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Estes trabalhos corajosos mostram como o feminismo é retratado hoje na arte

"O fato de ser mulher, ou ter determinada aparência ou determinado corpo, não limita ninguém em termos de criatividade e do que se pode fazer com uma câmera."

Em 1985, o grupo de arte-ativistas conhecido como Guerrilla Girls levantou uma questão relevante em seu trabalho "As mulheres precisam estar nuas para entrar no Met. Museum?". O cartaz mostrava uma mulher nua sentada com o corpo reclinado usando uma máscara de gorila, acompanhada de uma frase com uma estatística: "Menos de 5% dos artistas das seções de arte moderna são mulheres, mas 85% da nudez nas obras é feminina".

Desde então, as artistas têm desafiado o status quo do predomínio da arte feita por homens, redefinindo nossas expectativas sobre a arte feminina por meio de suas obras. Hoje, à medida que uma nova geração de artistas assume o controle, ideias de feminilidade, sexualidade e gênero continuam a ser exploradas por meio de novas abordagens e tecnologias. O livro Girl on Girl: Art and Photography in the Age of the Female Gaze (Garota com garota: arte e fotografia na era do olhar feminino, em tradução livre) , escrito por Charlotte Jansen, jornalista especializada em arte e cultura, destaca algumas das incríveis artistas dessa nova geração que estão produzindo trabalhos expressivos por meio de suas perspectivas únicas.

Jansen falou com o BuzzFeed News sobre a história das mulheres na arte e o que essa nova geração de artistas está fazendo para desafiar o patriarcado.

Como as mulheres têm sido tradicionalmente retratadas pela arte ao longo da história?

Charlotte Jansen: A história da arte foi dominada pelo que conhecemos como o "olhar masculino", que oferece uma visão muito limitada do corpo feminino, do que ele faz e é capaz de fazer. Ao longo da história da arte, o corpo feminino sempre serviu a algum tipo de objetificação sexual ou de maneira fortemente politizada, no sentido de que, se não estiver de acordo com a ideia convencional de gratificação sexual, deve ser relacionado a alguma afirmação feminista ou política.

Também somos expostos com tanta frequência ao corpo feminino todos os dias que é impossível não ver uma mulher seminua em todos os lugares, e ainda mais nas telas. Portanto, eu quis analisar o que isso significa e como essas fotógrafas estão respondendo e talvez até subvertendo essa situação.

Como o livro Girl on Girl aborda a forma como as mulheres são retratadas na arte?

CJ: Para fazer esse livro, eu entrevistei 40 artistas mulheres. Tivemos uma conversa honesta sobre o trabalho delas, sem tentar fazer suposições ou classificá-los de acordo com seu gênero. Perguntei por que elas fotografam mulheres, o que estão tentando fazer e como tem sido a repercussão de seus trabalhos.

Descobri também que havia alguns pontos em comum entre essas artistas. Embora seu trabalho, origem e cultura sejam muito diferentes, elas também compartilham experiências muito fortes. Uma dessas experiências é que todas citaram o fato de não se sentirem confortáveis ao fotografar pessoas estranhas, o que achei muito interessante. Todas elas fotografam mulheres da sua comunidade, porque não se sentem à vontade em ter a imagem de pessoas de fora.

Várias fotógrafas que entrevistei também tiveram experiências ruins em escolas de arte, onde as pessoas diziam que elas estavam apenas fazendo o que Cindy Sherman fez. Para mim, é chocante pensar que ninguém pode trabalhar com figurinos e autorretratos só porque Sherman fez isso também. Só existe espaço para uma fotógrafa fazer esse tipo de trabalho? Não estou querendo dizer que todas as mulheres veem o mundo da mesma forma, mas que existem experiências mútuas que compartilhamos como mulheres, e que isso afeta a maneira como abordamos e vemos o mundo.

Quem são as artistas que você entrevistou?

CJ: Há vários tipos de vertentes nesse livro. Uma delas é um grupo de artistas muito jovens e hiperfeministas do Instagram que entraram em cena em meados de 2010 — artistas como Petra Collins, Mayan Toledano, Maya Fuhr. Essas artistas são muito interessantes na forma como se distanciam da maneira usual de mostrar sua arte e divulgar sua mensagem. Elas trabalham para sua comunidade, para garotas adolescentes e jovens, e têm sido muito eficazes na construção de uma comunidade em torno de sua estética.

Zanele Muholi é outra artista que é um verdadeiro exemplo de alguém que usa a fotografia para realmente mudar o pensamento das pessoas e contar histórias invisíveis. Ela fotografou sua comunidade na África do Sul e a diáspora. Muitas dessas mulheres foram estupradas ou sofreram algum tipo de abuso sexual ou crime de ódio; algumas morreram depois de terem sido fotografadas por ela. São histórias que não aparecem na mídia, e que ela aborda de uma maneira muito direta, ainda que intimista.

Aconteceu algo inesperado enquanto você trabalhava nesse livro?

CJ: Acho que aprendi que eu tinha muitos preconceitos em relação à arte. Por exemplo: antes, quando eu via imagens sensuais ou selfies de mulheres, por prevenção eu já tinha determinadas reações e julgava as artistas como narcisistas. Muitas vezes me vi pensando que essa não poderia ser uma forma verdadeira de autoempoderamento. Acho que mudei de opinião ao longo da realização desse livro, e percebi o quanto algumas dessas ideias sobre feminilidade na arte estão arraigadas nas nossas reações às imagens.

O que você espera que a próxima geração de artistas mulheres absorva do seu livro?

CJ: Espero que o livro as inspire sempre a criar. Espero que elas saibam que o fato de ser mulher, ou ter determinada aparência ou determinado corpo, não limita ninguém em termos de criatividade e do que se pode fazer com uma câmera.

Eu também quero que elas não tenham medo. Acho que mostrar seu corpo é uma das coisas mais corajosas que você pode fazer como uma artista mulher.


Este post foi traduzido do inglês.

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