Vestindo uma camisa com uma placa azul da vereadora Marielle Franco, Dinah Caixeta resolveu interpelar um manifestante que vestia uma camisa com o rosto do ministro Sergio Moro (Justiça) sobre o Queiroz no ato pró-Bolsonaro neste domingo na avenida Paulista, em São Paulo.
A pergunta sobre o ex-assessor de Flávio Bolsonaro suspeito de lavagem de dinheiro desatou uma gritaria. O manifestante confrontou-a com gritos e ela não se intimidou, insistindo no Queiroz.
A cena ocorreu por volta das 17h10, perto do cruzamento da Frei Caneca com a Paulista, e foi presenciada pela reportagem. Naquele momento, a multidão começava a dispersar no resto da avenida.
O bate-boca entre os dois pessoas escalou rápido. Pessoas com camisetas amarela começaram a se aglomerar. Alguém puxou "Lula tá na prisão, Bolsonaro é capitão" e fez-se um coro. Um punhado de celulares apontado para a mulher fez com que ela cobrisse brevemente o rosto com o casaco.
Enquanto o grupo de umas 40 pessoas gritava a palavra de ordem escorriam também insultos: "vai pra Cuba", "petista", "vagabunda". Dinah tentou uma vez devolver com "Cadê o Queiroz? Cadê o Queiroz?"
O grito dela foi logo abafado por outros, os dos partidários do presidente.
Encostada na grade e cercada, ela ainda respondeu umas perguntas de alguns jornalistas que chegaram por causa da confusão. "O Bolsonaro está criando um bando de lobos. Imagina essa gente armada...", disse.
Ela disse que estava ali porque tinha acabado de sair do prédio onde trabalha, na Paulista.
Cinco policiais militares chegaram ao local e a escoltaram. Foi aí que começou uma outra cena insólita: uma pequena procissão se formou atrás e seguiu a escolta da PM aos gritos de "Lula ladrão", "vai pra Cuba", "comunista de iPhone". E também mais ofensas: "vagabunda", "filha da puta", "lixo".
Um homem entre 40 e 45 anos, que vestia uma camisa da seleção e usava uma bandeira amarrada no pescoço, emparelhou ao lado do policial que a escoltava para gritar: "respeita a polícia, respeita a polícia!" A mulher caminhava calada.
Um outro, mais jovem, gritava: "chama a polícia de fascista agora". Um terceiro emendou em tom acusatório: "você é a favor da marcha da maconha!". Outra mulher vociferava: "comunista de iPhone, vai pra Cuba."
Com raiva, o cortejo atravessou o parque Mário Covas, o Conjunto Nacional, dobrou à esquerda na Augusta. Já havia então mais impropérios do que política. A mulher continuava silenciosa. Na alameda Santos, um táxi parou e Dinah foi embarcada pelos policiais. Havia ainda algumas pessoas ao lado do carro.
Chamada de "lixo", Dinah Caixeta desapareceu no táxi às 17h37.
Atos demonstraram a força do presidente
A grande adesão de participantes aos atos pró-Bolsonaro no país mostraram que o presidente ainda tem apoiadores dispostos a ir para a rua, mesmo com o quadro geral da direita ter rachado sobre participar ou não neste domingo.
As maiores manifestações ocorreram em cidades do Sul e do Sudeste e o tom geral foi de apoio à reforma da Previdência e ao pacote do ministro Moro. O Centrão – consórcio do DEM, PR, PP, MDB e PRB –, que assumiu um viés crítico a Bolsonaro, no Congresso, foi o maior alvo.
No Rio, fizeram até uma versão de Pixuleko (o boneco que representa o ex-presidente Lula vestido de presidiário) com o rosto do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM). Também houve críticas ao Supremo Tribunal Federal.
O ato foi notadamente grande em São Paulo, com a Paulista tomada durante a tarde, mesmo sem a presença do MBL (Movimento Brasil Livre) e do Vem Pra Rua, movimentos de rua que ganharam proeminência nos protestos que antecederam o impeachment de Dilma Rousseff.
No final do dia, o presidente Bolsonaro elogiou o caráter das manifestações no Twitter.