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Estes dados sobre a Amazônia desmentem versão do governo Bolsonaro para incêndios

Dados científicos apontam que 2019 não é um ano de seca extrema e que, se fosse o caso, o número de incêndios na floresta seria o dobro do que ocorre hoje.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) sugeriu que a culpa pelas queimadas na Amazônia pode ser das ONGs. Ao mesmo tempo, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, atribuiu o aumento dos focos de fogo ao período de seca.

Mas dados científicos e especialistas apontam que 2019 não é um ano de seca extrema e que, se fosse o caso, o número de incêndios na floresta seria o dobro do que ocorre hoje.

Com as redes sociais usando o #PrayforAmazonas para se mobilizar contra as queimadas, o presidente Jair Bolsonaro disse que os incêndios podem estar sendo provocados pelas ONGs que atuam na Amazônia.

Os focos de fogo cresceram 70% em relação ao mesmo período no ano passado, em que a seca era maior, segundo dados levantados pelo Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) com base no monitoramento nas e imagens de satélite do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

A seca aumenta em anos de El Niño e outros fenômenos, o que não ocorreu em 2019. Em relação a 2016, ano em que a seca foi mais grave, houve um crescimento de 23%, ainda de acordo com esses dados.

"Em anos de seca muito extrema, os eventos de seca favorecem que, mesmo com desmatamento menor, você tenha um maior número de incêndios. Mas este ano não é de seca extrema. O que mostram nossas análises é que o aumento no número de focos de fogo está associado estritamente ao tanto de desmatamento que tem ocorrido na Amazônia", afirma a diretora científica do Ipam, Ane Alencar.

"É um aumento vertiginoso. Se a seca fosse extrema, isso teria dobrado", disse a pesquisadora.


Todo ano, há a chamada estação do fogo, quando ocorrem as queimadas. O período crítico é de agosto a outubro. Na Amazônia, diferentemente de outras vegetações como o cerrado, é muito difícil haver um foco de incêndio que não tenha sido causado pelo homem.

Os estados atingidos nesta quarta-feira (21) são: Pará, Mato Grosso, Rondônia, Acre e alguns pontos do Maranhão. No início da semana, havia mais focos em Mato Grosso do Sul.

Nestas imagens de satélite em tempo real do site Windy, podem ser vistas as concentrações de CO2 (dióxido de carbono). Quanto mais vermelha a área, maior a concentração de CO2, que é liberado nos incêndios.

"Estamos só no início da estação de fogo. É muito temeroso o que está vindo porque ainda estamos no meio do mês de agosto", afirmou Ane Alencar, lembrando que a fase das queimadas se estende até outubro e pode chegar a novembro nos pontos mais ao norte do país.

O número de queimadas dobrou este ano. Segundo o Inpe, até ontem foram registrados 53.364 focos de incêndio na Amazônia entre janeiro a agosto deste ano. No mesmo período no ano passado, o número foi de 26.500.

Há, nesta quarta-feira (21), 94 focos de incêndio em unidades de preservação ambiental tanto dos Estados amazônicos como da União. Segundo o Inpe, são afetadas três áreas estaduais e sete nacionais.

O presidente Bolsonaro, além de levantar suspeita sobre as ONGs, afirmou hoje que há governadores da região que não estão combatendo os incêndios.

"Tem governador, que não quero citar o nome, que está conivente com o que está acontecendo e bota culpa no governo. Tem estados aí na região Norte, que não quero citar, que o governador não está movendo uma palha para ajudar a combater incêndios, pois está gostando disso aí. Não quero criticar, pois depois o governador vem com contragolpe pra cima de mim, mas isso é uma realidade."

De acordo com o Ipam, em 99% dos casos da Amazônia, o incêndio foi provocado pela mão humana. "Combustão espontânea pode acontecer no cerrado, em épocas muito secas, com raios. Não na Amazônia, por suas características de umidade, ela age naturalmente como uma barreira de fogo", disse Ane Alencar.

A pesquisadora afirma 95% do desmatamento é ilegal, sendo que, em 35% dos casos, a queimada ocorre em áreas da União ou não-cadastradas, ocasionada pela grilagem de terra a fim de especulação.

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