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O Facebook quer notícias de qualidade, mas suas decisões não garantem isso

Na tentativa de se afastar de notícias falsas e sensacionalistas que tomaram a plataforma, o Facebook ainda adota uma posição suave, indireta, que provavelmente não irá solucionar esses problemas.

O Facebook está reavaliando sua relação com as notícias.

Na segunda-feira (12), a empresa deu o sinal mais claro até o momento desse processo. "Pela primeira vez na história do Facebook, estamos tentando definir o que são notícias de qualidade a fim de impulsioná-las", disse Campbell Brown, chefe de parcerias jornalísticas da companhia, durante o evento de mídia e tecnologia Recode Code Media.

Mas, apesar de o objetivo ser claro, o caminho que está sendo traçado pelo Facebook não necessariamente levará até lá.

De acordo com as falas de Brown e do chefe do Feed de Notícias, Adam Mosseri, a empresa busca avaliar e enfatizar três aspectos nas fontes de notícias — quão próximas ao usuário, quão informativas, e quão confiáveis são —, mas essas métricas não parecem suficientes para determinar de modo eficiente a qualidade dessas notícias.

Ao enfatizar esses aspectos, conforme ressaltou em um post recente o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, a empresa adota uma mudança importante de estratégia. Historicamente, a rede social buscou minimizar seu papel em tomar decisões editoriais sobre conteúdo jornalístico.

Porém, na tentativa de se afastar de notícias falsas e sensacionalistas que tomaram a plataforma, o Facebook ainda adota uma posição suave, indireta, que provavelmente não irá solucionar esses problemas.

O plano de se basear em pesquisas com usuários para auxiliar a definir o que é conteúdo "confiável" a ser promovido, por exemplo, não garante que mais conteúdo de qualidade será, de fato, promovido.

A companhia anunciou planos para fazer enquetes com uma grande quantidade de usuários sobre a familiaridade e o nível de confiança que têm em relação a publicações. O objetivo é usar essas opiniões para promover conteúdo de publicações nas quais grande parte dos usuários confia. Mas a premissa de que o mecanismo irá impulsionar apenas notícias de qualidade é questionável, uma vez que os usuários da plataforma demonstraram acreditar amplamente em notícias falsas — no Brasil, em 2016, notícias falsas sobre a Operação Lava Jato foram mais compartilhadas que verdadeiras.

Notícias locais também não são sinônimo de qualidade. Um teste recente realizado pelo Facebook na cidade de Olympia, Washington, mostrou que o algoritmo da plataforma incluiu um blog policial na seção de notícias. O blog, apesar de ter claro interesse local, só atinge os critérios de notícia de qualidade se você considerar que posts escritos com base apenas na rádio da polícia são mesmo notícias de qualidade.

E o Facebook ainda não compreendeu sua posição sobre o que é conteúdo informativo. Um dos objetivos da empresa, afirmou Brown, é "tentar definir melhor o que isso [conteúdo informativo] significa para que possamos encontrar empresas de notícias como o Recode ou a Vox, que não têm a marca gigantesca que uma publicação amplamente conhecida tem".

Cada um dos três fatores parece ser a maneira que o Facebook encontrou de criar intermediários para definir o que são notícias de qualidade, sem posicionar-se de modo a tomar as decisões de fato. Em nota ao BuzzFeed News, Brown parece deixar isso evidente. "As pessoas e as publicações no Facebook deixaram claro que preferem notícias de qualidade; e nosso trabalho em garantir que fontes amplamente confiáveis, fontes mais informativas, e fontes locais sejam distribuídas é um importante passo para atingir esta premissa", ela disse.

Confiar nesses fatores, em vez de tomar as próprias decisões, deixa o Facebook na posição de dizer que quer qualidade enquanto, potencialmente, vai em outra direção.

Este post foi traduzido do inglês.

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