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França tenta descobrir o que fazer com crianças cujos pais se filiaram ao Estado Islâmico

Quarenta e quatro crianças estão em um programa do governo que oferece abrigo e educação – além de monitoramento de traumas e crenças extremistas. Porém, membros do governo dizem que o programa ainda é inadequado.

PARIS — O governo francês tenta descobrir o que fazer com centenas de crianças cujos pais se filiaram à facção terrorista Estado Islâmico e foram mortos em batalha ou estão enfrentando acusações criminais.

Atualmente, o governo supervisiona o acompanhamento dado a 44 crianças que estão nessas condições e voltaram para a França durante os últimos 18 meses por meio de um programa no subúrbio parisiense de St. Denis, confirmaram policiais franceses e funcionários ao BuzzFeed News.

Esse programa será expandido em breve, segundo um funcionário do setor de contraterrorismo do gabinete do primeiro ministro francês. No entanto, "os métodos atuais precisam ser aperfeiçoados", disse o funcionário, que pediu anonimato, recusando-se a tecer mais comentários.

O que fazer com os milhares de europeus que se juntaram ao EI e que agora querem voltar ao continente preocupa muitos países da Europa, principalmente a França, onde membros da facção já foram responsáveis por dezenas de mortes em ataques terroristas.

As autoridades francesas já se pronunciaram dizendo que esperam que seus cidadãos que se juntaram ao EI tenham sido mortos no campo de batalha ou, caso capturados, sejam julgados por seus crimes no Iraque ou na Síria. Em diversos casos o país tomou a iniciativa de retirar a cidadania francesa de membros do Estado Islâmico.

Os filhos desses extremistas, no entanto, trazem uma questão mais complexa, já que suas supostas lealdades ao Estado Islâmico e seus supostos vínculos com o comportamento criminoso dos pais estão longe de ser comprovados. Muitas das crianças atualmente acompanhadas pelo governo francês são órfãs e, potencialmente, milhares de filhos de extremistas do Estado Islâmico desde 2012 são elegíveis à cidadania francesa.

Identificar essas crianças não é o suficiente, de acordo com um assistente social do governo na instalação de St. Denis, que não tem permissão para falar abertamente com a imprensa.

"[Primeiro] nos certificamos de que as crianças menores de idade não tenham cometido nenhum crime", disse o assistente social, observando que várias crianças europeias participaram de atividades violentas, algumas das quais documentadas em vídeos divulgados pela facção que mostram jovens membros do Estado Islâmico assassinando reféns.

Mesmo sem queixas legais, as avaliações são complexas.

"[As decisões] dependem do contexto — algumas delas voltaram [à França] com os pais e outras são órfãs. Outras acabaram voltando com os pais de outras crianças. Às vezes os adultos são mandados para a prisão, deixando as crianças sozinhas. Algumas delas acabam retornando sozinhas, sem nenhum dos pais", disse o assistente social.

"Nossa prioridade é proteger a juventude ameaçada e os menores", disse o assistente social. "Portanto precisamos enviar essas crianças para abrigos temporários... O problema é que somos informados apenas alguns dias antes da chegada delas, então estamos tentando dar o nosso melhor: não separamos os irmãos, tentamos colocá-las em famílias adotivas ou centros comunitários para órfãos (não um orfanato, porque elas não são elegíveis para serem adotadas) com outras crianças 'normais'."

No entanto, mesmo que as crianças sejam consideradas inocentes de crimes, dizem os funcionários da polícia, os centros precisam monitorá-las de perto, porque muitas vezes essas instalações estão localizadas em áreas já conhecidas por atividades extremistas. St Denis, por exemplo, é o lar de centenas de pessoas que fazem parte da lista de vigilância máxima da polícia e se tornou conhecida fora da França quando o organizador dos ataques terroristas de 13 de novembro de 2015 em Paris foi morto em um tiroteio ali.

E, embora haja alguma simpatia pela situação dessas crianças, seus antecedentes e experiências anteriores tornam necessário seu monitoramento constante, disse Samia Maktouf, advogada das vítimas dos ataques do Estado Islâmico.

"Essas crianças têm pais terroristas; elas provavelmente testemunharam execuções ou carnificinas. Como resultado, elas não podem ser tratadas como órfãos comuns", disse ela. "Elas podem ter manuseado armas, metralhadoras e talvez tenham participado de treinamento militar, portanto precisam de atenção mais do que especial."

Este post foi traduzido do inglês.

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