Pesquisa dos EUA mostra que leitores não sabem separar notícias falsas de verdadeiras

    Pesquisa do instituto Ipsos conduzida para o BuzzFeed News descobriu que 75% dos adultos americanos viam manchetes de notícias falsas como sendo reais.

    Manchetes de notícias falsas enganam americanos adultos em cerca de 75% das vezes, de acordo com uma nova pesquisa em grande escala conduzida pelo instituto Ipsos para o BuzzFeed News.

    A pesquisa também descobriu que as pessoas que citam o Facebook como sua principal fonte de notícias são mais propensas a ver manchetes de notícias falsas como sendo verdadeiras do que aquelas que confiam menos na plataforma para se informar.

    Essa pesquisa é o primeiro estudo em larga escala com a opinião do público sobre o fenômeno das notícias falsas, que vem tendo um efeito avassalador na política global.

    Os resultados mostram pessoas com pouca habilidade para discriminar a veracidade de manchetes em redes sociais. A pesquisa também mostrou, surpreendentemente, uma propensão das pessoas a acreditar em histórias falsas mesmo quando elas não se encaixavam em sua inclinação política. Os resultados questionam a noção — que o Facebook supostamente começou a testar — de que os próprios internautas conseguem distinguir o que é real de falso em relação a notícias vistas na plataforma.

    A pesquisa foi realizada online com 3.015 americanos adultos entre 28 de novembro e 1º de dezembro. Para saber mais sobre a metodologia, confira o fim deste artigo. Um resumo detalhado dos resultados a todas as perguntas pode ser encontrado aqui (em inglês). Cálculos adicionais podem ser encontrados aqui.

    "As eleições de 2016 nos EUA podem ter se tornado um marco na história política, pois foi quando a informação e a desinformação se tornaram uma moeda eleitoral dominante", disse Chris Jackson, das Relações Públicas do Ipsos, que conduziu a pesquisa em nome do BuzzFeed News. "As 'notícias falsas' foram lembradas por uma significante parcela dos entrevistados, e essas histórias foram vistas como verossímeis."

    A pesquisa descobriu que aqueles que se identificam como republicanos (ou seja, que se identificam com o Partido Republicano nos EUA, de tendência conservadora) são mais propensos a ver notícias falsas sobre as eleições como "muito" ou um "um pouco" precisas.

    Em cerca de 84% das vezes, os republicanos classificaram manchetes de notícias falsas como verdadeiras (entre as manchetes que reconheceram), comparado a uma taxa de 71% entre os democratas (pessoas que se identificam com o Partido Democrata, mais liberal). A pesquisa também descobriu que os eleitores de Donald Trump são mais propensos a considerar manchetes de notícias falsas como sendo verdadeiras do que os eleitores de Hillary Clinton.

    Principais manchetes de notícias falsas

    Na pesquisa, participantes viram uma seleção de seis manchetes — três verdadeiras e três falsas — relacionadas às eleições nos EUA. As seis manchetes foram retiradas de uma lista de 11 manchetes coletadas pelo BuzzFeed News, que já analisou como artigos de notícias falsas tiveram um desempenho melhor no Facebook do que artigos de notícias verdadeiras.

    Os entrevistados deveriam dizer se se lembravam das manchetes. Em caso afirmativo, tinham que responder se os títulos de cada notícia eram "muito precisos", "um pouco precisos", "não muito precisos", ou "nada precisos".

    As manchetes de notícias verdadeiras foram consideradas mais críveis do que as de notícias falsas. Em 1.516 ocasiões, os participantes se lembraram de ter visto ou ouvido manchetes de notícias falsas – e as consideraram, 75% das vezes, "um pouco" ou "muito" precisas. Em comparação, as manchetes de notícias verdadeiras foram consideradas precisas em 83% das vezes, após terem sido lembradas em 2.619 ocasiões.

    Dos entrevistados, quase 33% se lembravam de ter visto ao menos uma das manchetes de notícias falsas sobre as eleições. Em comparação, 57% se lembravam de ter visto ao menos uma das manchetes de notícias verdadeiras.

    A manchete de notícia falsa lembrada pelo maior número de participantes foi uma do site de humor Denver Guardian: "Agente do FBI suspeito no vazamento de e-mails de Hillary é encontrado morto em aparente assassinato-suicídio." Vinte e dois porcento dos participantes disseram que se lembravam de ter visto essa notícia.

    A manchete verdadeira mais lembrada, por sua vez, foi de uma notícia pós-eleição da CBS News em que Donald Trump dizia que não iria aceitar salário como presidente. Ela foi lembrada por 57% das 1.507 pessoas que viram a manchete na pesquisa.

    A manchete de notícia falsa em que as pessoas mais acreditaram foi a "Diretor Comey do FBI colocou uma placa de Trump em seu gramado". Das 186 pessoas que se lembraram de vê-la, 81% disseram que ela era "muito" ou "um pouco precisa". (Clique aqui para ler como isso foi desmentido.)

    Por sua vez, outra manchete falsa dizendo que um homem havia recebido US$ 3.500 para ir a uma passeata de Donald Trump também foi avaliada como verdadeira por 79% dos 348 entrevistados que se lembraram de tê-la visto.

    Um dos fatores que contribuíram para a disseminação dessa falsa notícia foi que ela foi tuitada por Eric Trump, pelo antigo administrador de campanha de Trump, Corey Lewandowski, e até mesmo por Kellyane Conway, que foi a administradora de campanha de Trump até sua vitória. (Conway, depois, deletou seu tuíte.)

    As duas manchetes verdadeiras que as pessoas mais julgaram como precisas foram um artigo publicado no jornal "The New York Times", "Eu dirigi a CIA. Agora estou apoiando Hillary Clinton" (90% das 157 pessoas que a reconheceram), e um artigo em que Donald Trump dizia que não aceitaria receber o salário de presidente (90% dos 860 participantes que a reconheceram).

    Eleitores de Clinton X Eleitores de Trump

    Os eleitores de Hillary Clinton eram menos propensos do que os eleitores de Donald Trump a verem manchetes falsas como precisas, de acordo com a pesquisa. Isso pode ser, em parte, porque a maioria das matérias falsas sobre as eleições que tiveram um bom desempenho no Facebook eram claramente pró-Trump e anti-Clinton. No entanto, ainda assim a maioria dos eleitores de Clinton classificavam notícias falsas como sendo "um pouco" ou "muito" precisas.

    Em média, os eleitores de Clinton julgaram 58% das notícias falsas como sendo verdadeiras, contra 86% dos eleitores de Trump. (Essas porcentagens foram baseadas em 424 casos em que eleitores de Clinton reconheceram as manchetes e 634 de Trump.)

    Uma notícia falsa que dizia que o papa Francisco estava apoiando Trump foi vista como precisa por 46% dos eleitores de Clinton, comparado a 75% dos eleitores de Trump. A sobre a suposta morte de um agente do FBI ligado à investigação dos e-mails vazados de Clinton foi vista como precisa por 52% dos eleitores de Clinton e 85% dos eleitores de Trump.

    Brendan Nyhan, professor de ciências políticas na faculdade Dartmouth (EUA) que pesquisa sobre a desinformação política, disse que ter ficado surpreso com a alta porcentagem de democratas que consideraram as histórias pró-Trump verdadeiras.

    "É surpreendente que tanto democratas quanto republicanos tenham considerado manchetes falsas como verdadeiras em muitos dos casos", disse Nyhan. "Mesmo razões partidárias — que provavelmente nos fariam esperar que as pessoas questionassem como falsas notícias prejudiciais ao seu candidato — não parecem proteger as pessoas de acreditar nelas."

    Muitos eleitores de Trump, em particular, consideraram como verdadeira uma notícia falsa que dizia que o republicano tinha enviado seu próprio avião para trazer 200 fuzileiros navais de volta para casa. A declaração, que foi desmentida pelo jornal "Washington Post", se espalhou depois que o apresentador da Fox News Sean Hannity reportou essa notícia e a campanha de Trump a confirmou.


    O papel do Facebook em expor pessoas a notícias falsas

    Apesar de a pesquisa não provar uma ligação direta entre o uso do Facebook e a exposição e crença em notícias falsas, ela oferece informações sobre a relação entre a plataforma e a desinformação sobre as eleições nos EUA.

    As pessoas que disseram que confiam no Facebook como sua "principal" fonte de notícias pareceram ser desproporcionalmente suscetíveis a manchetes de notícias falsas. Nas 553 vezes em que essas pessoas reconheceram manchetes de notícias falsas, a informação foi julgada como "muito" ou "um pouco" precisa em 83% das vezes.

    Em comparação, manchetes de notícias falsas foram consideradas precisas "somente" 76% das vezes por pessoas que consideram o Facebook uma fonte "menos importante" de notícias (465 opiniões), e 64% das vezes por pessoas que raramente ou nunca usam o Facebook para notícias (498 julgamentos).

    No entanto, essas porcentagens vieram de pequenos grupos de participantes e devem ser interpretadas com cuidado. "Temos muito o que aprender sobre esse assunto, mas está claro que o Facebook, em particular, precisa levar as notícias falsas mais a sério daqui para frente", disse Nyhan.

    A pesquisa também reforça o quão importante o Facebook se tornou como fonte de notícias para os americanos. Um total de 23% de mais de 3.000 participantes listam o Facebook como sua principal fonte de notícias, com outros 27% citando-o como uma fonte secundária. Apenas a CNN e a Fox News tiveram porcentagens mais altas de pessoas que viam esses meios como fontes primárias ou secundárias de notícias.

    Dos entrevistados, 47% disseram visitar o Facebook várias vezes por dia, com outros 15% dizendo que visitam a plataforma uma vez ao dia. O YouTube foi a segunda rede social mais popular, com 20% dizendo que o visita várias vezes ao dia, e 11%, uma vez ao dia.

    "Não quero que o Facebook decida qual conteúdo político verídico aparece no Feed de Notícias, mas espero que a empresa possa evitar que notícias 100% falsas sejam uma oportunidade a ser explorada", disse Nyhan.

    Observações e metodologia

    Abaixo, a lista das 11 manchetes das eleições testadas na pesquisa:

    • Papa Francisco choca o mundo e apoia Donald Trump para presidente em declaração (falsa)

    • Donald Trump envia seu próprio avião para trazer 200 fuzileiros navais de volta para casa (falsa)

    • Agente do FBI suspeito no vazamento de e-mails de Hillary é encontrado morto em aparente assassinato-suicídio (falsa)

    • Manifestante confessa: "Recebi US$ 3.500 para participar de evento de campanha de Trump" (falsa)

    • Diretor Corney, do FBI, coloca placa de apoio a Trump no gramado de sua casa (falsa)

    • Fotos provocantes de Melania Trump com outras garotas vêm à público (verdadeira)

    • Barbara Bush: "Não sei como as mulheres podem votar" em Trump (verdadeira)

    • Donald Trump diz que fará "questão" que todos os muçulmanos se registrem (verdadeira)

    • Trump: "Protegerei os cidadãos LGBTQ" (verdadeiro)

    • Eu dirigi a CIA. Agora estou apoiando Hillary Clinton (verdadeira)

    • Donald Trump diz sobre salário de presidente: "Não vou aceitar" (verdadeira)

    Os participantes viram uma seleção de seis manchetes, em que três eram verdadeiras e três eram falsas. Se dissessem que se lembravam de ter visto ou ouvido a manchete, era então pedido que eles avaliassem a precisão da informação como "Muito Precisa", "Um Pouco Precisa", "Não Muito Precisa" ou "Nada Precisa".

    Como com qualquer pesquisa que se baseia na memória humana, é importante notar que algumas pessoas podem estar enganadas sobre terem visto ou não a manchete.

    Das mais de 3.000 pessoas que completaram a pesquisa, 50% delas disseram que votaram em Hillary Clinton e 41% que votaram em Donald Trump (o resto disse que votou em outro candidato ou não votou).

    39% disse ser democrata, 29% disse ser republicano, 28% disse que era independente e 3% se considerou como estando na categoria "outros".

    Para as questões relacionadas a dados demográficos e consumo de mídia, usamos questões desenvolvidas pelo Ipsos e aquelas previamente utilizadas pelo BuzzFeed Pesquisa.

    Para os resultados que envolvem todos os participantes, a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Para mais informações sobre a metodologia do Ipsos (em inglês), por favor, clique aqui.

    Este post foi traduzido do inglês.

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