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Estrelas da extrema direita gringa buscam alternativas ao YouTube após reclamarem de censura

A repressão do YouTube a discursos de ódio está fazendo com que muitas das maiores estrelas da extrema direita migrem para outras plataformas de vídeo.

No fim de fevereiro, David Seaman publicou um vídeo enraivecido em que ele reclamava por ter sido banido pelo YouTube por difundir conspirações sobre o ataque a tiros na escola de Parkland, na Flórida (EUA).

"Isso é absurdo, ser censurado no meu próprio país", disse Seaman. "Quem sou eu? Eu sou o jornalista que ajudou a revelar o Pizzagate."

Seaman certamente teve papel central na popularização da bizarra teoria conspiratória da direita que afirmava que proeminentes políticos democratas promoviam um círculo de exploração infantil no porão de uma pizzaria em Washington, D.C. Antes de ser expulso do YouTube, ele tinha mais de 160 mil seguidores e seus vídeos tinham sido assistidos mais de 11 milhões de vezes, de acordo com o Social Blade, serviço de monitoramento de redes sociais.

As transmissões diárias de Seaman sobre as forças secretas que dominam o mundo agora seguem ativas no BitChute, um dos diversos serviços competindo para se tornar a alternativa preferida da direita ao gigante do streaming de vídeo do Google.

Há anos, o YouTube abriga uma grande e influente rede de pessoas que criam vídeos politicos e de conspiração de extrema direita. No entanto, uma mistura de preocupações de anunciantes com a segurança de suas marcas, críticas sobre como o algoritmo do site força usuários para vídeos de conspiração e crescentes preocupações sobre discurso de ódio e desinformação levaram o YouTube a exercer uma moderação mais firme e lançar "strikes" aos publicadores que violarem suas políticas. Depois de três "strikes", eles são banidos da plataforma, como foi o caso do correspondente da Infowars em Washington, Jerome Corsi. Hoje ele faz transmissões ao vivo regularmente através do Gab, a plataforma de mensagens mais conhecida por hospedar trolls e neonazistas banidos do Twitter. O serviço lançou recentemente uma plataforma de vídeo.

O resultado da repressão do YouTube é que youtubers proeminentes de direita estão buscando alternativas, instalando-se em aspirantes a YouTube ou até criando seus próprios aplicativos de vídeo. Tudo isso para se preparar para o que eles veem como o dia inevitável em que o YouTube vai expulsá-los ou proibi-los de ganhar dinheiro na plataforma desmonetizando todos os seus vídeos. (Uma dinâmica parecida está acontecendo também com youtubers que produzem conteúdo sobre armas. O BuzzFeed News recentemente mostrou como eles estão criando suas próprias plataformas de vídeo voltadas a armas.)

Ray Vahey, fundador do BitChute, disse ao BuzzFeed News por e-mail que o YouTube se tornou "corporativo e chato" e não se importa mais com criadores de vídeos independentes, "e nós estamos preenchendo essa lacuna".

Muitos youtubers de direita conhecidos já abriram contas no BitChute e estão publicando seus vídeos nas duas plataformas. Isso inclui a ativista anti-imigração Lauren Southern, que tem mais de meio milhão de assinantes no YouTube; Tarl Warwick, mais conhecido como Styxhexenhammer666, que esteve envolvido em um caso de revisionismo do Holocausto; Stefan Molyneux, que, segundo a ONG Southern Poverty Law Center, promove "racismo científico e eugenia"; e Colin Robertson, o supremacista branco escocês mais conhecido como Millennial Woes, que tem quase 50 mil inscritos no YouTube.

A página inicial do BitChute, que exibe os vídeos mais populares do site, reflete essa inclinação à direita. No momento da redação deste post, a página incluía vídeos sobre Donald Trump, posse de armas, políticas de identidade branca e QAnon, a teoria da conspiração bizarra popularizada por Roseanne Barr. (Atualmente, não existe opção de fazer publicidade no BitChute.)

O Gab adicionou seu próprio serviço de vídeo em agosto, que o site descreve como um bastião contra a censura. O Gab TV está aberto atualmente apenas para usuários Pro que pagarem US$ 6 por mês para desbloquear o recurso, mas a empresa diz que está crescendo rapidamente. Além de Jerome Corsi, o canal principal do Infowars também faz transmissões regularmente no Gab.

Os criadores de vídeo do Gab podem aceitar gorjetas ou cobrar por conteúdo somente para assinantes, mas não há receita de publicidade no site até o momento. O Gab diz que planeja implementar pagamentos com criptomoedas no futuro.

Outro serviço de vídeo que põe suas esperanças nas criptomoedas é o DTube. O site usa blockchain, a tecnologia por trás do bitcoin, para armazenar dados; e os usuários também podem aceitar pagamentos com criptomoedas. O DTube se vende explicitamente como uma alternativa ao YouTube que é mais resistente à censura graças à sua arquitetura descentralizada.

O criador do site, Adrien, que falou com o BuzzFeed News sob a condição de que seu sobrenome não fosse usado, disse que muitos vídeos conspiratórios banidos do YouTube já se deslocaram para o DTube. Alguns criadores de vídeo que não foram banidos estão usando o DTube como segunda fonte de renda aceitando pagamentos em criptomoedas. O site também hospeda diversos vídeos não políticos.

Adrien alertou que o DTube ainda não está pronto para uma migração em massa do YouTube. "Ele ainda não é um produto robusto", disse Adrien. "Neste momento, nós estamos jovens demais. Se gente demais começar a usar o site agora, eu acho que não daria certo."

Outros do ecossistema da mídia de direita tentaram criar suas próprias plataformas do zero.

O Natural News, site que promove dicas de saúde extremamente duvidosas e teorias da conspiração, anunciou em fevereiro que está construindo um "site de vídeo pró-liberdade" em resposta ao "ataque de censuras a vozes conservadoras" do YouTube.

O site canadense The Rebel — que empregou figuras conhecidas de direita como Southern, Gavin McInnes e Jack Posobiec — começou a construir seu próprio aplicativo de vídeo no ano passado.

“Depender do YouTube também é uma fragilidade para nós — afinal, e se eles decidirem nos banir um dia?", disse o fundador do Rebel, Ezra Levant, em um vídeo em que ele pede doações. "O YouTube pertence ao Google, e nós sabemos que eles vêm lentamente intensificando suas restrições à liberdade de expressão, especialmente liberdade de expressão conservadora."

Preocupações com ser expulso de plataformas não são novas para a direita on-line. Mas, embora ser banido do Twitter seja relativamente comum, até uma marca de honra para alguns, ter o YouTube contra prejudica a capacidade dessas pessoas de divulgar sua mensagem, ganhar dinheiro e encontrar novos seguidores.

O tamanho e o alcance do YouTube, especialmente entre usuários mais jovens, têm sido valiosos para o crescimento da direita on-line — um fator há muito tempo reconhecido por algumas de suas figuras-líderes.

“Enquanto vocês estão agonizando com pequenos tuítes para proclamar virtudes à sua câmara de eco, eu estou distribuindo pílulas vermelhas a uma geração inteira no YouTube”, tuitou Paul Joseph Watson, editor do Infowars, no ano passado. (Pílula vermelha, no jargão da direita on-line, significa ter seus olhos abertos para a verdade sobre a sociedade, uma referência ao filme Matrix.)

While you are agonising over snipey little tweets to virtue signal to your echo chamber, I am red pilling an entire generation on YouTube. 🤗

Alguns meses depois desse tuíte, no entanto, Watson publicou um vídeo mal-humorado no YouTube no qual ele reclama amargamente sobre várias plataformas terem banido a ele e a outras figuras de direita, além de prever um banimento do YouTube também.

"Eu preciso pensar seriamente se vale a pena investir centenas e centenas de horas do meu tempo todos os anos em algo que possa simplesmente desaparecer quando eu acordar de manhã no dia seguinte", disse Watson.

Southern também foi veemente sobre suas frustrações com o YouTube em uma entrevista com o BuzzFeed News. "É um caos total. Ninguém entende como esse sistema funciona, e esse é uma das grandes apreensões que os youtubers têm com o YouTube,” disse Southern.

“Pelo menos nos expliquem como isso funciona, para que saibamos o que estamos fazendo de errado — mas eles não dizem. Eles não explicam."

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Este post foi traduzido do inglês.

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