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O caso da atiradora no YouTube mostrou que há um problema de desinformação no Twitter

O Twitter recentemente virou o coração das notícias. No entanto, sua utilidade é contrabalançada por um coro crescente de trolls, farsantes e comentaristas irresponsáveis. E a situação só está piorando.

Segundos após os primeiros disparos terem sido feitos na sede do YouTube, na última terça-feira à tarde (3), um gerente de produtos da empresa deu a notícia do ataque com um tuíte. “Atirador ativo na sede do YouTube. Ouvi tiros e vi pessoas correndo quando estava minha mesa. Agora estou protegido dentro de uma sala com colegas de trabalho."

Em poucos minutos, tanto as principais agências de notícias quanto as agências locais estavam monitorando a situação. Então, quase imediatamente, veio o lixo.


Houve: (1) farsantes tentando, mais uma vez, enganar as pessoas para que achassem que o atirador era um comediante chamado Sam Hyde; (2) teorias de que o atirador havia sido motivado pela censura de conteúdo político do YouTube; (3) teorias de que havia motivação religiosa; (4) fotos de supostos atiradores usando bonés de apoio a Trump; (5) imagens não confirmadas de possíveis vítimas e números de mortos incorretos; (6) e diversos relatos conflitantes de que o atirador era mulher, depois que era homem, e depois que era mulher de novo.

O Twitter vem sendo um espaço vital para acompanhar os acontecimentos em tempo real e um lugar onde as notícias são relatadas e produzidas. Mas, após uma tragédia, a utilidade do Twitter geralmente é contrabalançada por um coro crescente de trolls, farsantes e comentaristas irresponsáveis.

Em resumo, no caos de uma tragédia em andamento, o Twitter não é mais um lugar útil para acompanhar as últimas notícias.

my mentions are the perfect illustration of why we need to be careful with information were spreading right now:

"minhas menções ilustram perfeitamente porque precisamos ser cuidadosos com as informações que espalhamos"

Esse não é um problema novo — imagens de destruição do furacão Sandy e de tubarões nadando no chão inundado da Bolsa de Valores de Nova York se tornaram virais e mais tarde foram desmentidas no Twitter em 2012. No entanto, o problema parece estar piorando. A cada nova tragédia, as táticas de desinformação evoluem de maneira sinistra.

Durante o tiroteio em Parkland, o BuzzFeed News identificou cinco pessoas diferentes que foram falsamente identificadas como suspeitas. Nesta quarta (4), foram 25 pessoas, incluindo muitas versões da famosa farsa de Sam Hyde. Assim como em Parkland, duas repórteres foram alvo de trolls — a escritora da Vice Eve Peyse e uma das autoras deste post, que estavam desmentindo as farsas.

Quando uma repórter que cobria Parkland se tornou alvo de trolls, o CEO do Twitter, Jack Dorsey, disse que as políticas da empresa deveriam ser reexaminadas. Nesta quarta, afirmou que boatos estavam sendo rastreados e que ações estavam sendo tomadas pela empresa — ainda que as teorias continuassem se espalhando.

O sobrevivente do tiroteio que deu a notícia em primeira mão teve sua conta hackeada por pessoas que publicaram mensagens infantis e anti-gays, e os boatos continuaram. O Twitter apagou os tuítes ofensivos depois que Dorsey se envolveu, mas sua política continuou a mesma.

Someone just hacked the account of a YouTube employee who had survived and was tweeting about the shooting. Who the fuck would do this https://t.co/NC5veGNDpj

"Ryan Mac
Alguém acabou de hackear a conta do funcionário do Youtube que sobreviveu e estava tuitando sobre o ataque a tiros. Quem faria uma merda dessas?

Vadim Lavrusik
Se você é um amigo que trabalha com notícias, eu sei que você está fazendo seu trabalho e eu agradeço que esteja tentando entrar em contato comigo para saber se estou bem, mas a última coisa que quero fazer agora é dar uma entrevista. Ainda estamos em choque.

POR FAVOR ME AJUDEM A ACHAR MEU AMIGO, EU O PERDI DURANTE O TIROTEIO

meu nome é tão gay honestamente"

Grandes tragédias desse tipo se tornaram uma ocorrência tão comum que o caos on-line parece já ter uma ordem.

A internet não só reage a esses acontecimentos com uma velocidade alarmante, como todos os lados parecem saber seus papéis específicos.

Há os desocupados tentando espalhar a desinformação por prazer, os hiperpartidários querendo usar o acontecimento para confirmar argumentos políticos anteriores, os relatos não confirmados de cidadãos em busca de retuítes e os jornalistas e as agências de notícias irresponsáveis tuitando atualizações de fontes policiais notoriamente não confiáveis.

Tudo isso serve para atrapalhar o trabalho daqueles que estão cuidadosamente colhendo informações no local, verificando os fatos e os noticiando.

Os jornalistas sempre foram atraídos para o Twitter, em parte porque ele imita o processo e o caos da reportagem, forçando-os a navegar por uma enxurrada de fontes, relatórios, comentários e besteiras. Por essas razões, o Twitter também faz um ótimo trabalho ao revelar o processo de coleta de notícias, o que pode ser estimulante e atraente para os espectadores. No entanto, boas reportagens sobre tragédias também são difíceis e criteriosas, ou seja, totalmente incompatíveis com as estruturas de incentivo — ausência de atrito, viralidade, escala e anonimato — que governam o Twitter e ajudam as notícias falsas a se espalharem mais rápido do que os fatos.

Nos últimos dois anos, o Twitter passou a promover seu lado noticioso. Em 2016, Dorsey mencionou o foco do Twitter em acontecimentos em tempo real em quase todas as entrevistas e conferências, abraçando completamente a importância da plataforma no ecossistema do jornalismo, inclusive reclassificando-o como um aplicativo de notícias na loja da Apple. A estratégia faz todo o sentido. On-line, o Twitter não tem rival para as notícias em tempo real. É o melhor lugar para participar coletivamente de um evento esportivo, de uma premiação ou para discutir continuamente sobre um furo jornalístico sobre o presidente americano Donald Trump.

No entanto, para um evento em andamento com vidas em jogo, é difícil ver o valor de ficar colado no Twitter. Há pessoas que dizem que há mérito em assistir às mentiras sendo desmentidas em tempo real, pois isso ajuda a aumentar a desconfiança sobre o que aparece nas redes sociais. Isso pode ser verdade, mas parece ter um custo muito alto. Por trás de cada mentira há uma imagem difamatória e uma afirmação falsa, sem contar o tempo gasto por um repórter encarregado de desmentir o que muitas vezes são brincadeiras de mau gosto.

Uma das partes mais difíceis de uma tragédia como espectador é a sensação de impotência que acompanha o desenrolar dos acontecimentos. O Twitter possibilita uma maneira de participar e proporciona uma sensação de ação. Mas, muitas vezes, é uma sensação falsa.

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Este post foi traduzido do inglês.

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