Vinte e duas mil pessoas se reuniram no último sábado (9) para o que está sendo considerada a maior manifestação de mulheres na história da Coreia do Sul. A marcha em Hyehwa, Seul, protestava contra as "câmeras-espiãs" e denunciava o sexismo no sistema policial e judicial do país.
As mulheres levaram para as ruas cartazes de protesto e algumas até mesmo rasparam suas cabeças para demonstrar sua indignação com o que vem acontecendo no país.
Há anos a Coreia do Sul lida com o problema de "câmeras-espiãs" (ou "molka") em espaços frequentados por mulheres – como banheiros e vestiários. O objetivo dos criminosos é capturar imagens delas nuas e divulgá-las na internet.
Os criminosos fazem as gravações com telefones ou pequenas câmeras disfarçadas que são instaladas secretamente nesses espaços. As imagens capturadas, então, são enviadas para a internet e compartilhadas em sites de mídia social e pornografia.
Devido ao problema, muitas mulheres começaram a cobrir seus rostos ao usar esses espaços públicos, por medo não só de serem alvo dessas câmeras, mas de terem suas identidades expostas quando os vídeos vão para a internet.
A pornografia é ilegal na Coreia do Sul, mas isso não tem impedido que imagens de câmeras-espiãs sejam divulgadas em sites coreanos e internacionais.
De acordo com a Agência Nacional de Polícia da Coreia, em 2014, houve uma média de 18 casos de "molka" relatados à polícia por dia. Acredita-se que o número real seja provavelmente muito maior. De acordo com a mesma agência, em 2016, 98% dos autores desses crimes eram homens.
A polícia coreana tem sido criticada por mulheres e ativistas por não ser efetiva no combate a este crime.
Essa revolta atingiu seu ápice em maio, quando uma mulher foi detida por fotografar secretamente um modelo nu durante uma aula de desenho na Universidade de Hongik. A detenção ocorreu apenas um dia depois de o crime ter sido denunciado.
A reação rápida da polícia revoltou as mulheres do país, que dizem que o caso recebeu tratamento diferenciado por ter uma vítima homem.
As organizadoras por trás da grande marcha deste fim de semana, um grupo anônimo conhecido como "Courage to Be Uncomfortable", disseram por meio de uma declaração à imprensa que o tratamento da vítima da Universidade de Hongik expôs as questões enfrentadas pelas mulheres vítimas de "molka".
"Como o público reage às vítimas femininas e masculinas é muito diferente. Enquanto um crime contra uma vítima masculina recebe total atenção, o vídeo de uma vítima feminina é visto como outro pornô", escreveram.
Após uma marcha em maio, que contou com a participação de 12 mil pessoas, e uma petição com mais de 200 mil assinaturas, a notícia de outra manifestação marcada para 9 de junho começou a se espalhar pelas redes sociais. Imagens promovendo o evento encorajavam as mulheres a usar vermelho, para simbolizar sua raiva.
O protesto também ganhou apoio de grupos internacionais.
No entanto, apesar da grande participação no protesto e da atenção internacional, a maioria das participantes cobriu seus rostos ou pediu para não aparecer em fotos, com medo de serem identificadas on-line e humilhadas.
A tradução deste post (original em inglês) foi editada por Luísa Pessoa.