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É assim a vida de uma mulher condenada à prisão perpétua

"Minha vida como mulher e mãe terminou aos 35 anos. Tenho consciência de que as pessoas da minha família têm suas próprias vidas, nas quais não tenho mais lugar."

Linda, 70 anos, encarcerada aos 43 anos em 1992.

Sara Bennett é uma ex-advogada de defesa criminal que começou a praticar fotografia como uma maneira de mostrar a realidade das mulheres que cumprem sentenças de prisão perpétua nos Estados Unidos.

Enquanto exercia o direito há 20 anos, Sara viu centenas de mulheres que pareciam totalmente reabilitadas depois de passarem um longo tempo atrás das grades. A maioria dessas mulheres teve sua liberdade condicional negada, em decisões que tomaram por base os erros que elas cometeram décadas atrás, e não o progresso que elas haviam demonstrado desde então. Para ajudar a chamar a atenção para as histórias dessas mulheres, Sara começou a coletar seus retratos e fazer com que cada uma delas compartilhasse histórias pessoais da prisão.

Looking Inside: Portraits of Women Serving Life Sentences (Olhando para dentro: retratos de mulheres cumprindo prisão perpétua, em tradução livre) é o culminar desse trabalho, e oferece uma imagem poderosa do sistema de justiça criminal dos EUA hoje.

Abaixo, Sara Bennett compartilha com o BuzzFeed News uma seleção de retratos de Looking Inside e discute como é para essas mulheres a vida encarcerada.

Você pode falar um pouco das sentenças que essas mulheres estão cumprindo?

Sara Bennett: Essas mulheres estão cumprindo prisão perpétua na prisão de segurança máxima do estado de Nova York. Quando as pessoas estão no final de suas sentenças, elas são enviadas para uma prisão de segurança média. Então, algumas das mulheres mais velhas foram fotografadas lá.

Cumprir sentenças de prisão perpétua não significa necessariamente que você também não sairá da prisão um dia. Em outras palavras, se você tem uma sentença de 25 anos de prisão perpétua, você cumpriria esses 25 anos e depois passaria por um conselho de liberdade condicional. Mas, historicamente, muitas pessoas têm a liberdade condicional negada repetidamente.

Andrea, 64 anos, encarcerada aos 46 anos em 2001.

Dessa forma, o que estou tentando fazer por meio das minhas fotos é mostrar que, depois de 25 anos, talvez até mesmo mesmo depois de 10 anos de prisão, as pessoas mudaram bastante. Mas essa mudança nunca é reconhecida. Elas passam por um conselho de liberdade condicional, têm o seu crime de 25 anos atrás analisado e têm a liberdade condicional negada por isso.

Estou tentando mostrar quem essas mulheres estão se tornando ou se tornaram.

Quais são os crimes que essas mulheres cometeram?

SB: Homicídio. São todos homicídios.

Eu estava buscando crimes graves, mas meu projeto não entra nos detalhes do crime. Essa foi uma decisão muito consciente. Este projeto não é sobre isso. Essas pessoas não podem mudar o que fizeram, e eu quero que os espectadores tenham em mente como é cumprir uma sentença longa por um crime muito grave.

Hoje, o encarceramento em massa é um assunto vital, com muitos acreditando que os americanos têm ficado em celas superlotadas. Mas a questão é que, se não olharmos para as pessoas que estão cumprindo sentenças longas e falarmos sobre elas, então as prisões ainda continuarão lotadas. Por isso foi uma escolha muito consciente documentar condenadas à prisão perpétua e não falar sobre seus crimes, exceto para dizer que foi homicídio.

Como o sistema de justiça criminal dos EUA se compara ao resto do mundo?

SB: Para a maioria dos países ocidentais, 20 anos geralmente é o limite máximo que as pessoas cumprem na prisão. Nos EUA, 20 anos geralmente é o limite mínimo. No estado de Nova York, o mínimo para um homicídio é 15 anos. O máximo na maioria dos países é onde nosso mínimo começa.

Na minha experiência, depois de cumprirem um curto período de tempo, as pessoas começam a entender o que fizeram. Com a maioria das pessoas que conheci, leva alguns anos para elas se acostumarem com a situação. As pessoas vão para a prisão e estão com raiva, e isso é arrasador. Elas têm origens caóticas e provavelmente são vítimas de trauma. Mas, na prisão, elas são forçadas a uma vida mais organizada. Depois de alguns anos, as pessoas começam a se familiarizar com a situação e a amadurecer. Elas têm terapia e são educadas. Elas têm empregos e meio que se tornam as pessoas que poderiam ter sido se tivessem a orientação adequada ao longo da vida ou a educação adequada.

Quando se está há 8, 9, 10 anos preso, muitas pessoas estão totalmente prontas para serem reintroduzidas na sociedade. E eu acho que é isso que os outros países descobriram.

Você acha que o sistema de justiça criminal dos EUA está falhando com essas mulheres?

SB: Com certeza. Sim.

O você quer que as pessoas tirem de Looking Inside?

SB: Quero que elas compreendam a humanidade das pessoas na prisão. Para a maioria das pessoas, o prisioneiro não é a manchete. O crime é o que chama a atenção. Vemos uma foto de fichamento policial. Ouvimos os detalhes horrendos, mas não pensamos nelas como pessoas reais. Então, eu quero desfazer esse estereótipo do que significa quando alguém comete um crime.

Quem são essas pessoas? Se você vir isso e se conectar com essa pessoa, da próxima vez que alguém ler sobre alguém a quem a liberdade condicional foi negada pela décima vez porque matou alguém nos anos 70 ou 80, você deve começar a se perguntar se é isso que realmente queremos fazer como sociedade.

Não sei quais serão as respostas das pessoas para essa pergunta, pois acho que é uma pergunta muito filosófica. Mas sinto que, pelo menos, trazer mais para a realidade esses prisioneiros é um passo na direção certa.

Assia, 35 anos, encarcerada aos 19 anos em 2003.

Cheyenne, 32 anos, encarcerada aos 29 anos em 2016.

Deborah, 49 anos, encarcerada aos 27 anos em 1997.

Elizabeth, 52 anos, encarcerada aos 22 anos em 1989 e libertada em liberdade condicional em 2019 após cumprir 30 anos.

Gloria, 53 anos, encarcerada aos 35 anos em 2000.

Haydee, 52 anos, encarcerada aos 26 anos em 1993 e libertada em liberdade condicional em 2019, após cumprir 26 anos.

Jennifer, 21 anos, encarcerada aos 17 anos em 2014.

Kat, 43 anos, encarcerada aos 34 anos em 2009.

Leah, 44 anos, encarcerada aos 23 anos em 1997 e libertada em liberdade condicional em 2019 após cumprir 21 anos.

Patrice, 36 anos, encarcerada aos 16 anos em 1998.

Sahiah, 23 anos, encarcerada aos 16 anos em 2011.

Stacy, 45 anos, encarcerada aos 30 anos em 2004.

Taylor, 36 anos, encarcerada aos 24 anos em 2006.

“Não me julgue pelo meu crime. Um incidente jamais deve definir um indivíduo. Na maioria das vezes, os presos são caracterizados pelos seus crimes. No entanto, nossos crimes não representam quem somos como pessoas. Eles não nos definem. Algumas de nós escolheram o estilo de vida errado, foram educadas em lares disfuncionais, sofreram violência doméstica ou sofrem de dependência de drogas ou distúrbio mental. Na maioria das vezes, tudo o que precisávamos era de alguém para intervir e nos fornecer a ajuda que precisávamos desesperadamente. O encarceramento e o tempo excessivo na prisão nem sempre são a resposta. Temos qualidades redimíveis e merecemos uma segunda chance.”


Este post foi traduzido do inglês.

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