Os homens e o fenômeno dos grupos de masturbação mútua

Fui buscar homens que consideram a masturbação com outros homens sua experiência sexual preferida.

Em um edifício simples em Nova York, você encontrá a Paddles, "a simpática boate de fetiches". É um local que no fim da noite se apresenta como "um playground para pessoas que curtem chicote, espancamento, servidão, dominação, submissão, fetiches com os pés e todos os outros fetiches", e onde, uma vez ao mês, mais próximo do horário do happy hour, o fetiche do dia é a masturbação mútua.

O evento é organizado pelo New York Jacks, um grupo que realiza reuniões regulares para homens se encontrarem para fazerem coisas que todos os homens fazem na privacidade de suas casas. Eles tomam conta da Paddles nas terças, e aos sábados realizam a reunião no terceiro andar de um outro edifício.

Eu assisti à reunião do New York Jacks pela primeira vez com um amigo, há algumas semanas. Após criarmos coragem com uma cerveja na esquina e esperarmos até o que parecia ser uma hora apropriada para o evento, caminhamos pela porta e descemos uma escada em espiral atentos a cada sinal de uma reunião em andamento. Passamos por alguns homens que vinham em sentido oposto, com aparência ruborizada e conspiratória, e abrimos uma porta em direção a um estreito corredor com um guichê, onde um jovem todo vestido perguntou de forma lânguida: "Estão aqui para o Jacks?"

Como em toda comunidade de fetiches, o receio de se revelar como um participante de algo avaliado como estranho ou pervertido, faz com que as pessoas mantenham seus interesses escondidos. Considerando todos os aspectos, a masturbação mútua é bastante inofensiva — a masturbação é algo que a maioria das pessoas já faz, embora sozinhas —, mas a noção popular de masturbação como sendo a de sexo fracassado, ou a falta dele, leva muitos aspirantes a "masturbadores mútuos" a não terem coragem de mostrarem suas cartas.

Mas para muitos homens, inclusive eu, a masturbação mútua não é só isso; pelo contrário, é uma experiência a ser procurada pelo o que ela realmente é.

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Entre os homens que transam com homens, a masturbação mútua é frequentemente vista como algo anexo ao sexo, um aperitivo, em vez de um ato sexual por si só. Em outros casos, trata-se de uma desculpa heterossexual: "Isso não é sexo, estamos apenas sendo caras". Mais de um amigo já me contou sobre envolver-se em masturbação mútua como uma saída ao sexo frustrante, tipo: "Eu fui para casa com ele, mas eu estava cansado, então nós apenas nos masturbamos." Mas, para muitos homens, inclusive eu, a masturbação mútua não é só isso; pelo contrário, é uma experiência a ser procurada pelo o que ela realmente é.

Eu tenho um colega de masturbação há cerca de um ano e meio, um amigo gay em um relacionamento aberto que eu conheci alguns anos antes de qualquer um de nós abordar o assunto de masturbação mútua. Agora nos reunimos a cada poucos meses, saímos e nos masturbamos. É amistoso de uma maneira que o sexo mais casual não é, ou raramente é — um sabor de intimidade ao mesmo tempo platônico e excitado. Às vezes, ficamos chapados juntos, às vezes assistimos a pornografia; depois, geralmente conversamos sobre amigos, trabalhos ou outros planos. É como sair para jantar. Nós ficamos mais próximos com o tempo, que é ao mesmo tempo um resultado do sexo, e nada a ver com isso.

Em um esforço para entender melhor o apelo da masturbação mútua e da comunidade que a procura, fui procurar outros homens para os quais se masturbar mutuamente não é apenas um aperitivo, mas uma parte importante de uma vida sexual. Encontrei esses homens entre meus amigos, nas mídias sociais, assim como em áreas da internet nas quais eu ainda não tinha entrado: em particular o Kik, um aplicativo de mensagem de texto, e o BateWorld, uma rede social para "masturbadores" que funciona como um tipo de híbrido do Grindr com o Facebook, com todo o brilho em HTML do clássico MySpace. Conversei com homens que associavam sua atração à masturbação mútua com algumas de suas primeiras lembranças do desejo homossexual; homens que começaram a procurar amigos de masturbação por um desejo de transar com caras heterossexuais; e homens que simplesmente consideram isso uma alternativa mais segura e simples a outros tipos de sexo. Entrar nesses locais os abriu pessoalmente para mim de uma maneira que eu não achava que precisasse.

John Taggart for BuzzFeed News

O interior da boate Paddles, onde o evento de masturbação mútua New York Jacks acontece.

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A reunião do The New York Jacks não foi minha primeira experiência com sexo em público. Quando eu morava em Berlim, visitava regularmente o Der Boiler, uma sauna masculina onde o sexo entre os clientes é explicitamente divulgado, em vez de implicitamente disponível. Mas a especificidade do Jacks sugere uma comunidade fetichista em vez de uma comunidade apenas de entusiastas da suruba. As regras da organização proíbem a introdução de qualquer coisa de qualquer um em qualquer lugar, e esclarece: “proibido transar, ação anal e sexo oral". Eu nunca havia explorado a possibilidade de que meus gostos sexuais pudessem se alinhar com os de outros homens de forma tão coletiva.

A entrada para o New York Jacks custa US$ 25 e não inclui a chapelaria. O dinheiro arrecadado vai para o pagamento do local e de outras despesas organizacionais, e as gorjetas de cada reunião são divididas entre os voluntários. Então paguei a taxa de entrada e resolvi manter a mente aberta para descobrir meu futuro como "masturbador".

Do outro lado da porta, um homem grande e mais velho rasgou nossos ingressos e perguntou se era nossa primeira vez. Com a gentileza de irmão mais velho de um estudante de segundo ano na orientação de um calouro, ele nos especificou o local.

Eu nunca havia explorado a possibilidade de que meus gostos sexuais pudessem se alinhar com os de outros homens de forma tão coletiva.

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A Paddles é uma sala comprida e estreita com um bar, embora não seja vendido ou permitido álcool em eventos do Jacks; em vez disso, são oferecidos água e suco. Em uma extremidade da sala principal, um conjunto de escadas leva a um mezanino com algumas cadeiras e poltronas; na outra, atrás de uma parede de dois metros que separa o bar principal, há um espaço com menos iluminação que leva a uma pequena sala com uma rede suspensa de couro — que é onde eu fui parar enquanto estava procurando o banheiro. Não havia música tocando, e os aparelhos de televisão que passavam pornografia gay estavam no mudo; os únicos sons eram os de conversas de funcionários com novas chegadas e grunhidos leves no sistema de som.

Nós nos despimos em uma bancada perto da entrada, colocamos nossos sapatos de volta, enfiamos os ingressos em nossas meias para mantê-los seguros, e entramos. Sapatos são uma exigência no New York Jacks, mas nudez total não é; os participantes podem manter suas roupas íntimas, se preferirem, embora eu não tenha visto ninguém assim. Sapatos e nada mais é um visual estranho, mas a estranheza desapareceu depois de alguns minutos, e eu parei de notar.

Considerando o resto da programação semanal de fetiches na Paddles, as atividades do New York Jacks parecem bastante "normais". A linha entre uma excentricidade e um fetiche pode ser difícil de distinguir, mas uma medida é definir uma excentricidade como uma tendência sexual, e um fetiche como uma condição necessária para a satisfação sexual. A masturbação mútua, por exemplo, pode ser considerada uma excentricidade para muitos, mas para outros, que se identificam como solossexuais, essa excentricidade chega ao nível do fetiche: é o método preferido ou exclusivo da atividade sexual deles. Alguns solossexuais interagem sexualmente com outras pessoas, enquanto outros praticam o que pode ser chamado de celibato. A maioria dos homens com quem eu falei é gay e não se identifica como solossexual; a masturbação mútua é simplesmente algo que eles apreciam entre outras diversões. O New York Jacks é voltado para esses homens, a maioria deles gays, que estão interessados em masturbação em grupo — testemunhando, participando e fazendo amigos que têm o mesmo pensamento.

John Taggart for BuzzFeed News

O bar na boate Paddles em Nova York.

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Um dos organizadores do New York Jacks, um homem chamado Steve, me disse em um e-mail que acredita que a nudez do evento "proporciona uma grande liberdade e acaba com a inibição que muitos caras sentem em um bar comum", acrescentando: "Não há nada a esconder aqui".

Steve me disse que o New York Jacks tem cerca de 300 membros de carteirinha, embora ele ache que a maioria dos participantes não seja membro fiel — turistas e outros curiosos que ouviram falar das reuniões. "Como a maioria dos homens se masturba e, acredito eu, também são curiosos sobre os pênis de outros homens, há muitos caras que só entram de tempos em tempos", disse ele. "Masturbar-se com outros caras elimina muito da vergonha e do constrangimento da nossa cultura sobre essa prática universal."

"Masturbar-se com outros caras elimina muito da vergonha e do constrangimento da nossa cultura sobre essa prática universal."

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Steve fez questão de afirmar que nem todos os participantes do Jacks são gays, e acha que cerca de 10% podem ser casados ou terem relacionamentos com mulheres, que podem ou não saber sobre seus parceiros. Seja qual for o percentual real — você não é obrigado a se identificar ao se inscrever como membro do Jacks —, o apelo da masturbação mútua certamente não se limita a homens que estão interessados exclusivamente em homens.

Historicamente, a masturbação mútua tem funcionado como uma saída para os homens que estão "curiosos". Para alguns homens heterossexuais, a masturbação mútua pode ser uma forma de explorar um interesse em homens sem ameaçar radicalmente sua condição de heterossexual, como clicar em um vídeo do PornHub. Alguns homens com quem conversei relataram experiências com amigos heterossexuais que variavam de assistir a pornografia juntos a masturbarem uns aos outros, e, para os que agora se identificam como gays, esses episódios ressoam intensamente.

Alamy

O Ramble no Central Park.

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Um desses espaços on-line é o aplicativo Kik, onde há pelo menos um grande grupo de homens que curtem masturbação mútua. Conversei com um membro do grupo no Kik, um homem gay em um casamento aberto cujo marido tem consciência de seus interesses. Ele me contou que suas primeiras explorações de masturbação mútua foram no site Craigslist, onde isso começou como "uma maneira de pegar caras heterossexuais". Ele se apresentava como um homem hétero buscando conhecer outros heterossexuais inexperientes, principalmente como uma maneira de delimitar o tipo de sexo oferecido: outro homem gay podia querer levar as coisas adiante.

"Procurar por homens heterossexuais, na verdade, tornou mais fácil evitar transar por razões de segurança."

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A masturbação mútua trata-se do sexo mais seguro que você pode ter com outra pessoa, e, ao contrário de muitos atos sexuais comuns entre homens, praticamente não requer preparação. É a unidade básica do sexo casual entre os homens, e facilita o sexo anônimo e outros encontros casuais.

"Depois de alguns anos, parei de fingir ser heterossexual ou de procurar homens heterossexuais", disse meu contato do Kik. “Simplesmente postei dizendo ser um cara que gosta de relaxar e fazer o que os caras gostam de fazer, mas juntos. Eu reconheci isso como um hobby que quero compartilhar.”

Outro tema comum é um simples fascínio por pênis — “Eu queria ver picas! E tocá-las!”, meu contato do Kik me contou sobre suas primeiras experiências. Ver e tocar um pau é um tipo específico de intimidade — uma exploração física permitida e compartilhada de outra pessoa — que remete a um nível adolescente de curiosidade sobre outros corpos masculinos que muitos homens com quem conversei sentem.

Um amigo gay com quem conversei ressaltou que as primeiras experiências sexuais da maioria dos homens, não importa como eles se identifiquem, eram fazendo sexo com homens: eles mesmos. Há um prazer vicário em compartilhar o que muitos de nós descobrimos sozinhos, e experimentar essa descoberta como se, pela primeira vez, testemunhassem a sexualidade privada de outra pessoa.

"Eu não me masturbava com amigos quando era mais jovem, e realmente senti que perdi isso."

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"Acho que parte da emoção é que eu não me masturbava com amigos quando era mais jovem, e realmente senti que perdi isso", me disse outro usuário do Kik. "Então, tem sido uma coisa boa de se fazer e ver como aceitável. Se você tivesse dito no ensino fundamental ou no ensino médio que isso aconteceria, eu não teria acreditado.”

Minhas próprias experimentações adolescentes eram furtivas e secretas, e me fizeram sentir uma profunda e duradoura vergonha sobre meu próprio interesse. Qualquer armário é construído a partir da necessidade de esconder o desejo; mesmo depois de sair do armário, o grande armário que escondia a homossexualidade, a vida pode conter inúmeros armários menores. A masturbação mútua tem sido um armário pessoal meu desde antes de eu assumir a homossexualidade, mas eu não o reconheci como um até recentemente, quando começar a falar sobre isso me fez perceber o quanto ninguém realmente fala sobre isso.

Outro homem com quem conversei, um amigo do Twitter que respondeu minhas perguntas por e-mail, me contou sobre um companheiro seu de masturbação que morava perto do trabalho dele, quem ele via uma ou duas vezes por semana “apenas para nos masturbarmos juntos, inclusive acho que nunca nos beijamos." O sexo regular com alguém que você não pensaria em beijar é uma amizade construída em interesses comuns, e, assim como a minha experiência no grupo Jacks, isso começa a parecer mais natural quanto mais o tempo passa.

"Eu gosto de ver o ritual particular de outra pessoa", ele me disse. "Eu quero ver o que eles fazem quando se satisfazem, e depois eu quero que eles façam isso comigo." Ele me disse que frequentemente procurava amigos de masturbação no Grindr depois que terminava um namoro e ficava inseguro quanto ao sexo com penetração. "É uma conexão verdadeira."

De forma mais simples, como disse meu segundo contato do Kik: "Também não dói eu gostar tanto de pênis." Essa devoção por partes simples do corpo pode parecer pueril, como um adolescente heterossexual lendo uma revista pornográfica, e a adoração do pênis entre homens homossexuais parece um pouco acertada: homens que adoram homens venerando corpos de homens. A verdade é que simplesmente ficar nu na frente de alguém é uma grande parte do apelo da masturbação mútua e da exposição compartilhada. E parece que está tudo bem com isso!

John Taggart for BuzzFeed News

Panfletos anunciando os próximos eventos na boate Paddles.

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Esse culto de adoração ao pênis pode ser visto na íntegra no BateWorld, um site que requer registro de e-mail para acessar. O BateWorld é gratuito, mas também oferece adesões premium (taxas que variam de US$ 25 para 90 dias, a US$ 60 para um ano) que concedem aos usuários acesso a recursos como chat de vídeo. Novos membros recebem um período de avaliação de 7 dias da adesão premium para aguçar seus desejos.

Todos com quem conversei no Kik me apontaram o BateWorld como um portal da comunidade, e disseram que os homens que eles encontram em outros aplicativos frequentemente perguntam se eles têm um perfil no BateWorld. Os perfis são pesquisáveis e podem ser filtrados por local, idade, tamanho do pênis, orientação sexual, entre vários outros fatores. A maioria das fotos de perfil público dos usuários está em branco ou é uma foto do pênis (geralmente distorcida de forma engraçada pela taxa de proporção da miniatura do site, de forma que, dependendo do ângulo original, elas parecem extremamente compridas e finas ou desumanamente grossas). Os usuários também podem fazer o upload de álbuns de fotos públicas, que muitas vezes também são fotos de pênis, mas ocasionalmente também incluem rostos.

Bateworld

O site BateWorld.

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O BateWorld apresenta grupos de interesse comum, assim como o Facebook, bem como fóruns públicos contendo de tudo, desde memes de masturbação a um dicionário de termos, ou uma seção de aluguel de imóveis chamada AirbnBate, onde "masturbadores" do mundo todo oferecem acomodações de viagem que aceitam masturbação mútua.

Um benefício que o BateWorld tem sobre o Facebook é que as solicitações de amizade incluem um menu de categorias: Amigo, Amigo Especial, Apenas Curioso, Atraído ou Outro, com um campo de texto para esclarecer qualquer relacionamento que você tenha ou que deseja ter.

Os usuários fazem referência frequente a “gooning”, um termo definido em um fórum do BateWorld como “um estado em que sua aberração interior assume total controle sobre sua sessão de masturbação mútua”.

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Os usuários do BateWorld também podem preencher um questionário público de perguntas e respostas sobre masturbação mútua, que pergunta coisas como: "Qual o lugar mais maluco que você já praticou masturbação mútua?" e "Seu melhor amigo sabe que você é um 'masturbador'?" A maioria dos perfis que eu li respondeu "não" à segunda pergunta, o que é perfeitamente aceitável e um pouco triste. As coisas que dizemos a estranhos são muitas vezes coisas que não podemos dizer às pessoas que nos conhecem na vida real, onde as apostas da aceitação são muito mais altas, e isso talvez seja verdade em relação ao sexo mais do que a maioria das coisas.

Assim como no Grindr, muitos perfis do BateWorld são extremamente francos sobre seus interesses, e em um léxico tão rico quanto específico. Alguns usuários fazem referência frequente a “gooning”, um termo definido em um fórum do BateWorld como “um estado em que sua aberração interior assume total controle sobre sua sessão de masturbação mútua”. As explicações do gooning frequentemente fazem referência a um estado sexual primitivo, implicitamente masculino, de indulgência e excitação sexual, um tipo de fala física inconsciente através da masturbação.

É provável que eu seja reprimido demais e careta demais para ser um defensor de qualquer distinção, mas o termo fala da existência de uma comunidade de homens para os quais a masturbação é um aspecto sério e importante de sua sexualidade. É interessante considerar essa insistência no primal, no ato primitivo masculino de autoprazer, como uma linha divisória entre a masturbação mútua e o sexo, e os tipos distintos de relacionamentos que cercam ambos. Em vez de uma solução dissimulada e preservadora da heterossexualidade, a noção de "apenas caras sendo caras" seja, talvez acidentalmente, a semente do desejo de um homem por outro.

A masturbação é sexo consigo mesmo; a masturbação mútua é sexo consigo mesmo com outras pessoas que também estão fazendo sexo consigo mesmos. Dessa forma, a masturbação mútua pode ser um relacionamento aberto ideal para muitas pessoas: com um limite implícito de intimidade física que não deve ser ultrapassado — embora alguns homens que procuram por masturbação também estejam interessados em beijar e/ou sexo oral, não se pode dizer que se masturbarem juntos significa algo mais do que apenas masturbação mútua. Os masturbadores mútuos podem experimentar uma liberação sexual tanto individual quanto compartilhada, e a especificidade da atividade não ameaça a seriedade romântica do relacionamento principal. Em "Shortbus", filme de John Cameron Mitchell, a senhora da orgia Mx. Justin Vivian Bond garante aos novos convidados que "voyeurismo é participação". Mas o voyeurismo não é sexo e, aos olhos de alguns, nem a masturbação mútua.

Naturalmente, o que “conta” como sexo é frequentemente acordado como heteronormativo.

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Parece irrelevante fazer distinção de onde a linha do sexo/não sexo está — seja o contato físico uma condição necessária, se podemos concordar que a penetração ou mesmo o orgasmo não são, em outros cenários sexuais. Ir a uma praia de nudismo com outra pessoa não é sexo, mas comparar ereções por detrás das dunas pode ser.

Naturalmente, o que “conta” como sexo é frequentemente acordado como heteronormativo, particularmente no que diz respeito à penetração, e isso se estende a noções sobre os limites e funções de relações sexuais aceitáveis. Quando conversei com meus amigos heterossexuais sobre ter um amigo de masturbação, eles simplesmente balançaram a cabeça em um tom de incredulidade divertida com a permeabilidade do sexo e da amizade entre gays. A impossibilidade de amizades semissexuais duradouras entre homens e mulheres resume mais ou menos todas as 10 temporadas de "Friends".

John Taggart for BuzzFeed News

O espaço para encontros do New York Jacks.

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Eu morei fora por mais de uma década, e fui relativamente aberto sobre minhas inclinações sexuais nesse período — com meus amigos gays mais próximos, pelo menos —, mas um interesse em masturbação mútua era algo com o qual eu não tinha me sentido totalmente confortável (e olhe para mim agora). Minhas primeiras experiências sexuais envolveram masturbação mútua — em festas do pijama, no porão abandonado de alguém ou no Skype —, mas muitas vezes tive medo de admitir o quanto acredito que essas explorações precoces e secretas foram educativas para o meu desenvolvimento sexual. Eu vivi durante muitos anos em negação sobre o que eu queria de outros meninos da minha idade, ou por quê, e rejeitei meu interesse até a plausível negação da curiosidade antropológica. Masturbar-se (ou falar sobre isso) com outra pessoa era o mais próximo que eu conseguia na época ao admitir o desejo pelo mesmo sexo, rotulando isso como uma simples curiosidade infantil. Todos os caras querem saber como são os paus dos outros caras, certo? Talvez muitos o façam, mas universalizar meus próprios desejos era meu único caminho para a autoaceitação. Uma visita ao New York Jacks é usar a oportunidade de explorar as inúmeras horas que muitos de nós passamos sozinhos na cama, fantasiando sobre essa oportunidade.

Mesmo entre os gays assumidos é fácil esquecer os modos como a vergonha e o medo da exposição nos moldaram. A intimidade da masturbação mútua tem muito a ver com a exposição, tanto literal quanto figurada: fisicamente, de uma maneira mais franca e exploradora do que a maioria das formas romântico-sexuais das pessoas ficarem nuas juntas, e, pessoalmente, compartilhando algo que não é discutido com frequência, ou aceito como uma espécie de encontro sexual a ser buscado. Eu penso nos anos que passei inutilmente sonhando com minha vergonha confusa, e estou entusiasmado em pensar na experiência que tenho agora na palma da minha mão. ●


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A tradução deste post (original em inglês) foi editada por Victor Nascimento.

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