Fidel Castro, último grande personagem da Guerra Fria, morre aos 90

    Morte do líder da Revolução Cubana e de um regime que perseguiu opositores foi anunciada na sexta (25). Em Miami, notícia foi comemorada nas ruas. Ele sobreviveu no poder a 10 presidentes americanos

    Símbolo da Revolução Cubana, Fidel Castro morreu na noite desta sexta-feira (25), aos 90 anos.

    A morte do líder cubano, que comandou a ilha entre 1959 e 2008, foi anunciada pelo irmão e sucessor, Raul Castro, na TV estatal cubana: "É com profunda dor que informamos ao nosso povo e aos nossos amigos da América e do mundo que neste dia 25 de novembro de 2016, às 22h29 [hora local], o comandante e líder da Revolução Cubana, Fidel Castro Ruz, faleceu".

    O corpo será cremado.

    Información de Raúl Castro sobre el fallecimiento del líder de la Revolución Cubana #FidelCastro #Cuba

    Castro chegou ao poder em 1959 e permaneceu como ditador do país até janeiro de 2008, quando entregou a Presidência a seu irmão Raul Castro. Nos últimos meses, ele realizou poucas aparições públicas, o que alimentou rumores de sua morte nas redes sociais.

    Uma destas últimas aparições ocorreu em abril deste ano, pouco antes de Raul se reunir com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para discutir o restabelecimento das relações entre os dois países, no primeiro encontro do gênero desde 1956.

    O presidente do México, Enrique Peña Nieto, foi um dos primeiros líderes internacionais a se pronunciar, pelo Twitter, lamentando a morte do cubano. Em Miami, principal destino dos que fugiram do regime castrista e bastião de contestação, a morte de Fidel Castro foi celebrada nas ruas.

    O governo brasileiro e a oposição de esquerda ainda não se manifestaram sobre a morte do líder cubano. Sob as Presidências de Lula e Dilma, as relações entre Brasil e Cuba ganharam um forte impulso.

    A principal vitrine de Dilma na área da saúde, o programa Mais Médicos, baseou-se no envio de milhares de médicos cubanos a regiões do país onde faltavam profissionais da saúde. No campo econômico, o BNDES financiou obras de revitalização do porto de Mariel, em Cuba, numa operação financeira investigada pelo Ministério Público Federal por envolver a empreiteira Odebrecht.

    Cubano-americanos celebram, em Miami, a morte de Fidel Castro. https://t.co/4d8yVz9xDr

    Em 1955, na Cidade do México, Fidel Castro reuniu um grupo de 82 combatentes, entre eles o médico argentino Ernesto "Che" Guevara, para uma tentativa de tomar o poder. A bordo do barco Granma, eles chegaram a Cuba, mas fracassaram na tomada do quartel de Moncada, na cidade de Santiago.

    Preso, Fidel Castro fez o célebre discurso em que disse "a História me absolverá" em sua defesa durante o julgamento.

    Libertado, Fidel organizou seus combatentes nas montanhas da Serra Maestra para combater a ditadura de Fulgencio Batista (1933-1959). Após anos de combates, os guerrilheiros entraram, vitoriosos, nas ruas de Havana em 1º de janeiro de 1959. O carismático Fidel Castro prometia restabelecer liberdades civis e promover uma administração honesta.

    No poder, o novo regime nacionalizou o comércio e a indústria, realizou uma grande reforma agrária à base do confisco de grandes propriedades rurais e expropriou negócios norte-americanos – o que esteve na origem das tentativas americanas de removê-lo do poder. O maior exemplo foi a desastrosa invasão da Baía dos Porcos, em 1961, quando um grupo de cubano-americanos recrutados e treinados pela CIA (Agência Central de Inteligência) tentou depor o governo.

    O fiasco da operação da CIA no primeiro ano da Presidência de John Kennedy teve como efeito a declaração formal de Havana de alinhamento com a União Soviética, importando para o Hemisfério Ocidental a tensão da Guerra Fria.

    O embargo econômico que os EUA impuseram contra Cuba em 1960, e que se expandiu nos anos seguintes, castigou a economia cubana, mas foi ineficaz para remover o ex-guerrilheiro do poder.

    Com escalada da Guerra Fria, Cuba aproveitou sua posição de ponta-de-lança do comunismo no Hemisfério Ocidental. Em 1962, Fidel Castro autorizou a União Soviética a instalar mísseis no território cubano. Voos de espionagem da Força Aérea dos Estados Unidos fotografaram os artefatos sendo montados a menos de 200km da Flórida. A Crise dos Mísseis quase precipitou uma guerra nuclear entre as duas superpotências.

    No final, Kennedy e o líder soviético Nikita Khruschev chegaram a um acordo: em troca da remoção dos mísseis soviéticos de Cuba, os Estados Unidos retiraram seus próprios mísseis da Turquia e se comprometeram a não tentar invadir a ilha de Fidel Castro novamente.

    Na década de 1960, Havana se tornou uma fonte de apoio para grupos revolucionários na América Latina e em todo o mundo. Organizações da esquerda armada brasileira receberam treinamento e financiamento de Cuba para a implantação de focos de guerrilha para derrubar a ditadura militar. Um a um estes grupos foram sendo esmagados, principalmente sob o governo Médici (1969-1974).

    Companheiro de Fidel desde o fracasso da invasão do quartel de Moncada, Che Guevara chegou a se envolver pessoalmente com uma fracassada guerrilha no Congo e foi morto pelo exército nas montanhas da Bolívia. Esta assistência a grupos de esquerda levou Cuba para a lista dos estados patrocinadores do terrorismo internacional, durante o governo Ronald Reagan – posição só recentemente revertida.

    No plano doméstico, o regime cubano endurecia contra seus próprios cidadãos. A liberdade de imprensa foi suprimida e a repressão política perseguiu e aprisionou dissidentes. Com o colapso da União Sociética em 1991, Cuba perdeu seu mais importante parceiro internacional e mergulhou numa crise econômica sem precedentes.

    Nos anos 2000, com o advento dos governos de esquerda chegando ao poder pela via do voto na América Latina, Cuba encontrou novos aliados no continente. Fidel Castro teve uma relação próxima com Lula, com o venezuelano Hugo Chávez, o boliviano Evo Morales e a argentina Cristina Kirchner.

    Doente, Fidel Castro entregou o poder "provisoriamente" a seu irmão, Raul, em 2008. Dois anos mais tarde, Raul Castro ocupou de vez o espaço do irmão e esteve à frente de uma política de distensão cujo ponto alto até agora foi a visita de Barack Obama a Cuba e o restabelecimento das relações entre os dois países.

    Este post foi traduzido do inglês.

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