Três adolescentes estão exigindo que o governo diga a verdade sobre o ar que estão respirando

    "Eu desenvolvi uma tosse crônica desde que cheguei a Lahore — e ainda não peguei a pior época de poluição."

    NOVA DÉLI — Três adolescentes paquistanesas são as mais recentes membros da geração Z a tentar salvar o mundo, levando seu governo ao tribunal devido aos níveis perigosos de poluição do ar que cobre o país todos os anos.

    Mishael Hyat, 17 anos, Leila Alam, 13, e Laiba Siddiqi, 18, acusaram o governo de Punjab, a província mais populosa do Paquistão, de violar seu direito à vida e à saúde ao subnotificar a gravidade do ar poluído da capital da província, Lahore.

    As adolescentes entraram com uma petição com suas denúncias no Supremo Tribunal de Lahore na terça-feira (5), auxiliadas pelo pai de Alam, Ahmad Rafay Alam, que está atuando como advogado.

    Rafay disse ao BuzzFeed News que percebeu a gravidade da poluição que os paquistaneses estavam enfrentando quando assistiu a um vídeo no Facebook em que um entrevistador foi a uma sala de aula em Lahore e pediu que as crianças doentes levantassem as mãos.

    “Foi estarrecedor. Mais de 90% delas estavam doentes e tinham um membro da família que também estava doente por causa do ar”, disse ele.

    A emergência por poluição do ar no Paquistão e na Índia se tornou um acontecimento anual que dura de outubro a janeiro, devido em parte à queima de resíduos vegetais por agricultores nos estados de Punjab e Haryana, no norte da Índia, e às práticas gerais da indústria, da agricultura e do transporte do Paquistão. Temperaturas mais quentes como resultado das mudanças climáticas significam que a poluição paira sobre essa região, aumentando sem sair do lugar.

    A situação levou Nova Déli a declarar uma emergência de saúde pública — escolas foram fechadas e aviões não podiam pousar por causa da poluição. A exposição a um tipo específico de poluição — uma matéria pequena e mortal suspensa no ar, conhecida como PM 2.5 — é responsável por 1,24 milhão de mortes na Índia anualmente e aumenta as chances de contrair doenças cardíacas e pulmonares. Evidências sugerem que a poluição também leva ao desenvolvimento cerebral atrofiado em crianças.

    A petição inclui um relatório do Hospital Infantil de Lahore, que afirma que o centro médico viu triplicar as admissões com queixas cardiovasculares ou torácicas na última década.

    A petição das três adolescentes cita e tem como alvo várias agências governamentais encarregadas de monitorar a qualidade do ar, tais como o Conselho de Proteção Ambiental de Punjab, a Autoridade de Cidades Seguras de Punjab, o Departamento de Proteção Ambiental de Punjab e a Agência de Proteção Ambiental do Paquistão.

    De acordo com as adolescentes, a classificação do ar usada pelo governo de Lahore para medir o quão ruim é o ar da cidade (conhecida como índice de qualidade do ar ou AQI) está em desacordo com a classificação usada pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.

    A qualidade do ar que é classificada como "severa" pela EPA dos EUA aparece apenas como "moderada" no site do governo de Lahore. A petição alega que o site — que deveria monitorar os dados de qualidade do ar e avisar os cidadãos quando é perigoso sair de casa — subnotifica a gravidade da poluição do ar, expondo as pessoas a níveis de risco inaceitáveis. Os dados do governo também não mencionam os diferentes tipos de poluentes presentes no ar.

    Hyat, nadadora e atleta de alto nível que representou o Paquistão nos Jogos Sul-Asiáticos em 2016, está se preparando para competir nos jogos mais uma vez este ano. Ela disse ao BuzzFeed News que sua capacidade de treinar foi seriamente afetada pelo ar de Lahore.

    “Para nadar melhor, temos que aumentar nossa capacidade pulmonar. Então, eu deveria correr e pedalar todos os dias, e isso tem sido praticamente impossível ultimamente”, disse Hyat. “E quanto mais me exercito nos níveis atuais de poluição, mais suscetível me torno a doenças respiratórias. É uma situação terrível para atletas — crianças e idosos em especial."

    Hyat, que falou com o BuzzFeed News por telefone de Lahore, disse que sempre esteve envolvida com ativismo ambiental. “Conheci a Leila na manifestação das mudanças climáticas em Lahore no mês passado. Como essa situação se repete no Paquistão todo inverno, percebemos que tínhamos que fazer alguma coisa para mudar isso", disse ela.

    Na petição, Alam disse que a declaração incorreta de dados do governo significa que ela não sabe quando precisa usar uma máscara ao ar livre.

    Siddiqi fez parte da equipe organizadora da greve global pelo clima no mês passado, na qual jovens saíram de escolas em 3.600 locais diferentes para chamar a atenção para a emergência climática. O movimento começou com Greta Thunberg, de 16 anos, que começou protestando sozinha toda sexta-feira em agosto do ano passado em frente ao Parlamento da Suécia, em Estocolmo, para chamar a atenção para as mudanças climáticas. No ano seguinte, o movimento estimulou centenas de milhares de crianças a protestar regularmente.

    Siddiqi é de Carachi e estuda na Universidade de Ciências da Administração de Lahore. "Karachi também é muito poluída, mas eu desenvolvi uma tosse crônica desde que cheguei a Lahore — e ainda não peguei a pior época de poluição", disse ela. "Também conheço outras pessoas, principalmente as que têm asma, enfrentando muitos problemas."

    "Depois que a manifestação terminou, começamos a pensar em maneiras de manter o embalo", disse Siddiqi ao BuzzFeed News pelo WhatsApp. "Percebemos que, além dos esforços de conscientização popular, queríamos fazer lobby ou pressionar em busca de reformas legislativas."

    “Queremos que o tribunal aja de maneira rápida e decisiva. Isso não pode continuar a longo prazo. Nossos futuros estão em risco”, disse Hyatt.

    Este post foi traduzido do inglês.

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