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Ainda tem gente tentando entender o que Carlos Bolsonaro quis dizer neste tuíte

A obsessão da família Bolsonaro contra Paulo Freire, um dos mais influentes intelectuais brasileiros, vem de longe. Um spoiler: ele nunca foi comunista.

Carlos Bolsonaro, o filho que o presidente Jair Bolsonaro já chamou de "fera nas mídias sociais", publicou ontem (14) um tuíte que colocou The Walking Dead, método Paulo Freire e "chás e bolos com ervas e recheios ilegais" no mesmo balaio.

É simples entender porque o PT, PSOL, PCdoB defendem método Paulo Freire alinhado com chás e bolos com ervas e recheios ilegais. A esquerda não dá ponto sem nó. Basta sair da bolha e ver como tudo sempre foi milimetricamente calculado. O verdadeiro “The Walking Dead” existe”.

Mesmo num tuíte com tantos ingredientes, a parte que gerou mais controvérsia foi o "É simples entender". Muita gente discordou.

@CarlosBolsonaro Se você ler o Paulo Freire, talvez consiga algum dia formular uma frase que dê pra gente entender.

Carlos, vereador pelo PSC-RJ, não é o único dos filhos do presidente que vem falando sobre Paulo Freire. Anteontem o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) tuitou:

Diariamente mostramos quem é Olavo de Carvalho @opropriolavo .Falta o pessoal da esquerda agora dizer quem é Paulo Freire e o seu legado na educação nacional...

E por que os Bolsonaro resolveram voltar sua artilharia nas redes sociais contra Paulo Freire?

Paulo Freire (1921-1997) foi um educador pernambucano conhecido principalmente pela "Pedagogia do Oprimido", livro que lançou em 1968, quando estava exilado no Chile. Antes do Golpe de 1964, Paulo Freire coordenou, a convite do presidente João Goulart, o Programa Nacional de Alfabetização.

O método Paulo Freire, uma proposta para alfabetização de adultos, consistia, resumidamente, em ensinar o aluno a ler e a escrever com base em palavras e temas de sua realidade, em vez do uso das tradicionais cartilhas.

O Instituto Paulo Freire diz que o método "não trata apenas de alfabetizar, mas também de politizar", e que "os alfabetizandos eram levados a perceber as injustiças que os oprimiam e a necessidade de buscar mudanças".

Como o tuíte de Eduardo Bolsonaro sugere, a escolha de Paulo Freire como símbolo das deficiências da educação brasileira parece ser influência das ideias do filósofo Olavo de Carvalho.

Olavo — a quem Eduardo já disse que "é uma inspiração, e sem ele Jair Bolsonaro não existiria" — bate há tempos em Paulo Freire.

Em 2012, quando Paulo Freire foi declarado Patrono da Educação Brasileira por uma lei de autoria da deputada Luiza Erundina, Olavo escreveu:

"Ninguém melhor que Paulo Freire pode representar o espírito da educação petista, que deu aos nossos estudantes os últimos lugares nos testes internacionais, tirou nossas universidades da lista das melhores do mundo e reduziu para um tiquinho de nada o número de citações de trabalhos acadêmicos brasileiros em revistas científicas internacionais".

Paulo Freire descreve Paulo Freire, o atual patrono da educação brasileira. Tente entender algum sentido no confesso admirador de Karl Marx e perceba porque nossa educação está propositalmente um caos para dominar a desejada massa. https://t.co/OzlXUFoGBx

O tuíte acima, do próprio Jair Bolsonaro, é de 2018. Mas em 2015, muito antes da campanha à Presidência da República, o então deputado já mirava em Freire para atacar a "doutrinação ideológica":

Um General Comandante de Colégio Militar sendo Ministro da Educação e o fim da doutrinação ideológica pregada por seguidores d Paulo Freire.

E Carlos Bolsonaro também:

Veja este vídeo no YouTube

youtube.com

"O ensino brasileiro, qualquer um percebe que está sendo colocado como uma máquina de produção de analfabeto", diz Carlos no vídeo postado em 2015. "Tudo isso sobre [sic] a tutela do dito professor, o mestre Paulo Freire."

"O que as escolas ensinam hoje em dia? O homossexualismo? Dívida histórica? O incentivo ao fim da meritocracia? Cadê o ensino de qualidade? É óbvio que não está dando certo. É óbvio que algo tem que mudar. O que estamos fazendo na sociedade é transformar pessoas em militantes políticos."

Na campanha à Presidência no ano passado, Bolsonaro usou os ataques contra Paulo Freire como discurso eleitoral:

Ontem o biógrafo de Paulo Freire, Sérgio Haddad, publicou na Folha artigo em que rebate as críticas que o educador vem recebendo de bolsonaristas. Haddad diz que "Freire nunca foi comunista" e "nunca pregou uma educação partidária nas escolas".

Haddad defende que as tentativas de deslegitimar Paulo Freire são "consequência da nova onda conservadora que assola o país".

Reportagem do Nexo mostra que a "Pedagogia do Oprimido" é a terceira obra mais citada no mundo em trabalhos da área de humanas, segundo um levantamento feito por Elliott Green, professor associado da London School of Economics.

De acordo com o levantamento, Paulo Freire é mais referido do que pensadores como Michel Foucault e Karl Marx.

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