Um médico foi acusado de vender medicamentos como uma "cura milagrosa" para o coronavírus

    Segundo a acusação, ele alegava que o tratamento deixaria os clientes imunes ao vírus por pelo menos seis semanas.

    Um médico da Califórnia foi acusado de fraude por supostamente vender uma cura "100%" para a COVID-19 que incluía remédios apontados pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como tratamento eficaz para a doença causada pelo coronavírus.

    Jennings Ryan Staley, um médico licenciado, foi acusado na quinta-feira de fraude postal relacionada à venda do que ele descrevia como cura "100%" para a COVID-19, disse a Procuradoria dos Estados Unidos no Distrito Sul da Califórnia em uma declaração. Staley, que administra o Skinny Beach Med Spa, um spa de beleza em San Diego, supostamente alegava que o tratamento deixaria os clientes imunes ao vírus por pelo menos seis semanas.

    Agentes do FBI começaram a investigá-lo depois de receberem uma denúncia de que o Skinny Beach enviava e-mails anunciando "pacotes para o tratamento de COVID-19" no fim de março. Os tratamentos eram descritos como uma "experiência de medicina domiciliar" com preço de US$ 3.995 para uma família de quatro pessoas e incluíam os medicamentos hidroxicloroquina e azitromicina e "tratamentos contra a ansiedade para evitar pânico, se necessário, e ajudar a dormir".

    Remédios para doenças autoimunes, como a hidroxicloroquina e a cloroquina, ambos desenvolvidos para o tratamento contra a malária, são usados de várias formas como tratamento para a COVID-19. A hidroxicloroquina, que também é utilizada por pacientes com lúpus e artrite reumatoide, está sendo usada em conjunto com a azitromicina, um antibiótico conhecido por seu nome comercial de Zithromax Z-Pak, para tratar pessoas com o coronavírus.

    Trump apontou repetidamente o uso desses remédios como tratamento para o coronavírus – assim como, no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro –, mas os cientistas ainda não determinaram sua eficácia. Estudos sobre a eficácia dessas drogas têm demonstrado resultados variados, e as agências de saúde e medicamentos, como a FDA, pedem cautela e dizem que são necessários mais testes a respeito do uso dos remédios para tratar a COVID-19.

    HYDROXYCHLOROQUINE & AZITHROMYCIN, taken together, have a real chance to be one of the biggest game changers in the history of medicine. The FDA has moved mountains - Thank You! Hopefully they will BOTH (H works better with A, International Journal of Antimicrobial Agents).....

    Staley afirmou que seu intermediário estava contrabandeando hidroxicloroquina da China para fabricar suas próprias pílulas, informou a Procuradoria dos Estados Unidos, ocultando a remessa das autoridades aduaneiras ao descrevê-la como extrato de batata-doce. Os registros das remessas mostraram que Staley estava importando um carregamento de "extrato de inhame" para os Estados Unidos.

    Em conversas com um agente disfarçado do FBI que estava se passando por um cliente interessado em comprar seis pacotes do tratamento para a sua família, Staley descreveu o medicamento como "uma cura incrível" e uma "cura milagrosa" que curaria a COVID-19 "100%". Staley afirmou que, se uma pessoa tomasse o remédio sem ter a doença, "ficaria imune por pelo menos seis semanas".

    Segundo a Procuradoria dos Estados Unidos, ele se referiu aos medicamentos como uma "bala mágica".

    "É preventivo e curativo", ele afirmou. "É difícil de acreditar, e quase bom demais para ser verdade. Mas é um fenômeno clínico extraordinário."

    "Se eu estou ouvindo certo, caso eu compre esses kits de você, é praticamente garantido que nem meus filhos, meu pai, minha esposa, nenhum de nós fiquemos doentes, e, se estivermos doentes, ficaremos curados, né?", um agente disfarçado perguntou a Staley durante a ligação telefônica, de acordo com a denúncia criminal.

    "Garantido", o médico respondeu, de acordo com a denúncia.

    Mais tarde, durante a ligação, quando o agente repetiu a palavra "garantia", Staley respondeu que "a palavra garantia dispara um pequeno sinal de alerta... Não há garantias na vida."

    Quando entrevistado por agentes do FBI posteriormente, Staley negou que o Skinny Beach havia informado aos pacientes de que os tratamentos para a cura da COVID-19 tinham "100%" de eficácia.

    "Não, seria tolice. Nunca diríamos nada parecido", afirmou Staley, acrescentando que "não era definitivo" que o medicamento que ele oferecia curava a COVID-19.

    Staley supostamente planejava vender os kits através de um novo site, o covid19medkits.com, cuja página inicial, de acordo com a queixa criminal, diz: "Proteja-se com hidroxicloroquina e Z-Pack, disponíveis mediante prescrição on-line, enviados para a sua porta".

    "Não vamos tolerar fraudadores da COVID-19 que tentam lucrar e tirar proveito do medo da pandemia para enganar, roubar e prejudicar os outros", disse o procurador dos Estados Unidos Robert Brewer Jr. "Tenham certeza de que aqueles que se envolverem em condutas desprezíveis se verão na mira dos promotores federais."

    O advogado de Staley, Patrick Griffin, negou que ele estivesse tirando proveito dos pacientes e disse em uma declaração enviada ao BuzzFeed News que era uma "contradição inerente" Staley ser processado por promover os mesmos medicamentos defendidos por Trump.

    "O mesmo poder executivo que vem divulgando esses dois medicamentos há semanas agora se virou e acusou criminalmente dr. Staley, um veterano [do Iraque] sem antecedentes criminais, por fazer exatamente a mesma coisa que o governo vem fazendo esse tempo todo", disse Griffin. "Existe uma necessidade por esses medicamentos, e há muitas pessoas e organizações diferentes que estão seguindo o exemplo do nosso chefe executivo."

    Griffin disse que o governo deveria se concentrar na regulamentação em vez de processar médicos como Staley, que pode pegar até 20 anos de prisão se for considerado culpado.

    "Alguém acha que, se o presidente não tivesse começado a fazer pressão em relação a isso, nós estaríamos tendo essa conversa ou que isso estaria acontecendo em espaço público? Claro que não", disse Griffin. "Não é uma fraude, não é um crime."

    O gabinete da Procuradoria dos Estados Unidos do Distrito Sul da Califórnia não respondeu às ligações no sábado. O procurador assistente dos Estados Unidos Robert Huie disse ao New York Times que o caso não se trata dos medicamentos que Staley supostamente estava vendendo.

    "A questão não é se os remédios são bons ou ruins, e sim ele dizer aos pacientes, dizer a possíveis clientes, em uma tentativa de vender seus serviços, que o que ele estava oferecendo era uma cura de 100% que proporcionava imunidade temporária", Huie disse.


    Este post foi traduzido do inglês.

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