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Estas fotos mostram que a vida selvagem caminha para a extinção na África

As paisagens da África Oriental aparecem como locais de extremo estresse ambiental, onde animais selvagens vagam pelas terras industrializadas e poluídas que um dia já foram deles.

O fotógrafo Nick Brandt passou anos trabalhando na África Oriental, documentando o contraste gritante entre a beleza natural da região e o impacto devastador dos humanos no meio ambiente.

Desde 2005, Brandt publicou seis livros sobre o tema da extinção da vida selvagem e tem sido objeto de muitas exposições individuais em galerias e museus do mundo inteiro. Em 2010, Brandt levou seu trabalho ainda mais longe, ajudando a lançar a Big Life Foundation, uma organização de conservação sem fins lucrativos que alistou mais de 200 guardas florestais locais para proteger 1,6 milhão de acres no Quênia e na Tanzânia.

Seu novo livro, "This Empty World" [Este Mundo Vazio, em tradução livre], mostra as paisagens da África Oriental como locais de extremo estresse ambiental, onde animais selvagens vagam pelas terras industrializadas e poluídas que um dia já foram deles. Cada imagem é meticulosamente combinada a partir de duas imagens originais, feitas exatamente no mesmo local, com intervalo de semanas — os resultados são uma visão surreal e assombrosa do passado selvagem da Terra e do futuro sombrio para o qual podemos estar caminhando se nada mudar.

Abaixo, Nick Brandt fala ao BuzzFeed News sobre os conceitos por trás dessas imagens e descreve um mundo em que a vida selvagem é vítima do desrespeito da humanidade pelo meio ambiente.

Quais são os temas que você aborda em "This Empty World"?

"This Empty World" foca na destruição crescente do mundo natural africano nas mãos dos humanos, mostrando um mundo onde, oprimidos pelo desenvolvimento desenfreado, não há mais espaço para os animais sobreviverem. Os países da África Oriental, onde esta série foi fotografada, são um dos focos desta explosão populacional. Todas essas pessoas têm que viver em algum lugar.

Ambientalistas que trabalham na África Oriental reconhecem que esta realmente é uma das maiores e mais dramáticas razões para essa perda radical de biodiversidade. Não há praticamente nenhum parque ou reserva grande o suficiente para a maioria dos animais viverem suas vidas com segurança. E, fora das áreas surpreendentemente pequenas, os animais estão sendo espremidos e caçados. Estamos chegando ao ponto em que é improvável que qualquer mamífero de grande porte possa sobreviver em terras desprotegidas.

Então, o que você vê nessas fotos, para mim, representa a invasão dos humanos à natureza selvagem remanescente, conforme os animais são exterminados devido à quantidade cada vez menor de lugares onde podem viver.

Você pode descrever a relação entre os humanos e a vida selvagem nessas fotos?

A degradação ambiental quase sempre afetará a população rural mais pobre, devido ao esgotamento dos recursos naturais dos quais ela depende. Os verdadeiros vilões — a maioria dos políticos, industriais e pessoas do gênero — estão todos fora de cena. As pessoas nas fotos são impotentemente arrastadas pela maré implacável do "progresso". Mas elas nunca são retratadas como agressoras nas fotos, porque elas não são.

Muitos africanos diriam, justificadamente, que as sociedades ocidentais destruíram a maior parte de seu próprio mundo natural há séculos em busca da expansão econômica, e que, na África, agora é a vez deles de crescer economicamente. Mas a proteção do meio ambiente e o benefício econômico podem andar de mãos dadas.

Em muitas áreas da África Oriental, onde esses animais ainda existem, o ecoturismo muitas vezes é a única fonte significativa de benefícios econômicos de longo prazo para as comunidades locais. Tirando os animais, geralmente resta pouca coisa de valor econômico. Em um lugar como o Quênia, a indústria do turismo — o segundo maior setor da economia do país — entraria em colapso sem esses animais. Poucas pessoas visitariam um mundo de pecuária e poeira.

As pessoas nessas fotos são atores?

As pessoas são de comunidades locais e da região. Não são atores. Na verdade, eu queria muito que as pessoas se sentissem naturais, sem fazer pose. Então, eu as colocava mais ou menos em frente à câmera e esperava até que elas estivessem tão relaxadas, ou entediadas, que acabavam esquecendo que eu as estava fotografando.

Quanto de cada foto é real e quanto é edição?

Fico feliz que você tenha feito essa pergunta porque, é claro, a maioria das pessoas inicialmente acha que, nos dias atuais de photoshop onipresente, eu provavelmente fotografei os animais e depois os coloquei em algum outro lugar. Na realidade, quase todas as fotos são uma combinação de dois momentos no tempo, registradas com semanas de intervalo, quase todas a partir da mesma posição da câmera.

As imagens foram todas fotografadas em áreas desprotegidas, povoadas e geralmente muito erodidas no Quênia, muitas vezes a poucas centenas de metros de aldeias e estradas. Inicialmente, é construído e iluminado um cenário parcial. Passam-se semanas até que os animais que habitam a região se sintam confortáveis o suficiente para entrar no quadro. Após os animais serem registrados na câmera, são construídos os cenários completos.

Então, uma segunda sequência é fotografada com as pessoas e o cenário completo. As fotos finais em grande escala são uma composição dos dois elementos. Depois que os cenários foram removidos, todos os elementos foram reciclados com quase nada de resíduos. Não restou nenhuma evidência da sessão de fotos nas paisagens.

Você se considera otimista ou pessimista quando se trata do meio ambiente?

Como atestam os ambientalistas que conheço em toda a África, essa visão, embora simbólica, é uma representação realista do rápido desaparecimento do mundo natural em partes significativas da África.

No entanto, eu não estaria tirando essas fotos se não achasse que há algum tipo de esperança, pelo menos em algumas partes do continente e do mundo. Os animais dessas fotos, quase dois anos depois, provavelmente ainda estão vivos.

Atualmente, estamos vivendo a antítese da criação. Centenas de milhões de anos foram necessários para se construir um lugar com uma diversidade tão maravilhosa, e apenas alguns poucos anos, um momento infinitesimal no tempo, para aniquilar isso.

O que você espera que as pessoas tirem de "This Empty World"?

Que a destruição do mundo natural é muito mais complexa do que imaginamos, está muito além de questões como a caça ilegal. Que a África Oriental das nossas imaginações — uma visão romantizada de vastas extensões de vida selvagem intocada — está tristemente desatualizada. E que, na destruição, também prejudicamos a nós mesmos no processo.


Este post foi traduzido do inglês.

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