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Esta mulher descobriu que seu pai era um torturador — e quer que todos saibam disso

Durante a brutal ditadura na Argentina, milhares de pessoas foram mortas e bebês foram sequestrados dos braços de suas mães. No entanto, hoje, os filhos dos autores desses crimes estão se unindo para denunciar seus progenitores — formando uma nova família.

BUENOS AIRES — Na manhã de 6 de outubro, Erika Lederer chegou ao Juizado Federal Criminal e Correcional 2 na periferia de Buenos Aires para testemunhar em um importante processo sobre crimes contra a humanidade.

Erika compareceu ao tribunal para acusar um médico de ter participado dos chamados voos da morte — quando opositores da ditadura militar que governou a Argentina de 1976 a 1983 eram arremessados de aviões no rio da Prata, que separa o país do Uruguai.

Mas algo tornava as acusações de Erika ainda mais surpreendentes: o médico em questão era seu pai, Ricardo Lederer.

Erika está entre as dezenas de filhos de violadores dos direitos humanos do período — conhecido como a Guerra Suja — que estão lutando para garantir que seus pais paguem pelos crimes cometidos. A maioria veio a público com essas acusações pela primeira vez neste ano. O seu objetivo é duplo: reunir evidências dos crimes cometidos pelos seus pais e alterar a lei que proíbe que filhos testemunhem contra seus familiares.

Essas pessoas viram-se confrontadas por um governo conservador, que quer relegar essa época — seus criminosos e suas vítimas — à história, afirmando que o país precisa seguir em frente. “Se foram 9.000 ou 30 mil [pessoas desaparecidas durante a ditadura]... essa é uma discussão infrutífera”, disse o presidente Mauricio Macri ao BuzzFeed News no ano passado

“Se foram 9.000 ou 30 mil [pessoas desaparecidas durante a ditadura]... essa é uma discussão infrutífera”, disse o presidente argentino no ano passado. 

Desde o fim da ditadura, centenas de violadores dos direitos humanos foram presos por governos com um um perfil mais à esquerda. Porém, agora os legisladores de direita estão clamando por novos julgamentos, alegando que muitos indivíduos foram sentenciados mesmo sem evidências, e pela soltura daqueles com mais de 70 anos de idade.

Essa discussão está dividindo a Argentina, evidenciando o que pode dar errado quando um país não consegue ficar em paz com o seu passado. E isso em um momento no qual o mundo está acompanhando a ascensão de líderes autoritários e a intensificação da retórica militar, servindo de sinal de alerta para o que acontece quando é dado ao Exército poder em excesso.

Hoje com 40 anos de idade, Erika aguardava há décadas o dia em que testemunharia diante do tribunal. Quando ele finalmente chegou, no mês passado, ela resolveu soltar o cabelo para esconder uma tatuagem na base do pescoço onde estava escrito, em grego clássico, “Identidade” e “Liberdade”.

No entanto, Erika não teria mais a oportunidade de encarar seu pai em um tribunal — Ricardo Lederer suicidou-se em 2012, após as autoridades argentinas descobrirem fatos horríveis sobre o papel que ele desempenhou durante a ditadura.

Durante a Guerra Suja, um termo cunhado pelo regime que governava a Argentina na época, centenas de bebês eram sistematicamente roubados de prisioneiras políticas e oferecidos às pessoas próximas da elite governante. Ricardo Lederer, que trabalhava como obstetra na base Campo de Mayo, um dos maiores centros de detenção, tortura e desaparecimentos, assinou a certidão de nascimento forjada de uma criança tomada de seus pais biológicos em 1978 e que foi entregue aos parentes de um oficial do Exército.

Seu pai nunca será condenado pela justiça, mas Erika ainda está convencida de que o julgamento é necessário para que o país siga em frente: “Isso não é legalmente importante, mas é importante pela memória”.

Mesmo com o pai morto, Erika ainda carrega o peso dos seus abusos e acha que deve ajudar as vítimas da Guerra Suja a conseguir o que buscam há mais de 40 anos: justiça.

“Estar aqui me fez bem. Eu me senti como uma mulher muito coerente”, disse Erika ao BuzzFeed News após passar o dia testemunhando sobre os atos do seu pai. “Eu cumpri com a minha palavra.”

Nos dias que antecederam sua aparição no tribunal, Erika foi ficando mais e mais agitada. Quando ela abriu a porta de seu apartamento em Buenos Aires no meio de setembro, suas bochechas e testa traziam as marcas de uma manhã em prantos.

Sentada em sua sala de jantar escura, Erika parecia tensa, suas mãos retesadas em volta de uma caneca com mate, bebida tradicional argentina. A princípio reticente, ela começou a se abrir conforme revelava a história sombria da sua família.

Erika foi concebida durante a viagem de lua de mel dos pais à Córdova, na região central da Argentina, no início do mês de março de 1976. Poucos dias depois, o mundo acompanharia Jorge Rafael Videla, comandante-chefe das Forças Armadas, depondo e prendendo a então presidente, Isabel Martínez de Perón.

A Argentina estava em crise há anos, com guerrilhas radicais de esquerda executando centenas de assassinatos, que Perón tentava impedir com táticas cada vez mais sangrentas. Videla e os demais líderes do golpe anunciaram que derrotariam o que eles chamavam de grupos subversivos. Eles logo expandiram a repressão para incluir estudantes, líderes sindicais e praticamente todos os críticos do governo.

Os próximos sete anos formariam um dos períodos mais violentos da história recente na Argentina. Uma rede de campos de concentração foi estabelecida por todo o país e é possível que até 30 mil pessoas tenham desaparecido nas mãos das forças estatais — muitas durante os voos da morte.

O pai de Erika desempenhou um papel essencial por causa de sua posição na unidade obstetrícia da base Campo de Mayo.

Os filhos passaram anos sem saber dos crimes de seus pais. Olhando de fora, a família Lederer parecia ser exemplar. Os filhos estudavam em uma escola particular alemã, eles tinham uma governanta e frequentemente viajavam para o exterior. As crianças eram comportadas, nunca falavam quando não deviam nem desmentiam os pais, segundo Erika.

Porém, a portas fechadas, o comportamento do seu pai era abusivo, disse ela. Suas memórias mais vívidas da infância incluem as surras e a vigilância autoritária. Na maior parte do tempo, o silêncio tomava conta da casa, afirmou.

A junta continuou com sua brutalidade até 1982, quando a Argentina foi subjugada pela Grã-Bretanha em uma guerra pelas Ilhas Malvinas. Isso ocorreu no meio de uma crise econômica, fazendo com que milhares de pessoas tomassem as ruas em uma “Marcha pela Democracia”, exigindo o fim da ditadura. Os líderes cederam e convocaram eleições em 1983, com a vitória de Raúl Alfonsín devolvendo a democracia à Argentina.

Dois anos depois, a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas criada na Argentina publicou o “Nunca Más (Nunca Mais)”, um relatório incriminador sobre a violação sistemática de direitos humanos pelo Estado durante a ditadura. Videla foi condenado à prisão perpétua pelas violações de direitos humanos, assim como outros líderes da junta.

Erika recorda-se de, na época, folhear o jornal de esquerda Página/12 e encontrar uma história sobre a amizade e a defesa feita pelo seu pai de Ramón Camps, o cruel chefe de polícia de Buenos Aires.

Erika passou a ter muita vergonha do seu sobrenome, mas logo compreendeu que a família deveria manter um pacto de silêncio sobre os crimes do pai. “Um silêncio como o associado ao abuso sexual paira sobre essas famílias”, afirmou.

“Um silêncio como o associado ao abuso sexual paira sobre essas famílias.”

O conflito interno na família Lederer refletia-se pelo país inteiro. Incapaz de concordar sobre uma versão em comum do que havia acontecido e de quem era o responsável, o país mergulhou em um bate-boca interminável entre aqueles que queriam ver os criminosos julgados e aqueles que queriam que os culpados fossem discretamente absolvidos e que o passado fosse varrido para baixo do tapete. O debate continua a polarizar o país até hoje.

Em uma reviravolta que estarreceu as vítimas da ditadura, Alfonsín promulgou a Lei de Ponto Final em 1986, que basicamente anistiava muitos torturadores. Apenas quatro anos depois, até mesmo Videla foi perdoado e solto, com o governo alegando que isso permitiria que o país deixasse para trás esse período sombrio de sua história.

Em casa, Erika era proibida de discutir os crimes de seu pai. Não demorou muito para que ela simplesmente parasse de falar, em vez disso procurando conforto nas palavras de Immanuel Kant e Albert Camus — um ato de rebeldia, já que seu pai a havia proibido de estudar filosofia.

Erika recorda-se da fúria do pai quando ele descobriu um jornal trotskista em seu quarto e deixou todos os móveis de cabeça para baixo procurando outros materiais socialistas. Quando ela chegou em casa e viu o que havia acontecido, ligou para o seu namorado e disse: “Pedro, eles vão me matar”.

Com vinte e poucos anos, Erika fugiu para um quartinho alugado e nunca mais voltou para casa.

A ditadura havia desaparecido há muito tempo, mas ela ainda carregava suas cicatrizes, assim como muitos argentinos. Hoje, a advogada e mãe de duas crianças diz que ainda ama o seu pai, mas que nunca o perdoará.

“Eu não posso deixar a minha infância de lado”, ela disse, “mas se eu pudesse olhar em seus olhos outra vez, pediria a ele lembranças, verdade e justiça.”

Até mesmo o seu nome é motivo de mágoa: ela acredita que recebeu o nome Erika dos pais por causa de uma flor mencionada em uma canção militar nazista.

Nos anos após o fim da ditadura, o país frequentemente mudava bruscamente de rumo. O presidente Néstor Kirchner, de esquerda, e sua esposa, Cristina, posteriormente, fizeram dos julgamentos de crimes contra a humanidade a política definidora de suas administrações. “Não é rancor ou ódio o que nos guia e me guia, é a justiça e a luta contra a impunidade”, disse Néstor Kirchner em 2004 a parentes de pessoas desaparecidas. “Cabe a nós nunca mais permitir que as trevas reinem novamente em nossa pátria.” No total, pelo menos 750 pessoas foram condenadas entre 2006 e março de 2017.

Mas quando Mauricio Macri assumiu a Presidência, em 2015, o foco novamente foi alterado. Macri vem de uma família rica e conservadora e defende que é hora de deixar para trás o debate sobre o que aconteceu durante a ditadura.

Em maio, a Suprema Corte decidiu favoravelmente a uma lei que permitiria que a maioria dos violadores de direitos humanos fossem soltos. A lei 2x1, promulgada em 1994, mas revogada inicialmente em 2001, definia que o tempo passado na cadeia antes da condenação deveria ser contado em dobro para o total da sentença. Foi a primeira vez que a lei, agora ressuscitada pela Corte, foi aplicada a um caso de direitos humanos. Isso gerou uma onda de petições de outros membros condenados da ditadura, querendo sair da prisão.

Quando ficou sabendo disso, Erika entrou em pânico. “Ficamos aterrorizados quando pensamos que esses assassinos poderiam voltar para casa, porque sabíamos o que eles faziam dentro de casa”, afirmou.

Dias depois, milhares de pessoas lotaram uma das principais praças de Buenos Aires para exigir que a decisão fosse derrubada. Algo estava claro: em 2017, mais de 40 anos após a eclosão da Guerra Suja, a divisão entre os argentinos ainda era extremamente desestabilizadora, com a busca por justiça permanecendo quase tão controversa quanto era na década de 80.

Mas o que é justiça? E quem decide quando ela foi alcançada?

Durante décadas, Erika lutou contra os seus demônios sozinha. Ela tinha certeza de que mais ninguém entenderia a dificuldade de carregar um sobrenome odiado.

Isso é, até ela encontrar Analía Kalinec.

Como Erika, Analía também cresceu filha de um membro da junta, desconhecendo o quão envolvido seu pai estava nesses crimes. Mas havia uma grande diferença: o pai dela, Eduardo Kalinec, criara um refúgio seguro e acolhedor para sua família no meio da desordem do país.

Essa bolha, como tantas outras do período, eventualmente estourou. Em 2005, Analía recebeu uma ligação da mãe. Seu pai está na cadeia, disse. Conhecido como “Doutor K”, seu pai estava sendo acusado de sequestro, assassinato e tortura.

Analía tinha certeza da sua inocência. Como poderia seu pai, carinhoso como era, ser também um torturador? Ela o visitou na cadeia, certa de que a injustiça logo seria corrigida.

Mas havia inconsistências na história do seu pai e algo parecia errado. “Uma parte de mim sabia, inconscientemente, da existência de algo que eu ainda não tinha ciência”, afirmou. Com o decorrer das audiências públicas, ela reconheceu que seu pai provavelmente teve participação na violenta repressão. Quando perguntou ao pai sobre as vítimas, “ele ficou incomodado e disse que na verdade não foram 30 mil”.

“Eu espero que um dia, quando você olhar para seus netos e eles o abraçarem, ao vê-los crescerem, beijá-los, possa pensar em todos aqueles avôs e avós que não poderão fazer isso”, escreveu Analía para o pai em 2008.

“Eu espero que um dia, quando você olhar para seus netos... possa pensar em todos aqueles avôs e avós que não poderão fazer isso.”

“Espero que um dia você possa dizer a eles que está arrependido”, acrescentou. “Amo você, pai, e é por isso que estou escrevendo.”

O Doutor K foi condenado à prisão perpétua em 2010. A divisão do país novamente estava espelhada na família Kalinec. Analía insistia em questionar seu pai sobre seus crimes, e por isso ela foi acusada de traição e deserdada da família. “Segundo minha família, os alienígenas me abduziram e fizeram uma lavagem cerebral em mim”, disse.

Ela foi tomada por uma profunda sensação de perda e de abandono. No entanto, encontrou algumas fontes de alívio. Uma delas era escrever. No ano passado, Analía criou uma página no Facebook chamada “Histórias Desobedientes com Erros de Ortografia”, na qual escreve sobre o tenso relacionamento com seu pai. Era um lugar onde filhos de “criminosos de guerra” podiam lutar por “lembranças, verdade e justiça”, escreveu.

Na mesma época, ela havia começado a se encontrar com filhos de violadores de direitos humanos e suas vítimas que, assim como ela, tiveram suas histórias contadas em um livro que acabara de ser publicado chamado "Hijos de los 70" [Filhos da década de 70, em tradução livre].

Um amigo em comum sugeriu que Analía e Erika se conhecessem. As duas se encontraram em um bar no centro de Buenos Aires em maio.

“Nós nos abraçamos. Rimos e choramos. E nunca mais nos largamos”, narrou em um post na página no Facebook do “Histórias Desobedientes”. “Nós nos vemos como uma irmandade formada por um pai genocida que nos magoou e nos forçou à reconstrução.”

Elas formaram um grupo de filhos de violadores de direitos humanos. Inicialmente formado por seis membros, o grupo se reuniu para tratar do seu posicionamento político e determinar os requerimentos para novos membros. Eles também buscavam entender de que maneira os sobrenomes manchados de sangue afetavam as suas identidades.

Em poucos dias, o grupo já contava com quase 40 pessoas. Ele havia se tornado uma família substituta para aqueles que haviam sido deserdados por denunciarem os pais.

Um almoço incomum reuniu muitos deles. Organizado por dois filhos de pessoas desaparecidas, o evento reuniu argentinos dos dois lados da discussão que tomava o país em uma aula de ioga e uma sessão de música improvisada. Em determinado momento, diversos convidados formaram uma constelação familiar, um método terapêutico no qual algumas pessoas fazem as vezes de parentes para descobrir traumas que remontam a várias gerações passadas.

E no evento estava Anibal Guevara. Anibal, 34 anos, é filho de um ex-tenente que cumpre pena por seu auxílio no desaparecimento dos inimigos do governo. Ele é parte do grupo “Puentes Para La Legalidad" [Pontes para a Legalidade], que afirma que os julgamentos dos seus parentes estão repletos de ilegalidades e por isso demandam sua libertação.

Anibal disse que seu pai deve pagar pelos seus erros, mas atribuiu a maior parte da responsabilidade a uma sociedade que ensinou um menino de 13 anos — seu pai — sobre “subordinação e coragem” no colégio militar e que não compreendeu o porquê de ele não questionar as ordens cruéis dos seus superiores décadas depois.

“Tudo isso despertou tantas emoções. Há uma tensão porque todos estamos escolhendo com muito cuidado nossas palavras o tempo todo”, contou Anibal, um jovem músico de olhar inocente, ao BuzzFeed News em um café de Buenos Aires. “Sempre tomamos cuidado com o que dizemos, porque qualquer coisa dita pode magoar outra pessoa.”

Ainda assim, Anibal disse que encontros como esse são necessários para que o país comece a reparar a fratura criada nos anos 70. “Do lado de fora, tudo parece preto e branco. As nuances só ficam visíveis quando você se aproxima”, afirmou.

Mas alguns membros do “Histórias Desobedientes” ficaram preocupados com a presença de Guevara no encontro. Eles acharam que um artigo posteriormente publicado na revista "Anfibia" sobre o encontro era parte de uma estratégia oficial para impulsionar o discurso de Macri de que a sociedade estava se curando e que o país estava virando essa página.

Erika, em particular, estava determinada a ficar o mais longe possível de Anibal, a quem via como um intruso, e eventualmente saiu do grupo. “Eles eram minha família“, disse ela. “Novamente, fiquei sem família.”

O apartamento de Erika está repleto de livros, dispostos organizadamente em estantes, enfiados em livreiros e empilhados perto da mesa de jantar.

Quando questionada se seu sobrenome ainda é um peso, Erika passou um tempo em silêncio. Ela pegou um livro de capa mole fino e amarelado de uma das estantes e folheou as páginas até encontrar o que procurava.

“O que é um rebelde? Um homem que diz não. Mas, ao dizer não, não renuncia”, leu do livro “O Homem Revoltado”, de Albert Camus. “Um escravo, que recebeu ordens durante
toda a sua vida, julga subitamente inaceitável um novo comando.”

Ela leu lentamente, pesando cada palavra. Afinal, disse, essas foram as palavras que a ajudaram a criar coragem para denunciar seu pai.

Erika sabe o quão poderosas as palavras podem ser. Ela acredita que a grande mídia argentina está tentando mudar o modo como a ditadura é vista levantando novamente a “teoria dos dois demônios”, um argumento que distribui igualitariamente a responsabilidade moral entre os grupos de guerrilha e o Estado.

Um editorial mordaz do jornal "La Nación", publicado um dia após Macri ter sido eleito presidente, em novembro de 2015, afirmava que não havia como “dialogar com aqueles que semearam a anarquia no país e destruíram vidas”, referindo-se às guerrilhas de esquerda. Além disso, o jornal acusava os Kirchner de utilizar os direitos humanos como arma política e clamou pelo fim da “vingança” defendida pelas administrações anteriores.

“Do lado de fora, tudo parece preto e branco. As nuances só ficam visíveis quando você se aproxima.”

O editorial detonou uma guerra de palavras. Grupos conservadores chamam o período de “Guerra Suja”, afirmando que havia dois lados no conflito, referindo-se ao Estado e aos rebeldes de esquerda que usavam explosivos para matar seus oponentes. Outros descrevem o ocorrido como um genocídio, com um governo repressor massacrando vítimas indefesas.

“Houve uma campanha orquestrada para modificar os termos históricos e criar uma nova história”, disse Erika.

Ela vê ecos do passado no caso de Santiago Maldonado, um ativista que desapareceu em agosto em um protesto que foi violentamente reprimido pelas forças de segurança. Representantes do governo suscitaram dúvidas sobre a presença de Maldonado no protesto.

O caso chegou às manchetes do país pouco antes das eleições legislativas. Cristina Kirchner, que estava concorrendo a um cargo no Senado, fez do desaparecimento de Maldonado um solgan de campanha, advertindo que isso era um eco da ditadura.

Enquanto milhares de pessoas se reuniram em setembro para protestar contra o desaparecimento de Maldonado, Macri fez algo que muitos criticaram como uma zombaria: ele postou no Facebook fotos suas em uma sorveteria.

O corpo de Maldonado foi descoberto no mês passado.

Com a anuência de um governo que aparenta não ter tanta intenção de punir os infratores, diversos generais foram transferidos de prisões comuns para a base militar Campo de Mayo, onde eles torturaram prisioneiros 40 anos atrás. Após uma inspeção na área onde eles estão sendo mantidos, um dos membros da Procuradoria de Direitos Humanos afirmou que as condições são ideais para uma fuga.

Erika disse que continuará a lutar para manter os responsáveis pelos horrores da ditadura na prisão, custe o que custar. “Passaram-se 40 anos, mas as feridas ainda estão abertas”, afirmou.

Colaborou Erica Canepa, de Buenos Aires.

Este post foi traduzido do inglês.

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