Como "Divergente" se transformou em um desastre

Os filmes da saga "Divergente" — baseados na trilogia de Veronica Roth — deveriam ser um sucesso entre adolescentes. Mas, após sucessivos fracassos de bilheteria, a continuação da franquia foi cancelada.

Lionsgate

Neste mundo de remakes e reboots, pode ser que nada esteja morto de verdade para sempre. No entanto, por enquanto, é seguro afirmar que "Divergente" está o mais morto possível.

Os filmes da saga "Divergente" — baseados na trilogia de Veronica Roth — deveriam ser a próxima franquia de sucesso para adolescentes. A Summit Entertainment comprou os direitos dos livros em 2011, quando o estúdio estava se aproximando do fim da sequência dos filmes multibilionários da saga "Crepúsculo". No ano seguinte, quando a própria Summit foi comprada pela Lionsgate, isso significou que o estúdio de "Jogos Vorazes" havia comprado o estúdio de "Crepúsculo", fundindo duas empresas que haviam liderado filmes de sucesso entre adolescentes.

"Divergente" parecia ser um tiro certo. A Lionsgate inclusive aumentou o orçamento de "Divergente" de US$ 40 milhões para US$ 85 milhões.

Mas isso agora é passado. Segundo um porta-voz da Starz, que é propriedade da Lionsgate, a continuação da franquia não está mais em desenvolvimento. E, para a frustração dos fãs, a história no cinema terminou com um suspense.

Durante a era pós-Harry Potter, houve uma série de adaptações de livros adolescentes para filmes que fracassaram nas bilheterias, resultando em pouco mais de um ("Os Instrumentos Mortais: Cidade dos Ossos", "Dezesseis Luas") ou dois filmes ("Percy Jackson") sem final.

No entanto, não houve nada como o fracasso de "Divergente".

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Woodley

Uma possível razão para seu fracasso é a deficiência do material da fonte. A estrutura do mundo fictício de "Divergente" era difícil de entender, as tramas eram difíceis de acompanhar e o que estava em jogo não era claro. Isso tornou "Divergente" diferente dos livros de adolescentes que funcionaram como filmes.

Em "Jogos Vorazes", de Suzanne Collins, por exemplo, é óbvio desde o início que Katniss é a figura revolucionária que vai acabar com os Jogos Vorazes, destruir o Estado repressivo de Panem e ajudar a criar um mundo mais igualitário. Já em "Crepúsculo", Edward e Bella precisam ficar juntos para sempre e, ao longo do caminho, derrotar o clã elitista de vampiros Volturi.

A história de Roth nunca teve essa clareza. Sua trama confusa se passa na Chicago pós-apocalíptica, onde todas as pessoas com mais de 16 anos são divididas em cinco facções baseadas na personalidade, a fim de evitar que a sociedade caia no caos destrutivo que levou ao fim dos Estados Unidos.

À medida que os três livros avançam, surgem vários vilões, mas nenhum objetivo óbvio para os heróis alcançarem. Os livros são confusos, sem graça e derivativos. E, embora eles ofereçam algumas oportunidades visuais interessantes (trens que percorrem Chicago sem nunca parar, uma emocionante cena de tirolesa no primeiro livro), o livro final — "Convergente" — revelou que Roth não tinha uma visão real para concluir a história.

E, o pior de tudo, em "Convergente", Roth também mata sua protagonista, Tris, em um momento absurdo e decepcionante que enfureceu os fãs.

A escolha do elenco para o filme começou no início de 2012. Depois de ganhar um Independent Spirit Award por "Os Descendentes" e terminar no inesperado sucesso da ABC Family "A Vida Secreta de uma Adolescente Americana", Shailene Woodley foi escalada como (a condenada) Tris. Theo James interpretou Quatro, seu par romântico; Ansel Elgort interpretou Caleb, seu irmão e às vezes rival; e Miles Teller interpretou o infame Peter. Zoë Kravitz e Maggie Q foram escaladas como amigas de Tris. Era um grupo bom.

Os primeiros dois filmes tiveram um sucesso mediano: "Divergente" arrecadou US$ 288 milhões em todo o mundo e "Insurgente" arrecadou US$ 297 milhões — uma bilheteria pífia comparada a "Jogos Vorazes".

Porém, assim que o primeiro filme "Divergente" lucrou, a Lionsgate/Summit anunciou que "Convergente", o último livro da trilogia, seria dividido em dois, seguindo o modelo lucrativo estabelecido por "Harry Potter", "Crepúsculo" e "Jogos Vorazes". Com "Divergente", isso parecia ser muito arriscado, já que a maioria dos fãs havia odiado o último livro. A decisão foi tomada em 2014, mas o estúdio estava confiante o suficiente para anunciar as datas de lançamento em 2016 e 2017.

Então a bilheteria despencou. "Convergente", a primeira parte do final da história, arrecadou apenas US$ 179 milhões no mundo todo, com um orçamento de US$ 110 milhões. (A regra geral é que um filme precisa praticamente dobrar seu orçamento para ser lucrativo para o estúdio, e isso sem contar os custos de marketing!)

Pior do que o desempenho geral foi a arrecadação de US$ 66 milhões nos Estados Unidos, uma fração do que os dois filmes anteriores ganharam e um claro indício de rejeição do público. "Convergente" foi lançado em 18 de março de 2016; em 21 do mesmo mês, o Hollywood Reporter reportou que a Lionsgate havia decidido reduzir o orçamento de "Ascendente", o último filme da série.

Quatro meses depois, a estratégia da Lionsgate evoluiu para uma fase ainda mais desesperada, com o Hollywood Reporter informando que o quarto filme seria feito para a TV e que haveria uma série spin-off. Embora a reportagem dissesse que Woodley havia sido consultada, a Deadline a citou na Comic-Con no dia seguinte dizendo que não sabia de nada. "Sinceramente, eu estava em um avião quando tudo isso aconteceu. Cheguei e estou tipo: Uau, o que está acontecendo?!", disse Woodley.

Um após o outro, todos os protagonistas expressaram sua falta de interesse em levar "Divergente" para a televisão, com Woodley — que sempre foi apaixonada por interpretar Tris — dando a sentença de morte: “Não fui contratada para participar de uma série de TV", disse ela ao Screen Rant.

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Em agosto de 2017, sete meses após a Lionsgate comprar o canal por assinatura Starz, uma série de TV de "Ascendente" mais uma vez foi colocada em desenvolvimento pela Starz, com o roteirista (Adam Cozad) e o diretor (Lee Toland Krieger) que estavam envolvidos na versão em longa-metragem.

No entanto, agora, o projeto — embora ainda seja propriedade intelectual da Lionsgate — está efetivamente morto.

No final de "Convergente", Tris, Quatro e Caleb derrotaram temporariamente David (Jeff Daniels), que queria apagar as memórias de todos em Chicago para trazer de volta as facções — tudo para impressionar seus supervisores em Providence, Rhode Island, dentre tantos lugares. David também quer manter o muro entre Chicago e o resto do mundo, sem nenhuma razão aparente.

Tris, que até agora estava relutante em ser a figura pública da revolução, se dirige à cidade em telas enormes para todos verem. “Então aqui estamos nós, juntos. Não como cinco facções, mas como uma cidade. E vamos derrubar a parede deles", diz ela. Sabendo que David pode ouvi-la, continua: "Chicago não é seu experimento — é a nossa casa." A cena final do filme é Tris se aconchegando em Quatro enquanto um holograma de David aparece ameaçadoramente atrás deles. "E sempre será", diz ela amorosamente para Quatro.

Talvez Tris estivesse pressentindo alguma coisa. Porque ela e Quatro literalmente estarão sempre lá em Chicago, congelados no tempo em um suspense. Pelo lado bom, pelo menos ela não precisou morrer sem motivo.

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Da esquerda para a direita: Jeff Daniels, Woodley e James, congelados no tempo para sempre. E se você acha que eles parecem estranhos, é porque estão pixelados em algum efeito especial mal-feito.

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A tradução deste post (original em inglês) foi editada por Luísa Pessoa.

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