Como decifrei o novo algoritmo do Facebook e infernizei meus amigos

    Ou, como perder amigos e influenciar as pessoas.

    Há 12 dias, compartilhei um vídeo bem chato no Facebook: um clipe de 6 minutos de uma mulher branca de vinte e poucos anos mostrando seu pequeno apartamento elegantemente decorado no Brooklyn, Nova York. Desde então, esse vídeo vem fazendo um reinado de terror sobre meus amigos e familiares, aparecendo no topo de seus feeds todos os dias, dia após dia. Eles estão reclamando comigo no Facebook. Eles estão reclamando comigo na vida real. Eles estão me tuitando sobre isso e me enviando e-mails. Implorando para eu deletar esse vídeo amaldiçoado que os recebe sempre que abrem o Facebook.

    E, claro, eles comentaram na minha publicação. E depois as pessoas comentaram nos comentários. Quanto mais pessoas comentavam, mais o vídeo aparecia nos feeds de outras pessoas. À medida que a raiva em torno dessa publicação se intensificava, os comentários também. Meus colegas de trabalho comentaram. Meus amigos da faculdade comentaram. Uma pessoa com quem fiz pré-escola comentou. Um ciclo vicioso algoritmicamente delicioso.

    Depois de alguns dias, os comentários passaram de "Odeio o apartamento desta mulher" para "Por que esse vídeo não some do topo do meu feed no Facebook?" ou "Por favor, estou implorando, exclua este vídeo" e, eventualmente, meu chefe pedindo: "Por favor, escreva sobre isto".

    No início de 2018, o Facebook anunciou que se concentraria mais em engajamentos significativos. O diretor-executivo da empresa, Mark Zuckerberg, escreveu várias vezes que a empresa agora está focando em "tempo bem gasto" na plataforma (mesmo que poucos no Facebook pareçam saber como definir essa métrica).

    Desde então, as pessoas que contam com o Facebook para atrair leitores (como jornalistas), têm tentado descobrir o que essa mudança significa — "engajamento significativo" é o quê, afinal? Bem, eles deveriam me perguntar, porque eu descobri tudo. E estou usando isso para infernizar meus amigos.

    Provavelmente por causa dessa mudança de algoritmo, minha publicação ficou no topo dos feeds das pessoas — mesmo que parte da nova mudança devesse afastar as pessoas de conteúdos de consumo passivo (também conhecidos como vídeos e memes). O vídeo que eu postei perdurou graças à sua capacidade de instigar meus amigos em comentários raivosos. Ou seja, o Facebook me recompensou por irritar meus amigos, e sua nova sede de comentários parece o ter levado para um loop que não deixará meus conhecidos livres do alcance de um conteúdo que de fato odeiam.

    É nos momentos em que as brechas começam a aparecer — quando o mesmo vídeo horrível está no topo da página do Facebook por 12 dias seguidos — que nos lembramos por que é ruim ter nossas amizades reguladas por um algoritmo.

    Nós já aceitamos feeds não cronológicos em nossas mídias sociais. Mesmo no Instagram, onde as pessoas parecem reclamar mais sobre isso, entendemos as regras do novo feed. Mas é nos momentos em que as brechas começam a aparecer — quando o mesmo vídeo horrível está no topo da página do Facebook por 12 dias seguidos — que nos lembramos de como é ruim ter nossas amizades reguladas por um algoritmo. É como em um filme de ficção científica onde uma androide sexy tira sua máscara e nos lembramos que ela é feita de aço, ou o Mágico de Oz funcionando sua barulhenta máquina por trás da cortina. Esse algoritmo não entende a amizade. Ele pode fingir, mas quando vemos mensagens do Dia dos Namorados no Instagram quatro dias depois, ou quando as máquinas confundem uma enxurrada de comentários irritados por "engajamento", isso é um lembrete de que as máquinas ainda não conseguem sacar coisas fundamentais da humanidade.

    Eu já passei por isso antes. Na verdade, já escrevi sobre esse problema antes. Em meados de 2016, o Facebook fez outra recalibração no Feed de Notícias que priorizava as publicações de amigos e familiares, em vez de publicações de empresas de mídia, terminando o que parecia ser uma tirania de três anos de testes do BuzzFeed e vídeos de culinária.

    Logo depois, notei que uma publicação de um colega de trabalho, perguntando se alguém já tinha tentado fazer "overnight oats" [quando você prepara a aveia que comerá no café da manhã na noite anterior], tinha ficado "presa" no topo do meu feed do Facebook por cinco dias, mesmo que eu nunca tivesse comentado ou curtido a publicação. Eu apelidei esse fenômeno de "o problema da overnight oat".

    Naquele momento, achei essa mudança nas publicações de amigos e familiares um pouco estranha. Na época, as pessoas estavam tão acostumadas a se comunicarem apenas por meio de conteúdo compartilhado de empresas de mídia que tinham se esquecido de fazer uma simples publicação de texto. Isso significava que as publicações de texto eram raras e, quando alguém realmente escrevia uma — como perguntar sobre receitas de aveia —, o algoritmo do Facebook ficava louco. Em geral, parecia que o Facebook era um alienígena que veio à Terra e pensou que "amizade" significava se importar com memes de Minions de alguém que você conhecia do ensino médio.

    Ninguém queria ver minha publicação várias vezes por dia, mas o algoritmo havia, mais uma vez, julgado de forma errada o que as pessoas queriam. 

    Mas isso tem mudado desde meados de 2016. Ficamos mais acostumados a publicar mensagens novamente, em grande parte devido à popularidade dos blocos de texto coloridos que agora podemos publicar nossas mensagens.

    Além disso, várias outras coisas mudaram no Facebook desde então — tivemos a polêmica das fake news e da suspeita dos russos influenciando as eleições norte-americanas por meio da plataforma. Foi um ano e meio duro para a empresa. E essa última alteração do algoritmo para o "engajamento significativo" parece ser uma resposta óbvia do Facebook à crise na qual a empresa se encontrava até o final de 2017.

    Então, aqui estamos, em uma nova fase da história do Facebook, quando os comentários são reis. Mas isso tem levado a uma nova versão do problema da overnight oat: as pessoas estão recebendo o mesmo conteúdo obsoleto de um amigo por 12 dias seguidos, só pelo fato de ele ter muitos comentários. Ninguém queria ver minha publicação várias vezes por dia, mas o algoritmo havia, mais uma vez, julgado de forma errada o que as pessoas queriam. Na verdade, as pessoas odiaram esse vídeo — elas queriam que ele sumisse. O Facebook tomou isso como um sinal de que ele deveria ser mostrado cada vez mais. É o suficiente para fazer você sentir saudade daqueles agentes russos do caos.

    Você pode tentar isso sozinho; é fácil tirar vantagem do sistema publicando algo que gera comentários. Experimente fazer uma pergunta ou pedir um conselho: "Alguém tem um xampu que ama?" ou "Qual foi a coisa mais constrangedora que aconteceu com você no ensino médio?".

    Confie em mim, você receberá muitas respostas. E isso ficará no topo dos feeds de seus amigos por muitos dias.

    E, se eles são como meus amigos, eles o(a) odiarão por isso. Boa sorte.

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    Este post foi traduzido do inglês.

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