A história secreta da CIA agora está online

    A agência de inteligência dos EUA finalmente liberou 12 milhões de páginas que já não eram mais secretas na internet. Antes, a pessoa precisava viajar até Maryland para ver os documentos em apenas quatro computadores disponíveis. Confira aqui.

    Há algumas décadas, a CIA (Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos) deixou de classificar como secreto um documento de 26 páginas enigmaticamente intitulado “clarifying statement to Fidel Castro concerning assassination” (em português, “declaração de esclarecimento para Fidel Castro referente a assassinato”).

    Foi um passo em direção a uma maior transparência para uma das agências mais secretas do mundo. No entanto, para descobrir o que o documento realmente dizia, era necessário ir até os Arquivos Nacionais dos EUA, em College Park, Maryland, das 9h às 16h30 e torcer para que um dos quatro computadores designados pela CIA com acesso aos arquivos estivesse disponível.

    Porém, nesta quarta (18), a CIA postou o documento sobre Castro em seu site, além de mais de 12 milhões de páginas de outros registros da agência que não são mais secretos e que intrigam o público, jornalistas e historiadores há quase duas décadas. Você pode ver os documentos aqui.

    O título do documento de Castro, ao que parece, era muito mais interessante do que seu conteúdo. Ele inclui a transcrição parcial de uma entrevista feita por Barbara Walters (apresentadora americana) a Fidel Castro em 1977, na qual ela perguntou ao falecido ditador cubano se ele tinha “provas” da última tentativa da CIA de assassiná-lo. A transcrição foi enviada ao almirante Stansfield Turner, diretor da CIA na época, por um oficial de relações públicas da agência com uma nota destacando todas as referências à CIA.

    No entanto, esse é apenas um dos milhões de documentos agora liberados na internet. Datados entre os anos de 1940 e 1990, os registros abordam desde crimes de guerra nazistas a experiências de controle da mente e o papel que a CIA teve em derrubar governos no Chile e no Irã. Também há documentos secretos sobre um programa de telepatia e precognição conhecido como Star Gate, fotografias, mais de 100 mil páginas de boletins da inteligência interna e memorandos escritos por antigos diretores da CIA.

    Conhecida como base de dados CREST (um acrônimo para "CIA Records Search Tool", ou seja, "Ferramenta de Busca dos Registros da CIA"), o cache de registros deixou de ser secreto por um decreto de 1995 emitido pelo então presidente Bill Clinton. Sua ordem tornou públicos documentos governamentais secretos com pelo menos 25 anos que também tinham “valor histórico”.

    No ano 2000, a CIA passou a obedecer a lei — ou pelo menos a letra da lei — ao configurar os computadores nos Arquivos Nacionais. Há alguns anos, a CIA postou os títulos da coleção CREST em seu site — mas de uma maneira restrita, de forma que para realmente acessar os documentos ainda era necessária a visita aos Arquivos Nacionais.

    Apesar das restrições, historiadores e jornalistas imprimiram aproximadamente 1,1 milhão de páginas da base de dados. Apesar disso, até hoje a CIA havia resistido à pressão pública de liberar a base de dados on-line para que todos pudessem acessá-la.

    “Fazer com que todos os documentos do mundo deixem de ser secretos não quer dizer nada se as pessoas não puderem acessá-los”, disse Steve Aftergood, diretor do Projeto sobre Sigilo Governamental na Federação de Cientistas Americanos.

    Em 2014, MuckRock, uma agência de notícias sem fins lucrativos que também ajuda jornalistas e outros interessados a obter registros públicos, entrou com uma ação na Justiça, a partir da Lei de Liberdade de Informação (Freedom of Information Act - FOIA), para receber acesso à toda a base de dados. A CIA disse para MuckRock que levaria pelo menos seis anos para liberar todos os documentos. Frustrado, Michael Best, jornalista e pesquisador, lançou uma campanha com o Kickstarter para arrecadas fundos para copiar e digitalizar manualmente todos os documentos.

    Em novembro do ano passado, em uma ação judicial em resposta ao processo de MuckRock, a CIA disse “que toda a base de dados CREST estará disponível ao público on-line” em um ano.

    Joseph Lambert, diretor de gerenciamento de informações de longa data da CIA, que dirigiu o projeto para digitalizar a base de dados CREST, disse que a agência revisou a coleção uma última vez e não classificou retroativamente nenhum documento. “Temos trabalhado nisso por muito tempo e é uma das coisas que queria garantir que ficasse pronta antes de eu sair”, disse Lambert, que irá se aposentar em alguns meses, depois de 32 anos de serviço.

    Ele disse que um dos títulos que pesquisadores frequentemente solicitavam nos Arquivos Nacionais era sobre o projeto Berlin Tunnel, uma parceria da CIA e da Inteligência Secreta Britânica para vigiar a Sede do Exército Soviético em Berlim.

    Lambert disse que, na base de dados, a pesquisa poderá ser feita por coleção, título, data da publicação e tipo de classificação. Porém, alguns segredos permanecem: Nem Lambert, nem a porta-voz da CIA, Heather Fritz Horniak, revela o número de funcionários da CIA que trabalhou para digitalizar a CREST.

    Este post foi traduzido do inglês.

    Utilizamos cookies, próprios e de terceiros, que o reconhecem e identificam como um usuário único, para garantir a melhor experiência de navegação, personalizar conteúdo e anúncios, e melhorar o desempenho do nosso site e serviços. Esses Cookies nos permitem coletar alguns dados pessoais sobre você, como sua ID exclusiva atribuída ao seu dispositivo, endereço de IP, tipo de dispositivo e navegador, conteúdos visualizados ou outras ações realizadas usando nossos serviços, país e idioma selecionados, entre outros. Para saber mais sobre nossa política de cookies, acesse link.

    Caso não concorde com o uso cookies dessa forma, você deverá ajustar as configurações de seu navegador ou deixar de acessar o nosso site e serviços. Ao continuar com a navegação em nosso site, você aceita o uso de cookies.