Há dois anos, Sandra Parks, 13, escreveu uma redação em que lamentava ver o mundo "vivendo em um estado de caos". O texto ganhou o 3° lugar em um concurso em homenagem a Martin Luther King, Jr. em Milwaukee, Wisconsin (EUA). "Na minha cidade, ouço e vejo exemplos de caos quase todos os dias. Crianças pequenas são vítimas de violência armada sem sentido."
Então, nesta semana, na segunda-feira à noite (19), Sandra foi morta por uma bala perdida. Ela estava vendo TV em seu quarto.
Sua mãe, Bernice Parks, disse à polícia que tinha ido para a cama mais cedo e acordou com o barulho de tiros por volta das 19h45.
Sandra havia levado um tiro no lado direito das costas e estava sangrando no chão quando sua mãe ligou para a emergência. Os socorristas não conseguiram salvá-la, e ela acabou morrendo em sua casa.
"Ela era tudo o que este mundo não era", disse Bernice Parks. "Minha bebê não era violenta. Minha bebê não gostava de violência."
Isaac D. Barnes, 26 anos, e Untrell Oden, 27 anos, foram presos horas depois, de acordo com o Milwaukee Sentinel. Barnes foi acusado de homicídio doloso e porte ilegal de arma de fogo, de acordo com a Associated Press. Oden enfrenta duas acusações de porte ilegal de arma de fogo.
Barnes e Oden planejavam atirar na ex-namorada de Barnes, que estava visitando sua irmã, segundo a Associated Press. De acordo com uma queixa apresentada na quarta-feira, Barnes se aproximou da moça usando uma máscara preta e uma "arma de fogo estilo AK- 47", disse ela. Ele não teria atirado após ver os filhos dela em um carro estacionado.
O prefeito de Milwaukee, Tom Barrett, falou sobre o ocorrido na terça (20). "Sandra Parks, de 13 anos, entrou em seu quarto. Mas ela nunca saiu", disse. "Tragicamente, sua morte foi causada por alguém que simplesmente decidiu atirar em uma área residencial. [...] Isso faz parte da insanidade que vemos em Milwaukee, que vimos ontem em Denver, e em outras cidades, na zona rural, no subúrbio, isso está ocorrendo de novo e de novo."
Bernice Parks criou uma página no GoFundMe para levantar fundos para cobrir os serviços funerários de sua filha. "Ela era aluna do oitavo ano e tinha esperança de fazer faculdade para ser escritora", escreveu Bernice. "Era apenas uma criança inocente."
Abaixo, a redação de Sandra na íntegra:
Nossa Verdade
Às vezes, sento e tento de escapar do que vejo e ouço todos os dias. Coloco meus fones de ouvido e deixo a música me levar embora. Eu me movo no ritmo da música e tento pensar na vida e no que tudo significa. Ao fazer isso, chego à mesma conclusão... vivemos em um estado de caos. Na minha cidade, ouço e vejo exemplos de caos quase todos os dias. Crianças pequenas são vítimas de violência armada sem sentido. Há muitos negros matando negros. Como afro-americana, isso me deixa deprimida. Muitas pessoas perderam a fé na América e em sua capacidade de ser um exemplo vivo do sonho do Dr. King!
A verdade é que a fé e a esperança no que as pessoas podem fazer se perderam em escolhas erradas. O lema de que nós venceremos se perdeu na mentira de quem nos tornamos! Então, a verdade é que precisamos reescrever nossa história para que a fé e a esperança em um amanhã melhor não estejam apenas dentro de nós, mas que acreditemos nisso e tomemos uma atitude.
Nossa primeira verdade é que devemos começar a nos importar uns com os outros. Precisamos ter empatia e tentar nos colocar no lugar uns dos outros. Nós venceremos quando começarmos a entender e aceitar uns aos outros. Nós venceremos quando eliminarmos os comentários negativos e maldosos que as pessoas fazem umas sobre as outras. Nós venceremos quando amarmos a nós mesmos e às pessoas ao nosso redor. Então, nos tornaremos o guardião de nosso irmão.
Nossa segunda verdade é que precisamos ter um propósito. Somos a geração futura, então devemos ter uma educação para fazer uma diferença positiva no mundo. Somos os futuros líderes, mas, se não tivermos uma educação, não conseguiremos nada. Nós venceremos quando usarmos nossa educação para tornar o mundo um lugar melhor. Nós nos tornaremos os próximos presidentes, policiais, professores, médicos, advogados e legisladores. Não podemos continuar a colocar a responsabilidade em outras pessoas. É nossa responsabilidade como futuros líderes!
Não devemos permitir que as mentiras da violência, do racismo e do preconceito sejam nossa verdade. A verdade começa conosco. Em vez de passarmos uns pelos outros como navios à noite, devemos lutar até que nossas verdades se estendam até os confins do mundo.
A tradução deste post (original em inglês) foi editada por Luísa Pessoa.