais medidas as sociedades podem tomar para prevenir mortes quando tempestades, terremotos e secas ocorrem.

A vaga diferença entre desastres naturais e os causados por falhas humanas também aponta a outro caminho. Acidentes aéreos e naufrágios são frequentemente causados por uma combinação de erro humano e má condição climática. Uma embarcação lotada pode navegar sem perigo em águas tranquilas, diz Roberta Weisbrod, diretora-executiva da Worldwide Ferry Safety Association (Associação Mundial de Segurança de Emabarcações),"mas, se ela for atingida por uma rajada de vento, pode perder a instabilidade e a embarcação virar".

Transporte: Aquático

Transporte: Aéreo

As mortes resultantes de desastres que envolvem meios de transportes aumentaram na década de 80, com a expansão das viagens aéreas pelo mundo. No entanto, os aviões ficaram mais seguros nos últimos anos. (A maioria da mortes ocorridas em meios de transportes, que acontecem em estradas, não fazem parte dos dados da Base de Dados Internacional Sobre Desastres porque poucos acidentes se encaixam no critério "desastre".)

Há alguns tópicos preocupantes, no entanto, incluindo desastres ligados à mudança climática. As mortes causadas pelo calor extremo parecem estar aumentando — os picos abaixo correspondem às ondas de calor ocorridas na Rússia em 2010 e pelo sul da Europa em 2003.

Temperaturas extremas

Incêndios florestais

Incêndios florestais também parecem estar ficando mais mortais — embora o número de mortos continue pequeno comparado a outros desastres.

Para Max Roser, economista da Universidade de Oxford que escreve sobre tendências em desenvolvimento internacional no site Our World in Data, apesar das nossas impressões, "as coisas estão melhorando".

Este post foi traduzido do inglês.

Utilizamos cookies, próprios e de terceiros, que o reconhecem e identificam como um usuário único, para garantir a melhor experiência de navegação, personalizar conteúdo e anúncios, e melhorar o desempenho do nosso site e serviços. Esses Cookies nos permitem coletar alguns dados pessoais sobre você, como sua ID exclusiva atribuída ao seu dispositivo, endereço de IP, tipo de dispositivo e navegador, conteúdos visualizados ou outras ações realizadas usando nossos serviços, país e idioma selecionados, entre outros. Para saber mais sobre nossa política de cookies, acesse link.

Caso não concorde com o uso cookies dessa forma, você deverá ajustar as configurações de seu navegador ou deixar de acessar o nosso site e serviços. Ao continuar com a navegação em nosso site, você aceita o uso de cookies.