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Jornalistas dos EUA temem que fusão Disney-Fox prejudique seu trabalho

Disney, que já barrou jornalistas do "LA Times" de suas cabines de imprensa após uma matéria crítica, agora expande seu poder com a compra da Fox.

Pouco tempo depois de a Disney barrar a participação do "Los Angeles Times" de suas cabines de imprensa – após uma série de reportagens investigativas publicadas sobre ela no jornal –, a empresa anunciou que pretende expandir seu império com a compra da 21st Century Fox.

Embora a toda-poderosa do entretenimento tenha voltado atrás em sua decisão sobre o "LA Times" com a revolta de jornalistas, publicações e críticos de filmes, muitos profissionais estão preocupados com a possibilidade de que o já frágil relacionamento com a empresa possa piorar no futuro próximo.

"Eles terão um controle ainda maior sobre mais coisas, então, se decidirem que não gostaram do que você escreveu, poderão bani-lo de quase todas as cabines de imprensa", disse um repórter de cinema ao BuzzFeed News. "É assustador para os repórteres e jornalistas assistir ao domínio de uma empresa se expandindo dessa maneira e saber que seu destino está atrelado a ela."

O BuzzFeed News conversou com alguns repórteres de entretenimento, críticos de filmes e jornalistas que cobrem cinema e televisão para saber o quanto a compra da Fox pela Disney pode afetar seu trabalho. A grande maioria deles quis permanecer anônima. (O BuzzFeed News entrou em contato com um porta-voz da Disney, que não quis comentar.)

"Só o fato de eu me sentir mais confortável conversando anonimamente com você já demonstra o poder que a Disney tem", disse um repórter.

A aquisição feita pela Disney, que custará um total de 52,4 bilhões de dólares em ações, fará dela uma titã da indústria dos filmes e da televisão. No entanto, a notícia desencadeou um debate, especialmente entre jornalistas e críticos, sobre como a aquisição da 20th Century Fox filmes e estúdios pela Disney — assim como algumas propriedades a cabo como a FX, sem contar uma significante fatia do HuLu— pode ter um efeito considerável na indústria do entretenimento.

"É assustador assistir a uma empresa se expandindo dessa maneira e saber que seu destino está atrelado a ela.”

Jason Bailey, editor da revista "Flavorwire", disse que achou "totalmente assustadora" a maneira como a Disney tratou o "LA Times" e acredita que isso vai se tornar cada vez mais comum quando a Disney assumir o controle da 21st Century Fox.

"A ideia de um importante conglomerado multinacional ser tão mesquinho e vingativo, de realmente se envolver em um ato de retaliação contra um meio de imprensa e jornalistas, nos dá uma ideia de onde eles estão querendo chegar contra qualquer um que não siga as regras da empresa", disse Bailey. "É muito preocupante e fica ainda pior se eles estão no controle de toda essa fatia da indústria do entretenimento."

A provável fusão significa que a Disney expandirá seu controle na indústria do entretenimento. Assim, os jornalistas terão que lidar com equipes da empresa para conseguir acesso e fazer sua cobertura. "Se você estiver bem com os assessores de imprensa da Disney, então pode ter acesso a tudo", disse um repórter de entretenimento. "Se você sabe que vai escrever algo que os deixará bravos, é preciso levar em conta quais serão as consequências disso para o seu trabalho depois."

Alguns repórteres notaram que esse não é um problema específico da Disney, mas que, no mundo do jornalismo de entretenimento, as relações com os representantes de imprensa determinam acesso a entrevistas, cabines de filmes, visitas a sets de filmagens e outros meios de cobertura. As oportunidades futuras de imprensa, dizem eles, dependem muito do quão favorável foi sua cobertura sobre filmes anteriores, programas de televisão e outras notícias relacionadas à empresa.

"Como crítico, eu já fui informado pela Disney de que eles não gostariam de me convidar para a cabine de um filme porque eu não tinha gostado do último", disse um crítico de cinema. "Ver eles conseguindo cada vez mais poder me assusta."

Um crítico independente e membro do Círculo de Críticos de Cinema de Nova York disse que ficou incomodado com a ideia de a Disney comprar a Fox. "Existem atualmente seis grandes estúdios, além dos pequenos. O que eu menos gosto de lidar é a Disney", disse o crítico. "Eu compararia eles ao Vaticano. Eles têm suas regras, fazem as coisas do jeito deles e, se você não gostar, é melhor cair fora, porque eles têm o produto que desperta o maior interesse no mercado."

Um roteirista disse que a maneira como a Disney barrou o "LA Times" "continua a me deixar sem palavras". "Eu particularmente me preocupo com o fato de que um estúdio tão grande assim precise cada vez menos da imprensa. Eu não acho que nada mudará drasticamente agora, mas acredito que é mais importante do que nunca que os repórteres de entretenimento defendam seus valores jornalísticos", disse o roteirista. "Nós não somos braços do setor de relações públicas das empresas."

Alguns repórteres, no entanto, acreditam que a fusão da Disney com a Fox não necessariamente tornará as coisas melhores ou piores para as pessoas que cobrem a indústria do entretenimento. "Eu não tenho nenhum receio de que a Disney será uma empresa maior, que haverá mais riscos ou que terei menos acesso", disse um repórter. "Se você está com a Disney, está com a Disney, e se você está fora, está fora."

“Nós não somos braços do setor de relações públicas das empresas.”

Eric Kohn, diretor-adjunto e crítico de filmes chefe da publicação online Indiewire, disse que não sente medo da consolidação da Disney com a Fox, mas que está um pouco preocupado devido ao banimento imposto ao "LA Times". "Nós já tivemos esse choque de realidade no que diz respeito à situação na Casa Branca e a esse nível de poder", disse ele. "O que isso deixa claro é que também está acontecendo no nível das corporações, onde há uma agenda que é vista como sendo ainda maior do que qualquer tipo de padrão ético que aplicamos no jornalismo."

Kohn disse também que espera que a situação do "LA Times" sirva como lembrete às pessoas de que não devemos menosprezar a liberdade de expressão. "Isso se trata menos do que a Disney vai fazer e mais sobre aquilo que queremos que ela faça, e nós conseguiremos aquilo que queremos quando revidarmos", disse Kohn.

A maioria dos repórteres e críticos que falaram com o BuzzFeed News manifestaram ao menos um pouco de preocupação sobre o que a Disney faria com ainda mais poder. "Nós vimos um padrão no comportamento da Disney", disse um repórter de entretenimento. "Quanto mais poder eles têm, mais eles exercem."

"Essa quantidade de poder parece estar sendo colocada nas mãos de pessoas que não sabem o que fazer ou como reagir adequadamente às matérias críticas", disse outro jornalista de entretenimento. "Porque essas histórias continuarão a surgir."


Este post foi traduzido do inglês.

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