O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, tem à sua disposição funcionalidades de privacidade especiais na plataforma — uma revelação que sugere que a companhia vem operando um sistema de privacidade de dois níveis que favorece seus líderes, mas não seus usuários.
Zuckerberg e outros executivos vêm podendo usar funcionalidades de mensagens temporárias — bem parecidas com as do Snapchat, Signal e outras plataformas focadas na privacidade do usuário— que apagam as mensagens das caixas de entrada dos receptores após certo período de tempo. Tais recursos foram revelados na quinta-feira (5) pelo TechCrunch e confirmados pelo Facebook.
Como consequência da revelação do TechCrunch, a companhia disse que o Facebook pretende ampliar a disponibilidade desse recurso e que Zuckerberg e outros executivos suspenderão seu uso temporariamente.
O Facebook negou-se a dar uma previsão de quando esse recurso seria disponibilizado aos usuários ao ser questionado pelo BuzzFeed News.
A companhia também se recusou a dizer há quanto tempo Zuckerberg possui esse recurso e quais outros executivos têm acesso a ele. Além disso, não esclareceu se as mensagens se apagam automaticamente, como Zuckerberg disse, ou por meio de um timer estipulado pelo usuário.
"Por que ele dá a si mesmo mais direitos de privacidade do que a todos os outros?"
Por que um recurso de privacidade usado pelo CEO do Facebook não está disponível para usuários comuns? A empresa não explica direito.
Um porta-voz da companhia fez a seguinte declaração: "Nós discutimos esse recurso várias vezes. E as pessoas que usam nosso recurso de mensagens secretas na versão criptografada do Messenger são capazes de definir um tempo — e ter suas mensagens excluídas automaticamente. Nós disponibilizaremos agora um recurso de exclusão de mensagens mais abrangente. Isso pode levar algum tempo. E, até que o recurso esteja pronto, não apagaremos mais nenhuma das mensagens dos executivos. Deveríamos ter feito isso antes — e sentimos muito por não ter feito".
A notícia do sistema de privacidade de dois níveis do Facebook é condenável porque a companhia subestima frequentemente a importância da intimidade. O CEO Mark Zuckerberg, por exemplo, já disse: "As pessoas, na verdade, estão ficando mais à vontade não apenas ao compartilhar mais informações e de diferentes tipos, mas também ao fazer isso mais abertamente e com mais pessoas".
Enquanto isso, Zuckerberg se beneficiou do recurso de mensagens temporárias — o equivalente em privacidade de dados a um prefeito usar informações policiais para evitar sinais vermelhos no caminho para uma festa.
“Esta história reforça os receios das pessoas em relação a Mark Zuckerberg e o Facebook. Parece não haver regras. E, se há alguma, ela não se aplica a Mark", disse ao BuzzFeed News Justin Hendrix, diretor executivo do NYC Media Lab, que lidera uma campanha pública para discutir a regulamentação das mídias sociais.
David Carroll, professor-associado de design de mídia da Parsons School of Design, concorda com esse ponto de vista. "Por que ele dá a si mesmo mais direitos de privacidade do que a todos os outros? É um pouco como a Cambridge Analytica protegendo a privacidade de seus clientes e afiliados, mas não a dos eleitores do mundo todo", disse.
Em entrevista ao BuzzFeed News, a COO do Facebook, Sheryl Sandberg, deixou claro o que o Facebook precisa fazer para recuperar a confiança do usuário: "Não importa o que dissermos, é o que fazemos que conta".
Este post foi traduzido do inglês.