• newsbr badge

Isso é o que você precisa ler para entender o fundador da Playboy além dos clichês

Embora a revista tenha sido inerentemente conservadora e Hugh Hefner seja considerado machista, a Fundação Playboy foi uma grande financiadora da luta pelo direito ao aborto nos Estados Unidos.

Hugh Hefner, editor e fundador da revista Playboy, morreu de causas naturais aos 91 anos. Seus últimos momentos foram passados em sua casa, a chamada Mansão Playboy, em Los Angeles (Estados Unidos).

Hefner fundou a Playboy em 1953 e a publicação se tornou uma das maiores revistas dos Estados Unidos e do mundo, com mais de 20 edições internacionais.

No Brasil, a Playboy foi publicada pela Editora Abril entre agosto de 1975 e dezembro de 2015. Em 2016, a franquia foi assumida pela PBB Entertainment e a revista, que sempre foi mensal, passou a ser distribuída apenas a cada três meses.

"Meu pai teve uma vida excepcional e repleta de impacto como pioneiro da cultura e uma voz de liderança advogando em favor da liberdade de expressão, os direitos civis e a liberdade sexual", disse o Cooper Hefner, filho do fundador e executivo do grupo.

American Icon and Playboy Founder, Hugh M. Hefner passed away today. He was 91. #RIPHef

As grandes entrevistas

Natural de Chicago, Hefner passou pelo Exército e trabalhou como jornalista antes de fundar a Playboy aos 27 anos, com um pequeno empréstimo.

A primeira edição americana foi às bancas em 1953 com a capa estampando ninguém menos que Marilyn Monroe, com imagens nuas de um calendário de quatro anos, antes da fama.

Em 2011, Hefner comprou um jazigo próximo ao local onde Marilyn Monroe foi sepultada, no cemitério West Hollywood. Embora em vida, os dois nunca se encontraram. "Ela foi o símbolo sexual definitivo dos nossos tempos", disse Hefner, certa vez em uma entrevista.

O famoso pôster das páginas centrais da Palyboy foi introduzido em 1955. Em 1962, uma inovação que se tornou uma marca da publicação: a longa entrevista com grandes personagens do século 20.

Pelas páginas da revista passaram, por exemplo, o líder da luta dos direitos civis, Martin Luther King Jr., o líder cubano Fidel Castro, o líder da revolução sandinista e presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, no auge do enfrentamento com Ronald Reagan, em 1983.

A Playboy tinha lado durante a luta dos direitos civis nos Estados Unidos.

Em meados 1962, quando o país ainda fervia na campanha pelos direitos iguais dos afroamericanos nos Estados do Sul, Hefner enviou o jovem repórter Alex Haley para entrevistar Miles Davis, ainda em vida um mito do jazz.

Entrevistador e entrevistado eram negros. O jovem Haley, no futuro, seria ganhador do Pulitzer, a mais alta honraria destinada a jornalistas nos Estados Unidos.

O padrão de grandes entrevistas foi uma das marcas da edição brasileira durante a sua encarnação na Abril. Seus leitores puderam ler, com mais profundidade do que na imprensa diária, personagens que um dia dariam as cartas no país.

A entrevista do líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva foi publicada em junho de 1979 (dois meses antes da promulgação da Lei da Anistia). A capa era a modelo Monique.

O sociólogo Fernando Henrique Cardoso falou em setembro de 1984 (estrela: Sônia Braga), quando ainda era um ilustre desconhecido do grande público, e em agosto de 2006, já como ex-presidente da República (Flávia Alessandra na capa).

Collor foi o entrevistado da edição de outubro de 1987, quando era somente um governador provinciano com o figurino de "caçador de marajás". A capa era Magda Cotrofe. E teve muito mais: Pelé, Senna, Piquet, Tim Maia, Chico Buarque, Rita Lee, Jorge Amado, Giberto Freyre...

Casamentos, machismo e revolução sexual

Hefner foi casado três vezes.

Ele se casou por primeira vez em 1949 com Mildred Williams, com quem teve dois filhos. Eles se divorciaram dez anos mais tarde.

Após 30 anos com um estilo de vida pontuado por festas e mulheres, ele voltou a se casar em 1989 com Kimberley Conrad, 36 anos mais jovem. O casamento, que resultou em dois filhos, terminou em 1998.

O dono da revista costumava se relacionar com várias mulheres ao mesmo tempo e muitas delas se instalavam na Mansão Playboy numa espécie de harém – e se tornou foco de críticas sobre seu machismo. Em muitos casos, ele se relacionava com mulheres várias décadas mais novas.

A última mulher foi Crystal Harris, "coelhinha" de dezembro de 2009. Ela tinha 26 anos e ele 86 quando se casaram, em 2012.

Originário de uma família metodista do Meio-Oeste americano, ele costumava dizer que transcendera o puritanismo sexual americano dos anos 1950. Mesmo sob o figurino do machão.

Hefner foi influenciado pela pesquisa pioneira de Alfred Kinsey sobre sexualidade com entusiasmo e experimentou a bissexualidade na década de fundação da revista.

Só o fato de citar Kinsey, a quem leu com entusiasmo, poderia ser uma fonte inesgotável de perseguição pelos círculos conservadores na América dos anos 1950.

Neste sentido, Hefner sempre se gabou de ser um "instigador" da revolução sexual da década seguinte. Embora a fantasia da Playboy tenha sido inerentemente conservadora, a Fundação Playboy foi uma grande financiadora da luta pelo direito ao aborto nos Estados Unidos.

"As mulheres foram as grandes beneficiárias da revolução sexual", disse Hefner em entrevista à revista Esquire, em 2007. "Infelizmente, com o feminismo, veio também o puritanismo, e o elemento proibicionista que é antissexual". No mesmo artigo, Hefner definiu a si próprio como "um feminista".

A perda de relevância com a internet

O pico de popularidade da Playboy foram os anos 1970 nos Estados Unidos, com mais de 7 milhões de exemplares circulando a cada mês naquele país. O declínio veio nos anos 1990, com o surgimento (e o consequente crescimento) da pornografia pela internet.

Sinal dos tempos: em 2015, com a perda de relevância depois do advento da internet, a revista anunciou que abandonaria os nus.

Este post foi traduzido do inglês.

Utilizamos cookies, próprios e de terceiros, que o reconhecem e identificam como um usuário único, para garantir a melhor experiência de navegação, personalizar conteúdo e anúncios, e melhorar o desempenho do nosso site e serviços. Esses Cookies nos permitem coletar alguns dados pessoais sobre você, como sua ID exclusiva atribuída ao seu dispositivo, endereço de IP, tipo de dispositivo e navegador, conteúdos visualizados ou outras ações realizadas usando nossos serviços, país e idioma selecionados, entre outros. Para saber mais sobre nossa política de cookies, acesse link.

Caso não concorde com o uso cookies dessa forma, você deverá ajustar as configurações de seu navegador ou deixar de acessar o nosso site e serviços. Ao continuar com a navegação em nosso site, você aceita o uso de cookies.